A maioria dos documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana com referência a François Hollande tem expressões que revelam o caráter ultrassensível da informação, conta o site Mediapart, um dos responsáveis pela divulgação dos documentos. Uma delas é “Foreign Satellite”, que indica que a interceção telefónica foi obtida recorrendo a equipamento não americano.
“Hoje, todas as suspeitas sobre o equipamento envolvido recaem sobre os satélites alemães, embora ainda não haja provas disso”, lê-se no artigo.
Expressões como “SI de SIGINT” e “NF de NOFORN” referem-se a a dados que são obtidos através de sinais eletrónicos e que não devem ser partilhados com nenhum país estrangeiro. O termo “não convencional” também aparece para informar que os dados foram obtidos através de operações não convencionais.
Nos últimos meses, vários órgãos de comunicação social noticiaram a forma como os serviços de inteligência alemães (BND), levaram a cabo operações de espionagem em nome dos americanos. As revelações já levaram a um inquérito parlamentar na Alemanha.
Além dos telefones de Hollande, Nicolas Sarkozy e Jacques Chirac, também os de Pierre Moscovici (ex-ministro da Economia e atualmente comissário europeu) e do ex-embaixador francês em Washington D.C. foram espiados. A juntar à listagem, estão os telefones dos consultores do governo para África, dos ministérios da Agricultura e das Finanças, bem como a antena do centro de transmissão governamental, que assegura a continuidade das comunicações governamentais. Outra das referências é a da linha utilizada pela frota do governo francês de aeronaves, gerida pela Força Aérea Francesa.
O telemóvel pessoal de François Hollande também esteve sob escuta, bem como os do conselheiro diplomático presidencial Jean-David Levitte, o secretário-geral do Palácio do Eliseu, Claude Guéant, o porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros Bernard Valero, um indivíduo não identificado que pertence ao ministério dos Negócios Estrangeiros, e Pierre Lellouche, ministro dos Negócios Estrangeiros.
A Casa Branca veio anunciar que não era seu objetivo intercetar as comunicações do presidente francês. “Nós não temos e não vamos ter como alvo as comunicações do presidente François Hollande”, referiu Ned Price, porta-voz da Agência Nacional Americana (NSA), acrescentando que a agência não efetua espionagem a estrangeiros, a não ser que haja um propósito de segurança nacional específico e validado.
“Trabalhamos muito proximamente com França em todas as matérias de interesse internacional e os franceses são parceiros indispensáveis”, revelou
O Governo francês também já considerou “inaceitável a espionagem entre aliados”, depois de o diário Libération e o sítio na Internet Mediapart terem revelado os documentos disponibilizados pela WikiLeaks. “A França e os Estados Unidos são frequentemente aliados no mundo em nome da democracia e da liberdade. Uma tal ação claramente não é aceitável nem compreensível”, disse à i-Télé o ministro da Agricultura e porta-voz do governo, Stéphane Le Foll.
As declarações de Stéphane Le Foll tiveram lugar em Paris, antes da reunião de emergência convocada por François Hollande com os principais ministros e responsáveis da Defesa do país.
Informações divulgadas na terça-feira revelaram que a NSA lançou uma “grande operação” para espiar três chefes de Estado franceses e colaboradores próximos como diplomatas ou chefes de gabinete, tendo espiado, pelo menos entre 2006 e 2012, os três últimos presidentes franceses, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.
Os documentos, classificados como top secret, consistem em cinco relatórios da agência de informações norte-americana NSA, baseados em “interceções de comunicação”, que eram destinados à “comunidade das informações” dos EUA e a dirigentes da NSA, segundo o Libération.
Os relatórios são provenientes de um serviço identificado como ‘Summary Services’, isto é, ‘o serviço das sínteses’. Sem revelações particularmente embaraçantes, esclarecem porém o modo de funcionamento e tomada de decisão de Hollande e dos seus antecessores.