Roma caiu em desgraça. As estradas esburacadas não são asfaltadas, o aeroporto principal só funciona a meio gás, há scotters estragadas e abandonadas nas ruas, relva por cortar. O desemprego jovem não desce, as dívidas e a corrupção não param de vir a público. No limite, nem as temperaturas – que treparam esta semana para lá dos 37 graus – têm ajudado a apaziguar a vida diária.
A crise abateu-se sobre a cidade, numa altura em que o país se confronta com uma das recessões mais longas desde a segunda guerra mundial. O alerta tem sido dado pelos empresários de Roma, mas os residentes também se queixam. Com escândalos de corrupção e de dívidas a aparecer a cada dia, além da crescente crise de imigração, Roma está a entrar em decadência.
Os problemas chegam de várias frentes. São os trabalhadores do metro que exigem melhores salários e condições e que protestam pela cidade em marcha-lenta, os voos cancelados porque um dos terminais do aeroporto de Fiumucino ainda não abriu depois de um incêndio, em maio. Ou a taxa de desemprego jovem que não desce dos 40%, ao mesmo tempo que cada vez mais pessoas são desajoladas e vão parar às ruas.
“Roma está à beira do colapso. É inaceitável que uma cidade que se intitula desenvolvida esteja tão decadente”, alerta à Reuters Giancarlo Cremonesi, presidente da Câmara do Comércio de Roma.
Há dois anos, Roma ocupava a última posição, entre 28 capitais, no ranking de eficiência dos serviços da cidade, de acordo com as estatísticas da Comissão Europeia.
Ninguém nega que Roma tem qualidades. A gastronomia e o café saltam logo para o topo da lista, mas não são os únicos. O clima é outras das atrações e, no índice de qualidade de vida, por exemplo, a cidade está em segundo lugar (Atenas está em último). Depois há, claro, a História: os monumentos, as ruelas típicas ou as praças que se estendem pela cidade. O turismo não sofreu decréscimo, mas por trás das atrações para estrangeiros, os residentes vivem numa cidade em crise.
Nick Squires, jornalista do Telegraph, conta que a cidade está suja porque não há caixotes do lixo suficientes, e que muitos ciganos construíram pequenas aldeias nas margens do rio Tibre, onde agora estão barracas camufladas pelas moitas. O esquema de partilha de bicicletas de que Roma tanto se orgulhava, também caiu por terra: muitas foram roubadas e as que restam estão estragadas: “Tem piorado imenso nos últimos anos”, explica aquele jornal Costanza Cagni, residente em Roma há dez anos e que pensa abandonar a cidade.
Mafia Capitale
No início do ano, a cidade viu rebentar um escândalo de corrupção, uma das explicações para os serviços públicos serem ineficientes. Os negócios entre vários políticos locais e associações criminosas, que se serviam das empresas públicas para lavar dinheiro, contribuíram para os problemas da recolha de lixo ou para a má gestão dos refugiados que chegam à cidade.
A investigação conhecida por Mafia Capitale mostra que a cidade está a ficar à mercê de grupos de crime organizado.
Esta quarta-feira, a polícia italiana invadiu um restaurante junto ao Panteão, por suspeitar que é controlado por um grupo da máfia calabresa, o ‘Ndrangheta. A ligação, de anos, entre governos e associações criminosas, tem estado a destruir a cidade, quer em termos de gestão administrativa como financeira.
Ignazio Marino, o atual presidente da cidade, admitiu numa carta aberta enviada para o jornal “Corriere della Sera”, que a administração pública de Roma estava “podre” e afiança que está a tentar implementar “reformas profundas e radicais”. O caminho não é fácil, é esperar para ver.