Vitor Tito, o publicitário que nega ter feito os cartazes do PS que causaram polémica nos últimos dias, não é novo na relação quer com o PS quer com António Costa. A empresa de publicidade de Tito obteve, entre 2008 e 2014, contratos na ordem dos 836 mil euros com a autarquia lisboeta quando Costa era presidente, o que significou mais de metade da faturação nesses anos da sua empresa em contratos com entidades públicas.
Agora, o publicitário recusa a ligação da empresa com a campanha polémica dos cartazes socialistas. Mas no PS são várias as fontes que indicam que terá sido ele mesmo, Vitor Tito, a título individual (e não através da empresa, daí que as suas declarações não o comprometam), a oferecer os serviços ao partido para a elaboração da segunda série de outdoors que o PS pôs nas ruas (a dos rostos com frases).
O nome do especialista em marketing e publicidade saltou para as páginas dos jornais depois de ter sido apontado como o criativo responsável pelos cartazes do PS que deram polémica. Ao Observador, o publicitário recusou a ligação da empresa ao partido, mas nunca mencionou não o ter feito a título pessoal. “[A BBZ] nunca faturou um cêntimo a qualquer organização política ou partidária” por considerar que esse não é o “core business” da empresa e porque acredita que uma eventual conotação político-partidária “poderia ter um prejuízo objetivo” na “atividade empresarial”, explicou Tito.
A realidade é no entanto diferente. A relação entre Tito e o poder político – nomeadamente com os socialistas – não é nova. A empresa BBZ mantém relações de longa data com entidades públicas, e isso é evidente quando se reveem os contratos que teve com a Câmara de Lisboa.
De acordo com os dados do Portal BASE (o portal dos contratos públicos online, que indica todos os registos desde 2008), entre 2008 e 2014, período em que António Costa foi presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a empresa do publicitário Vitor Tito, a BBZ, recebeu mais de 836 mil euros da autarquia lisboeta em contratos. O que representou cerca de metade dos contratos celebrados pela empresa com entidades públicas (16 em 35) e mais de metade da faturação da empresa de publicidade em contratos com empresas públicas (836 mil euros em 1,6 milhões). No portal estão também registados contratos com alguns ministérios do anterior Governo PS, dois com o atual Governo, dois com Câmara de São João da Madeira e um com a Câmara Municipal do Porto.
Segundo uma fonte socialista contactada esta segunda-feira pelo Observador, a ligação do publicitário ao PS aconteceu também na campanha de Manuel Pizarro à Câmara Municipal do Porto, nas eleições autárquicas de 2013 – mas aí sem a marca da sua empresa e sim a título pessoal (como agora terá acontecido). Uma fonte que acompanhou a campanha portuense garantiu que Vitor Tito foi mesmo o responsável pelo marketing socialista nos meses finais: “Fez a campanha [de Manuel Pizarro] no Porto. Chegou e disse que a oferecia”.
A colaboração entre Costa e Tito, no entanto, vem de longe. Na página da empresa é possível encontrar uma campanha criada em 2000 que servia de sensibilização para as reformas judiciais que estavam a ser aplicadas pelo Ministério da Justiça, então tutelado por António Costa.
Mais tarde, em 2012, e já quando Costa era líder da câmara de Lisboa, a BBZ foi responsável pela criação da campanha “Não há volta a dar”, que recriava cenas famosas de comédias do cinema português, como o Pátio das Cantigas ou a Canção de Lisboa, para sensibilizar os lisboetas para a gestão dos resíduos urbanos e limpeza pública na capital. Custou então 157.642 euros à autarquia.
Face a estes dados, o Observador enviou novas perguntas ao publicitário esta segunda-feira, tentando saber se, a título pessoal, Vítor Tito terá oferecido colaboração à campanha socialista. Mas não obteve resposta até ao momento da publicação deste texto.
De igual forma, o Observador voltou também a questionar o PS sobre a autoria dos cartazes (até aqui o PS limitou-se a dizer que estes não eram de Edson Athayde) – e sobre se mantém algum tipo de contrato com o publicitário. Mas o PS dá o “assunto por encerrado”, recusando responder a mais perguntas sobre o assunto.
A polémica dos cartazes
Tudo começou quando o Observador publicou na sexta-feira um artigo em que revelava que as histórias que apareciam nos cartazes do PS não batiam certo com os rostos neles representados. A jovem com quem o Observador conversou, Maria João Pinto, garantiu não só que a história tinha sido fabricada como dizia não ter dado autorização para a utilização da sua imagem.
Os cartazes surgiram nas ruas depois de os primeiros terem sido bastante criticados, mesmo dentro do PS. Esses primeiros outdoors tinham um grafismo demasiado New Age e colocaram, segundo foi noticiado na altura, a relação entre o PS e o publicitário Edson Athayde em cheque. Perante a pouca aceitação dos cartazes desenhados por Athayde, surgiram os segundos, de autor desconhecido que os socialistas dizem ser de Tito. Mas a segunda série de cartazes também começou (e acabou?) da pior forma. Primeiro com uma frase de uma desempregada que tinha perdido o trabalho ainda no tempo de Sócrates e depois com a polémica das histórias falsas.
Depois da notícia do Observador, Ascenso Simões, então diretor da campanha socialista, demitiu-se e foi substituído no cargo por Duarte Cordeiro.