O antigo primeiro-ministro e líder do PSD Pedro Santana Lopes, atual provedor da Santa Casa da Misericórdia, anunciou esta quinta-feira que não será candidato à Presidência da República, convicto que Marcelo Rebelo de Sousa será o candidato da direita. Pressão para definição de Rui Rio aumenta.
“Não serei candidato à Presidência da República nas próximas eleições. Tomei esta decisão, considerando os meus deveres enquanto Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e, também, as minhas responsabilidades profissionais“, justifica Santana Lopes, em comunicado enviado à Lusa, invocando os fracos resultados que tem obtido nas sondagens. “Deixar a divulgação desta decisão para depois de 4 de outubro nunca permitiria esclarecer uma provável dúvida desse teor“, sublinha, acrescentando que seja a decisão negativa “em nada perturba, nem mistura, só clarifica”.
Segundo soube o Observador, o ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD está convencido que Marcelo Rebelo de Sousa deverá avançar na corrida presidencial. Embora este nome não seja consensual dentro da direção do PSD, será o que mais unirá o eleitorado da direita e do centro.
O comunicado apanhou de surpresa alguns dirigentes do PSD que consideraram ao Observador “positivo” que Santana tenha posto fim ao tabu, de maneira a que as atenções estejam mais centradas nas eleições legislativas. A algumas pessoas mais próximas, Santana ligou momentos antes de enviar o comunicado para a agência Lusa.
Há duas semanas, o professor catedrático de Direito deu uma entrevista ao DN que foi vista como um dos sinais que a candidatura está em marcha. “Já perguntei aos filhos e netos o que pensam sobre as presidenciais”, titulava o DN. Nessa conversa, Marcelo curiosamente fazia um elogio ao rival Rui Rio. “Olhando para as alternativas a Passos Coelho, com exceção de Rui Rio, não há nomes que sejam comparáveis com Pedro Passos Coelho em termos de atividade político-partidária”, considerava, empurrando o autarca para o PSD em vez da estrada para Belém.
Santana Lopes, de 59 anos, tem ponderado uma candidatura presidencial e já defendeu que o candidato da direita avançasse antes do verão. Depois mudou de ideias e veio defender um timing de candidaturas para depois das eleições legislativas de 4 de outubro. O ex-líder do PSD considerou mesmo que estas eleições presidenciais deverão ser a duas voltas, algo que não acontece desde os anos 80, dada a grande probabilidade de haver vários candidatos da área do PSD mas também do PS.
À direita, os candidatos que espreitam são o ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa e o ex-autarca do Porto, Rui Rio. À esquerda, já está no terreno o ex-reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa, o ex-deputado do PS, Henrique Neto, e a deputada socialista Maria de Belém Roseira já anunciou em comunicado que irá apresentar a sua candidatura.
Esta quinta-feira, o jornal i noticiava que Rio Rio estava a ser aconselhado a não anunciar a sua candidatura em setembro e esperar pelas legislativas, para candidatar-se ao lugar de Passos se este perder as eleições. “Com Marcelo, Rio corre um risco imenso de se candidatar e não passar à segunda volta, o que seria humilhante”, comenta um ex-dirigente social-democrata.
Os apoiantes de Rui Rio, contudo, têm passado os últimos dias a tratar de garantir apoios financeiros para a candidatura e a convidar pessoas para uma comissão executiva. Com o comunicado de Santana, a pressão para que o ex-autarca do Porto tome rapidamente uma decisão é agora grande.
“Felicidades” a Marcelo e Rio
No comunicado, Santana, que pede para o seu nome deixar de ser incluído em futuras sondagens e estudos de opinião, sublinha que existem “outros dois candidatos anunciados” na sua área política, numa referência implícita a Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio, e que um deles – o comentador político da TVI – já garantiu “que nada o impedirá de ser candidato, nem sequer a apresentação de outros candidatos na mesma área política”.
“Por outro lado, a generalidade dos estudos de opinião, sendo lisonjeiros, não me coloca numa posição cimeira, o que diminui o meu dever”, refere, no comunicado enviado à Lusa, acrescentando que sempre disse que “não correria por correr” e que apenas iria a votos se tivesse “fortes possibilidades” de vencer as presidenciais.
O ex-primeiro-ministro sublinha que nunca teve receio de disputar eleições e que já recuperou de grandes desvantagens em sondagens: “Só que a questão não é de coragem, mas sim a da noção do dever maior”. “E o meu dever maior é com os projectos que estou a desenvolver na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e que quero mesmo concretizar, ao longo deste segundo mandato, por serem cruciais para muitos que sofrem”, disse.
Santana Lopes realçou ainda a dificuldade de tomar esta decisão, sobretudo quando “há 36 anos, de um modo ou de outro, se estuda, se lida, se investiga, se publica, se trabalha sobre a função do Presidente da República no nosso sistema de governo e, de vários ângulos, se lidou com o desempenho da Suprema Magistratura da Nação”.
“Desejo felicidades a quem tomar a decisão de ser candidato à Presidência da República, muito especialmente, como se compreenderá, aos dois que estão anunciados no espaço político a que também pertenço”, termina, na nota.