Mesmo que de forma indireta, o caso de José Sócrates foi este sábado arma de arremesso entre PS e PSD. Tudo começou com palavras de Paulo Rangel, que, não referindo o nome do ex-primeiro-ministro, deixou a dúvida: “Alguém acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro-ministro sob investigação?”. Pergunta lançada, achas na fogueira de uma campanha extremada. O PS não gostou e pediu explicações ao primeiro-ministro. Mas este já tinha falado e tinha desviado o assunto do caso José Sócrates para a perceção que se tem da justiça.
“Estas declarações [as de Paulo Rangel] constituem, em si mesmo, uma ofensa ao sistema judicial. E não contribuem em nada para que o debate pré-eleitoral decorra com elevação. São afirmações de uma gravidade extrema, que não podem passar em vão. O que o PSD está a tentar é partidarizar a justiça. É disso que se trata. E digo o PSD, porque esta afirmação não foi proferida por uma pessoa qualquer, foi-o por uma figura de referência do partido e foram proferidas num ambiente institucional, como é o da Universidade de Verão do PSD”, disse Francisco Assis, numa reação marcada pelo PS para o Porto.
Assis, em nome do PS, exigiu a Passos Coelho que se pronuncie e tome uma posição sobre este tema que vem “poluir o debate democrático”. Concorda ou não com Rangel? “Perante tudo isto, é preciso confrontar Passos Coelho. Ele tem que dizer se se reconhece ou se se demarca deste tipo de intervenção política. Não pode haver meias tintas. Exige-se uma demarcação clara. Os portugueses têm que saber se Passos Coelho concorda e aceita participar numa acção clara de partidarização do sistema judicial em Portugal”, atirou.
O PS, garante Assis, não alinhará neste tipo de discurso, até porque o partido tem tentado desde a primeira hora demarcar o caso que envolve o ex-primeiro-ministro socialista da campanha para as legislativas: “Este é um discurso político que é uma teoria da conspiração. O PS sempre soube, e tem-no feito com António Costa, separar os domínios da justiça e da política. É uma ofensa ao principio da separação de poderes, que polui o debate democrático. Não vamos entrar no jogo que Paulo Rangel quer que nós entremos. Não é o PS nem ninguém do PS que está em causa: é o estado de direito”.
Bem antes da reacção de Assis, e pouco depois de Rangel falar na Universidade de Verão social-democrata, a guerra alastrou-se às redes sociais. A cabeça de lista do Partido Socialista por Viseu, Maria Manuel Leitão Marques, foi crítica para com o eurodeputado do PSD, acusando-o de ser “demagogo” quando este sugere que António Costa não tem um programa de governo.
Foi por poucos minutos que se desencontram. Assis pediu explicações a Passos. E o primeiro-ministro deu-as… antes de Francisco Assis falar. Pedro Passos Coelho não disse, no entanto, se concordava ou não com Paulo Rangel, como exigia Assis. De visita à feira agrícola AGRIVAL, em Penafiel, e questionado pelos jornalistas sobre as declarações de Rangel, Passos preferiu generalizar, negando-se a falar de casos concretos. “Os portugueses avaliam a justiça de uma forma mais positiva do que no passado”. Sobre Rangel, vê nele um “observador atento”. Passos disse ainda que “há hoje uma avaliação mais positiva do funcionamento dos órgãos judiciais”, rematando: “Não há uma sociedade de confiança sem que a justiça funcione”.