O presidente da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC), Ricardo Ângelo, acusou hoje o primeiro-ministro de “desonestidade intelectual” devido às suas declarações sobre o problema dos lesados, exigindo que o Governo assuma a sua responsabilidade política.

“Ele [Passos Coelho] tem que assumir a responsabilidade política direta sobre este assunto”, afirmou à agência Lusa o líder da AIEPC, considerando que “o primeiro-ministro, a ministra das Finanças e o Governo reforçaram publicamente a confiança e a tranquilidade na instituição que era o Banco Espírito Santo (BES), o Grupo Espírito Santo (GES) e as suas empresas”.

E reforçou: “Portanto, ele tem todas as responsabilidades nesta fraude e neste caso que é gravíssimo”.

Ricardo Ângelo insistiu que Passos Coelho “primeiro tem que assumir a responsabilidade política e depois há a questão da desonestidade intelectual, porque ele está a empurrar as pessoas sabendo que elas nunca vão receber o seu dinheiro em tempo útil”.

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O presidente da associação dos lesados do papel comercial do GES que foi vendido aos balcões de retalho do BES e não foi reembolsado reagiu às declarações hoje feitas por Passos Coelho, em Braga.

O governante garantiu que está disponível para organizar uma subscrição pública para auxiliar os lesados do papel comercial do GES sem recursos económicos a recorrerem aos tribunais.

“Relativamente ao que ele [Passos Coelho] hoje falou, das pessoas irem diretamente para tribunal, nós achamos que é intelectualmente desonesto enviar pessoas de 70 anos para tribunal sabendo que eles, Governo, nada fizeram para criar um sistema judicial eficiente”, afirmou Ricardo Ângelo.

E acrescentou: “E ele sabe perfeitamente, juntamente com a ministra das Finanças, que eles nunca poderão usufruir das suas poupanças em tempo útilo de vida. Isso é uma situação gravíssima”.

A AIEPC quer ser ouvida “diretamente” pelos governantes “para explicar todo o caso, porque parece que o Governo está tremendamente mal informado”.

Segundo o responsável, “o Governo empurra sempre para o Banco de Portugal, porque isto é um caso de reguladores. Não, isto é um caso político”.

Ricardo Ângelo sublinhou que “o Governo incentivou as pessoas”, considerando que se o executivo e o Banco de Portugal os tivessem “alertado a tempo, as pessoas poderiam ter resgatado as suas poupanças a tempo”.

Para o líder da associação dos lesados, “o Banco de Portugal sabia da falência das empresas, sabia das contas falseadas, e criou uma provisão para protelar uma solução para tranquilizar as pessoas em vez de as alertar sobre isso”.

Esta situação afeta cerca de 2.500 subscritores de papel comercial, cujo valor ultrapassa os 500 milhões de euros, pelo que Ricardo Ângelo realçou que “o primeiro-ministro tem que deixar de ouvir só o Banco de Portugal e informar-se da realidade dos factos”.

“Ele fala que nós comprámos dívida de empresas do GES, é verdade, mas ele não fala que essa dívida foi assumida pelo BES em vários comunicados e através de uma provisão. O tema GES é para ser esquecido. Nós somos credores do BES, como juridicamente já está provado”, assinalou.

E considerou que a posição assumida por Passos Coelho, que apontou o facto de os clientes do BES terem subscrito papel comercial de empresas do GES e não do banco “é de um artificialismo jurídico tremendo, pois em 2012 e em 2013 ninguém sabia distinguir o BES do GES”.