Foi a 29 de junho de 2014 que o auto-proclamado Estado Islâmico (EI) declarou o surgimento de um califado nos territórios do Iraque e da Síria. A fonte de financiamento do grupo extremista chegou, antes de mais, de milionários sauditas, qataris e kuwaitianos.
Mas rapidamente o EI encontrou novas atividades para se financiar, como a tomada de explorações petrolíferas nestes países – e posterior venda do crude no mercado negro –, ou o assalto aos bancos do Iraque e na Síria. Mas também se financiava pela cobrança de impostos (que, no caso dos funcionários públicos iraquianos, significava a retirada de 50 por cento dos seus ordenados) aos oito milhões de habitantes do califado ou, de forma mais macabra, pela venda de órgãos dos prisioneiros por eles capturados e depois executados.
Mais de um ano depois do seu surgimento, o que correu mal no grupo extremista para que, de acordo com uma reportagem da Newsweek – que entrevistou especialistas em terrorismo e habitantes sob o jugo do califado -, o financiamento esteja, hoje, no vermelho?
A primeira e mais evidente das resposta diz respeito ao petróleo. Com a desvalorização do barril de crude nos mercados internacionais, também a economia paralela do auto-proclamado Estado Islâmico se ressentiu. Por outro lado, os ataques aéreos que vêm sofrendo as instalações petrolíferas por ele tomadas, significou igualmente um rombo nesta fonte de financiamento que, em 2014, trouxe quase 100 milhões de euros ao EI.
Logo que caiu o financiamento pelo petróleo, os líderes do EI resolveram aumentar, ainda mais, os impostos cobrados aos habitantes do califado. A insatisfação, garante a Newsweek, é generalizada, mas o culto do medo que ali se implantou faz com que, mais do que a revolta, a população fuja do território.
Nos primeiros tempos, o EI cobrava os impostos, mas prometia sustentar a população, não só alimentado os mais pobres, como baixando o custo dos bens-essenciais e dos combustíveis. A verdade é que, durante os primeiros meses do califado, o EI conseguiu fazê-lo. Mas até essa promessa se começa a desvanecer.
Abu Ibrahim al- Raqqawi, um activista de Raqqa , na Síria, disse à Newsweek que “todos os dias há filas intermináveis para a recolha de refeições, mas o Estado Islâmico só dá, hoje, uma refeição por dia à população.” Também à Newsweek, Sayf Saeed , um estudante de medicina dentária que deixou Mosul para ir viver em Bagdad, garante que “antes, um litro de combustível custava perto de 30 cêntimos e hoje é superior a dois euros. O preço do gás, para cozinhar, era de cinco euros e agora ultrapassa os 25 euros”.
Em 2014, estimou a Rand Corporation, o EI terá arrecadado mais de mil milhões de euros. Mas metade desse valor dizia respeito a assaltos aos bancos iraquianos — algo que não se contabilizará em 2015, pois há maior policiamento estatal e militar nos poucos bancos ainda em funcionamento nas cidades próximas ao califado. Por outro lado, o governo iraquiano também deixou de pagar os ordenados aos funcionários públicos que trabalhavam no califado, sendo que o imposto sobre metade dos seus salários também não entrará na equação do EI para 2015.
Uma coisa é certa: para já, aos combatentes não faltará nada. O Estado Islâmico gasta quase 360 mil euros por mês em pagamentos com quem combate para si. Outro tanto é investido em armamento. O analista de política internacional na Rand Corporation, Ben Bahney, vê semelhanças entre o EI e o governo talibã do Afeganistão na década de 1990. “É em tudo semelhante. O ‘estado de direito’ que querem implementar é semelhante. E quando falta o dinheiro, é mais importante ter homens e armas do que tijolos e argamassa para a população.”