À direita, Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa estão fechados em copas. À esquerda, Maria de Belém Roseira e Sampaio da Nóvoa já puseram as cartas na mesa em relação às presidenciais. Mas as eleições legislativas vão ser decisivas para todos: tanto podem pôr como retirar obstáculos na corrida dos quatro para Belém. O que dizem alguns dos seus principais apoiantes? E que sorte lhes espera? Que comecem os cenários.
Cenário 1. PSD e CDS vencem as eleições. O que pode acontecer aos presidenciáveis?
No domingo, a coligação Portugal à Frente é a força política mais votada, mas fica longe da maioria absoluta. O que representaria isto para o candidato presidencial da direita?
Primeiro, Marcelo Rebelo de Sousa. O professor catedrático de Direito nunca revelou se avançava ou não para Belém, mas também nunca excluiu essa hipótese. Ao Observador, Marcelo garantiu – mais uma vez – que ainda não pensou nessa questão e que só iria “pensar nisso e noutras coisas depois do dia 4”. Recentemente, no entanto, em declarações aos espanhóis do La Voz de Galicia, defendeu que estava “mais bem posicionado” do que Rui Rio para as eleições presidenciais em 2016. Se a coligação vencer, será que está mesmo?
Na teoria? Sim. Embora, por tradição, o eleitorado português não goste de eleger um Presidente da República da mesma cor partidária do que o partido (ou coligação) que está no poder, Marcelo Rebelo de Sousa tem um perfil de conciliador e uma popularidade que poderiam aumentar as suas hipóteses tanto aos olhos do partido como aos olhos da generalidade dos portugueses – nem de propósito, na quinta-feira, num almoço com empresários, o professor deu a receita de como ele, enquanto líder da oposição, viabilizou o governo minoritário de António Guterres.
Também foi isso que repetiu Almeida Henriques ao Observador. O presidente da Câmara Municipal de Viseu e defensor de uma eventual candidatura de Marcelo à Presidência diz que “a experiência de negociação” do professor é uma mais-valia para o cargo e que, nesta altura, o “coração do PSD [já] está com Marcelo“.
E Rui Rio? Bem, a vida do ex-presidente da Câmara do Porto poderia ficar mais complicada. É verdade que também tem um perfil conciliador e que António Costa o tem como homem de pontes. E também é verdade que Pedro Passos Coelho o preferia a Marcelo. “Com um líder relegitimado nas urnas, o partido fará o que ele quiser”, admitia ao Observador um apoiante de Rio.
Mas há que não esquecer que Paulo Portas também tem voto na matéria e que o centrista vê em Marcelo o homem ideal para ser o candidato presidencial apoiado pela coligação. E se Rio desistir perante Marcelo, Passos poderá muito bem ter de aceitar a candidatura de Marcelo.
Além disso, com a vitória de Passos, a hipótese de avançar para a liderança do partido – que, segundo várias fontes, chegou a ser equacionada – ficaria, à partida, descartada. O Observador sabe que mesmo alguns dos apoiantes de Rio perceberam já que a margem de manobra do ex-autarca está cada vez mais reduzida. Vai depender muito, dizem, de quem decidir avançar primeiro.
De lembrar que os dois estiveram com a campanha da coligação Portugal à Frente, embora a ritmos diferentes: Marcelo mais interventivo, Rio mais discreto, longe dos holofotes.
Existe, ainda, a hipótese – ainda que remota – de a coligação conseguir maioria absoluta. Nesse caso, Passos teria ainda mais legitimidade para propor Rui Rio para candidato presidencial – ou seja, este seria um resultado, na teoria, mais favorável para o portuense.
Mas tanto Rio como Marcelo, com estas contas (maioria absoluta), teriam dificuldade em convencer o eleitorado a entregar a chave do Palácio de Belém a um homem de direita. Talvez o comentador, pela popularidade que tem junto dos portugueses, tivesse mais hipóteses de garantir a Presidência. Almeida Henriques, no entanto, reconhece que a vitória do professor, nestas condições, seria “mais difícil”.
Posto isto, a pergunta é outra: o que representaria a vitória de PSD/CDS para o candidato presidencial da área do PS?
Primeiro, Maria de Belém Roseira. O nome da ex-presidente do partido surgiu em força como alternativa a Sampaio da Nóvoa, uma figura muito à esquerda para uma ala significativa do PS. José Lello, ex-ministro de Guterres e apoiante desde a primeira hora de Maria de Belém, acredita que a candidatura da socialista, na eventualidade de PSD e CDS vencerem no domingo, “ganharia força, porventura” porque, mais uma vez, a história mostra que os portugueses preferem entregar Belém e São Bento a cores políticas diferentes.
Além disso, continua José Lello, Maria de Belém encarna “na perfeição” o espírito de António Guterres, um homem “de grande abrangência” mesmo ao centro. E, para o socialista, é “esse o espaço ganhador” e é essa fatia do eleitorado que o PS tem de disputar nas eleições.
Quanto a Sampaio da Nóvoa, José Lello acha que a candidatura do antigo reitor perderia força – aliás, já perdeu. “Vejo algum esgotamento na candidatura de Sampaio da Nóvoa”, diz o socialista.
Opinião diferente tem Vítor Ramalho, ex-deputado e antigo secretário de Estado socialista, apoiante de primeira linha de Nóvoa. A acreditar nas sondagens, explica, abre-se um “quadro novo” na Assembleia da República, em que a maioria de deputados pertence à esquerda.
Mais: o PS poderia ter mais votos que o PSD isolado e aí entraria a hipótese de António Costa reclamar para si o direito de liderar o Executivo. Por isso, é “preciso perceber como se vai formar Governo” e não excluir qualquer aliança, lembra Vítor Ramalho. Onde se encaixaria Sampaio da Nóvoa nesta equação? Seria o homem certo para “reunir o apoio dos vários de partidos” e servir de mediador entre PS, CDU e BE, defende. Um perfil que Maria de Belém não tem.
Mas aqui há que considerar um fator extra: uma possível derrota do PS nas urnas poderia significar a saída de António Costa da liderança do partido. Chegados a este ponto, José Lello e Vítor Ramalho estão de acordo: uma eventual disputa interna no calor das eleições seria um “erro enorme”, uma “precipitação” e é até “quase perverso” que existam militantes do PS a equacionar a hipótese de um levantamento a esta altura do campeonato.
Ainda assim, a possibilidade de Costa sair de cena, caso perca as eleições, não pode deixar de ser considerada: o que significaria isto para Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa?
Os dois socialistas ouvidos pelo Observador recusaram-se a ponderar, sequer, esta hipótese. Mas é um cenário comentado no Largo do Rato. E, aí, a candidatura da ex-presidente do partido ganharia força: seria preciso unir e colar um partido desfeito em cacos e ela perspetivava-se como a candidata presidencial com menos anticorpos.
Já Sampaio da Nóvoa, perderia o apoio teórico da direção do partido e sairia fragilizado. Mas, como lembra Vítor Ramalho, a candidatura do antigo reitor nunca esteve “dependente da vitória ou derrota do PS” pelo que não era de excluir a hipótese de Nóvoa avançar mesmo sem o apoio do PS.
Cenário 2. O PS vence as eleições com maioria relativa
Aqui as contas seriam, mais ou menos, parecidas. À direita, Marcelo Rebelo de Sousa apresentar-se-ia como conciliador e, talvez, ganhasse mais força entre os portugueses – mais uma vez, de lembrar que eleitorado, por tradição, não gosta de colocar “todos os ovos na mesma cesta”.
Para Rui Rio, esse argumento também vale. Como também lhe serve bem o fato de conciliador e de fazedor de pontes. Mas, na eventualidade de uma derrota da coligação, é preciso garantir Belém e Marcelo, a acreditar nas sondagens, parece ser o cavalo mais forte para ganhar essa corrida. A direita poderia estar mais inclinada a apoiar o professor.
Mais: uma eventual derrota da coligação poderia levar à saída de cena Pedro Passos Coelho – o primeiro-ministro já admitiu que, depois das eleições e dependendo dos resultados, teria de refletir. Ora, neste cenário, a pista para a liderança do partido não se fecharia por completo para Rio.
E quanto aos candidatos de esquerda? A hipótese “Maria de Belém” sairia reforçada, na teoria, porque as presidenciais, como defende José Lello, têm de ser vencidas ao centro. Mas disputar as eleições com Marcelo ou com Rio seria um desafio difícil.
Em relação a Sampaio da Nóvoa, e mesmo admitindo que, com a vitória de Costa, a sua candidatura manteria alguma margem de manobra dentro do partido, dificilmente o eleitorado elegeria um candidato mais afastado do centro do espetro político português.
No entanto, a hipótese de Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa manterem as suas candidaturas até ao fim também está em aberto. Seria um dossier de difícil gestão para António Costa.
E se o PS conseguir a maioria absoluta? Esta hipótese está, aparentemente, descartada pelos resultados de todas as sondagens. Ainda assim, um cenário destes traria más notícias para Maria de Belém: uma vitória estrondosa de Costa dava-lhe margem para impor Nóvoa como seu candidato.
Grafismo: Milton Cappelletti