O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, reagiu de forma muito dura à destruição de um avião militar russo pelas forças armadas turcas, garantindo que o incidente vai ter “consequências sérias” e atacando a Turquia: “É uma facada nas costas, levada a cabo por cúmplices dos terroristas”, disse.

O incidente aconteceu pouco depois das 07h00 em Lisboa. As forças turcas abateram um caça russo que alegadamente teria invadido território turco e ignorado repetidamente avisos das forças turcas – 10 avisos em cinco minutos – e acabou por se despenhar em território sírio.

A Turquia mandou chamar o representante russo para os Negócios Estrangeiros em Ancara para protestar e pediu uma reunião de emergência da NATO para discutir o incidente. A reunião foi marcada pela NATO para as 16h00 de hoje.

Vladimir Putin reagiu na Rússia, antes de entrar para uma reunião com o Rei da Jordânia, e de forma muito dura: “Este incidente vai muito além do quadro normal de luta contra o terrorismo. Claro que os nossos militares estão a fazer um trabalho heroico contra o terrorismo… Mas a perda de hoje é uma facada nas costas, levado a cabo por cúmplices dos terroristas. Não consigo descrevê-lo de qualquer outra forma”, disse.

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O Presidente russo disse que o avião russo foi abatido em território sírio por um caça F-16 turco, acabando por cair a quatro quilómetros da fronteira com a Turquia, e garantiu que nem os pilotos, nem o caça russo, ameaçaram o território da Turquia.

Vladimir Putin adiantou que os pilotos russos estavam a lutar contra terroristas nas zonas a norte de Latakia, onde está situada a principal base russa na operação contra o Estado Islâmico. Nesta zona, diz Putin, estão combatentes estrangeiros do Estado Islâmico, especialmente russos, e as forças do Kremlin querem “garantir que estas pessoas não voltam à Rússia”. “Estas são pessoas que são claramente terroristas internacionais”, disse.

O líder russo atacou também a decisão da Turquia de avançar com um pedido de reunião à NATO em vez de tentar falar diretamente com o seu governo e garante que existirão consequências sérias, inclusivamente no que diz respeito às relações entre os dois países, apesar de, disse, a Rússia ter tratado sempre a Turquia como um país amigo.

“Em vez de entrarem em contacto connosco imediatamente, tanto quanto sabemos, o lado turco virou-se imediatamente para os seus aliados da NATO para discutir o incidente, como se tivéssemos sido nós a abater o avião deles, e não eles o nosso”, disse ainda.

Putin voltou a deixar acusações de que o Estado Islâmico estará a ser apoiado pelo exército de outros países, como já o fez recentemente, e lembrou que o movimento terrorista tem conseguido centenas de milhões de dólares em receitas com a venda ilegal de petróleo, protegida por outros países.

O primeiro-ministro turco, que falava ao mesmo tempo que Vladimir Putin, disse que a Turquia tinha todo o direito de agir contra quem quer que seja que viole as suas fronteiras.

“É nosso direito internacional e dever nacional tomar qualquer medida contra quem quer que seja que viole as nossas fronteiras, aéreas ou terrestres”, disse o primeiro-ministro turco.

MNE da Rússia anula visita à Turquia e recomenda a russos que não visitem o país 

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, cancelou uma visita bilateral que tinha previsto fazer à Turquia e desaconselhou os cidadãos russos de viajar para aquele país.

As declarações de Lavrov foram feitas na sequência do abate de um avião militar russo SU-24 pela Turquia na zona da fronteira turco-síria.

“Foi tomada a decisão de cancelar o encontro que estava previsto para amanhã (quarta-feira) em Istambul entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Turquia”, disse Lavrov numa declaração à imprensa russa em Sochi, no sul da Rússia, transmitida pela televisão russa.

O ministro aconselhou por outro lado os cidadãos russos a não viajarem para a Turquia, advertindo que a ameaça terrorista no país é semelhante à ameaça no Egito, onde a 31 de outubro um avião comercial russo com 224 pessoas a bordo foi alvo de um atentado.

“A massa crítica de incidentes terroristas em território turco, segundo as nossas estimativas, não é menor que a ameaça no Egito. Por essa razão desaconselhamos os nossos cidadãos de viajar para a Turquia em turismo ou por qualquer outra razão”, disse.

Em Washington, na conferência de imprensa depois da reunião entre Hollande e Obama, os dois líderes disseram que Turquia e Rússia têm de falar e recuar nas suas posições defensivas. Os dois líderes insistiram que o problema é que Putin tem defendido Assad em vez de se concentrar na luta contra o Estado Islâmico. 

A Turquia anunciou hoje que dois dos seus caça-bombardeiros F-16 abateram um SU-24 russo que violou o espaço aéreo turco dez vezes num período de cinco minutos ao longo da fronteira com a Síria, ignorando todas as advertências.