PSD e CDS cerraram formalmente fileiras em torno de Marcelo Rebelo de Sousa. O anúncio foi feito esta noite, depois da reunião dos conselhos nacionais dos dois partidos, órgãos máximos entre congressos e encerra uma história que começou ainda antes das eleições legislativas: com Santana Lopes e Rui Rio – que seria o favorito para Pedro Passos Coelho – fora de cena, sociais-democratas e centristas juntam-se agora à volta da candidatura do ex-líder social-democrata. Passos e Portas elogiam garantia de “equilíbrio” e de “independência” de Marcelo. Mas o presidente do PSD deixou, mais uma vez, um aviso: “O próximo Presidente deve comportar-se mais como um árbitro” do que como jogador.

Longe vão os tempos em que Passos excluía a hipótese de o PSD vir a apoiar um candidato a Belém que fosse um “cata-vento de opiniões erráticas”, que buscasse a “popularidade fácil” e que se quisesse afirmar como “mais um protagonista político na disputa geral”. Uma descrição que cabia como uma luva a Marcelo Rebelo de Sousa – o próprio, de resto, acusou o toque e, na altura, até afastou a hipótese de avançar para a corrida.

Mesmo depois, já com Marcelo na estrada e a coligação atirada para oposição, foram muitos os sociais-democratas que, em off, criticaram o candidato por não assumir uma atitude mais crítica e assertiva em relação à solução governativa encontrada por António Costa.

Apesar das alegadas reservas iniciais de Passos, Paulo Portas nunca terá desistido da hipótese “Marcelo”. E o comentador foi fazendo o seu caminho. Condicionou os tempos, as sondagens deram-lhe força e Santana e Rio desistiram da ideia de avançar. Além disso, a queda do Executivo PSD/CDS no Parlamento veio complicar as contas: sem a chave de São Bento no bolso, sociais-democratas e centristas têm agora de garantir Belém e, para isso, nada melhor do que apoiar o candidato que parte na pole position da corrida presidencial. O PSD foi obrigado a “engolir” Marcelo Rebelo de Sousa?

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A pergunta foi colocada assim mesmo e Marco António Costa não fugiu à questão. “Aquilo que nós fazemos é uma análise muito simples: no atual contexto político e atendendo às candidaturas que se apresentaram e que estão hoje no terreno, não temos a mínima dúvida em afirmar que Marcelo Rebelo de Sousa é o candidato que melhores condições reúne para exercer de forma exemplar, competente e responsável o cargo de Presidente da República”, afirmou o vice-presidente do partido, em conferência de imprensa no final da reunião do Conselho Nacional do PSD.

Antes, já Pedro Passos Coelho tinha transmitido o mesmo entendimento aos conselheiros do partido. Na deliberação que levou a votos, Marcelo é apresentado como o candidato que oferece, “equilíbrio político”, “fidelidade aos compromissos europeu e atlântico de Portugal” e a “correta interpretação” dos “poderes constitucionais” do Presidente da República.

Mais, defendeu Passos: pela “sua larga experiência política, tão necessária num momento como o que vivemos”, pelo “seu conhecimento, académico e profissional” da Constituição, pela “valorização que faz dos compromissos estruturantes” – “condição essencial para a credibilidade externa de Portugal” -, pela “sua conhecida defesa da economia social de mercado e empenhamento numa visão personalista da sociedade” e pela “especial importância que sempre conferiu à lusofonia e ao universalismo de Portugal”, Marcelo é o melhor candidato para representar os valores do PSD nas próximas eleições.

De resto, tal como na moção que foi levada ao 35º Congresso social-democrata, em janeiro de 2014, também agora Passos voltou a pedir um Presidente que se comporte “mais como um árbitro ou moderador” e que se mova “no respeito pelo papel dos partidos mas acima do plano dos partidos”.

A terminar, Passos, tal como Marco António Costa à saída, fizeram questão de fazer o “reconhecimento público do mandato apartidário do professor Cavaco Silva”. Um moderador, não um jogador, sublinharam os sociais-democratas.

Paulo Portas elogia a independência de Marcelo e o “cuidado de ser abrangente e caloroso com os portugueses como um todo”

Na sede nacional do CDS, em Lisboa, Paulo Portas assumiu pessoalmente o apoio a Marcelo. Antes da reunião do órgão máximo entre congressos dos centristas, o ex-vice-primeiro-ministro louvou a independência da candidatura do antigo presidente do PSD e há muito comentador político.

“A direção propõe a recomendação de voto para os eleitores da nossa área para contribuírem para a eleição do professor Marcelo Rebelo de Sousa”, afirmou Paulo Portas.

A escolha do CDS, segundo Portas, deve-se “à forma independente como a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa nasceu” e “a forma abrangente como se tem afirmado”. Isto, segundo o líder do CDS, “distingue-o das outras candidaturas”.

Outro dos argumentos invocados por Paulo Portas é o facto de já existirem vários socialistas em lugares de poder — pelo que “não há vantagem” em eleger um Presidente da República socialista nas presidenciais de janeiro. “Portugal tem neste momento, em circunstâncias muito particulares, um presidente da Assembleia da República Socialista, um primeiro-ministro socialista, um governo socialista” e até “um presidente da câmara municipal de Lisboa socialista”, disse.

Assim, no entender de Paulo Portas, “não há vantagem em acrescentar a esta lista um Presidente da República socialista, ainda para mais quando Marcelo Rebelo de Sousa tem tido o cuidado de ser abrangente e caloroso com os portugueses como um todo”.

A recomendação de voto aos seus eleitores, explicou o líder do CDS, justifica-se pela “natureza específica” das presidenciais, que não devem ser “uma correia de transmissão dos partidos”, devendo antes respeitar “um ato de vontade pessoal e inequívoco por parte dos candidatos”.