Dezenas de trabalhadores da Unicer manifestaram-se hoje junto à sede da empresa, em Leça do Balio, Matosinhos, para exigir o cancelamento da decisão de encerramento da fábrica de Santarém e do despedimento de trabalhadores.
“O que queremos mesmo é partir para o diálogo, sentar à mesma mesa com a administração e chegar a consensos porque temos a certeza que eles existem. Aliás, demos essa indicação à empresa que tínhamos propostas que os trabalhadores nos fizeram chegar, propostas de agilização de negócio, de emagrecimento de setores e de poupanças que impediriam todo este processo”, explicou o coordenador da Comissão de Trabalhadores.
Eduardo Andrade referiu que a comissão de trabalhadores “não vê com maus olhos que a empresa queira agilizar o seu negócio e que proponha aos trabalhadores propostas de rescisão amigável desde que fique apenas e só dependente dos trabalhadores a decisão de aceitarem ou não”, o que não estará a acontecer.
Afirmou que estão a ser exercidas “pressões sobre as pessoas convidadas a rescindir”, referindo que “ainda ontem [terça-feira] a Autoridade para as Condições de Trabalho corroborou isto e deverá notificar a empresa” sobre o que constatou no local.
De acordo com o mesmo responsável, a greve decretada para hoje pelas estruturas sindicais está a ter uma “adesão total” no setor da produção. Na concentração, que terminou cerca das 11:00, estiveram também trabalhadores da fábrica de Santarém.
José Limeiro, trabalhador da Unicer há 20 anos em Santarém, explicou que “objetivo é demonstrar desacordo em relação à decisão de empresa de encerrar o centro de produção de Santarém e despedir 70 trabalhadores”.
“Essa é a causa que nos move por acharmos que existiriam outras possibilidades de fazer este trabalho, uma vez que a empresa deu lucros”, disse.
A Unicer divulgou hoje ter concluído a primeira fase do processo de reajustamento anunciado em outubro, tendo chegado a acordo indemnizatório com 65 trabalhadores da estrutura central e de apoio ao negócio.
“Em Santarém, a empresa vai iniciar um processo difícil, mas que se pautará pelo apoio e respeito integrais para com as 70 pessoas envolvidas. A descontinuidade da unidade industrial de refrigerantes deve-se à baixa taxa de produção (abaixo dos 30%), revelando uma operação economicamente insustentável”, refere a empresa numa nota distribuída aos jornalistas.
Salienta que “a produção será entregue a um parceiro disponível para receber 25 dos colaboradores afetos ao processo. Há ainda dez que podem ser recolocados na estrutura global da empresa, se se manifestarem disponíveis para tal. A recolocação de 35 pessoas permitirá reduzir em 50% o impacto do ponto de vista de empregabilidade”.
Refere ainda que as acusações de “terrorismo social” e de estar a pressionar os funcionários por estes não aceitarem a rescisão do vínculo de trabalho “são de todo incompatíveis com os valores da empresa e visam apenas sustentar a defesa de quem, no processo, tem privilegiado o confronto e a irredutibilidade negocial “.
A Unicer refere ainda que o processo de reajustamento da estrutura da empresa surge “numa conjuntura de forte instabilidade económica dos mercados internacionais, designadamente Angola, onde a empresa realiza uma boa parte dos seus negócios fora de Portugal”
“O impacto da crise vivida naquele país [devido à forte queda dos preços do petróleo] manifesta-se nos dados de exportação — os quais caem mais de 50% já em 2015 e havendo uma grande incerteza relativamente a 2016”, sustenta.
Acrescenta que “as medidas anunciadas são indispensáveis para garantir a sustentabilidade da empresa, através da eficiência e da competitividade da organização, a médio e longo prazo, e na manutenção dos mais de 1.200 postos de trabalho diretos”.