A pré-campanha arrancou a meio-gás mas pode estar prestes a aquecer. A partir desta sexta-feira, 1 de janeiro, arrancam os debates televisivos entre os candidatos – e o ritmo vai ser frenético: três ou quatro frente a frente por dia, sendo que no último dia, 19 de janeiro, haverá debate na RTP com os dez candidatos. Com base na troca de argumentos e de acusações que tem sido feita nas últimas semanas, olhámos para aquilo que parecem ser os pontos fortes e fracos dos vários candidatos, os trunfos que podem vir a ser usados nos debates e os seus mais prováveis calcanhares de Aquiles.

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidenciais: Marcelo Rebelo de Sousa inaugura sede de campanha

Campeão de audiências e mais do que habituado às lides da televisão, o candidato que melhor está posicionado nas sondagens parte em vantagem para os frente a frente com os seus adversários. Cara conhecida da generalidade de todos os portugueses, goza de uma maior facilidade em criar empatia e em causar boa impressão no pequeno ecrã. A vasta experiência política e de comentador podem, por isso, ser um trunfo bem à mão. Isto, claro, se o feitiço do excesso de confiança não se virar contra o feiticeiro.
O background político de Marcelo Rebelo de Sousa, ainda assim, pode ser o seu maior calcanhar de Aquiles. Uma vez histórico militante do PSD e ex-líder do partido, a colagem a Passos Coelho e à anterior governação da direita é inevitável, por mais que Marcelo se tente descolar. É para todos os efeitos o candidato oficial do PSD e do CDS e será sempre conotado como apoiante do anterior Governo. Certo é que os seus vastos anos na política ativa e os seus tantos outros anos na pele de analista político dão aos restantes candidatos matéria suficiente para lhe apontar o dedo. Foi o caso recente dos cortes na saúde, dos elogios a Paulo Macedo e do voto contra do PSD, em 1979, à Lei de Bases do Serviço Nacional de Saúde. Em política, o que se diz uma vez fica escrito na pedra.

Maria de Belém Roseira

Maria de Belém apresenta candidatura à Presidência da República

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É mulher, tem experiência política. Foi ministra nos dois mandatos de António Guterres e foi presidente do PS durante o mandato de António José Seguro. Apesar de ser naturalmente associada ao partido do Governo, que não critica, não é uma figura próxima de António Costa – o que lhe confere uma certa independência. Aliás, um dos pontos que parece jogar a seu favor é o facto de a decisão de se candidatar a Belém ter sido uma decisão mais pessoal e menos ligada aos partidos. Foi por um “imperativo patriótico e por um impulso de cidadania” disse na altura do anúncio, garantindo ter “total autonomia do momento político ou das agendas partidárias”. O timing do anúncio, de resto, não calhou nada bem a António Costa, que se encontrava em plena fase de negociações para formar governo e, com Sampaio da Nóvoa já no terreno a querer rodear-se de socialistas, passou uma imagem de fragilidade e divisão no PS. Ainda assim, com ou sem o consentimento de Costa, Belém avançou.
Tem uma imagem de formalidade e de alguma rigidez que, se podem ser à partida características de Estadista, não são os melhores trunfos em situação de debate, de campanha e de apelo ao voto. Mas o que mais lhe tem sido apontado são as brechas do seu passado político, nomeadamente o facto de ter trabalhado para o Grupo Espírito Santo, na área da Saúde, enquanto era deputada. Ainda esta semana o candidato Cândido Ferreira, médico, voltou a pegar no tema, o que levou a ex-ministra a apelar a que não se faça “uma campanha de casos pessoais” e a pedir aos candidatos para não “atirarem lama para cima uns dos outros”. Assim é a campanha, contudo.

Sampaio da Nóvoa

sampaio da nóvoa, presidenciais 2016,

Surgiu como independente mas dentro da zona socialista do espetro político. Foi o primeiro, desta área, a afirmar-se como candidato a Belém e isso deu-lhe alguma vantagem inicial, assim como alguns frutos que ainda colhe: o apoio dos três ex-Presidentes da República – Jorge Sampaio, Mário Soares, Ramalho Eanes. Também Carlos César, hoje uma das figuras centrais da governação socialista, sempre mostrou publicamente a sua aproximação ao candidato. Apesar de o PS, ao contrário do que em tempos pareceu indicar, ter acabado por não dar apoio formal à candidatura do ex-reitor, o apoio daqueles três pesos pesados já ninguém lhe tira. E isso deverá ser um trunfo explorado até ao fim. Em todo o caso, o facto de Sampaio da Nóvoa ser um nome fora da política (foi reitor da Universidade de Lisboa durante quase uma década) confere-lhe uma independência discursiva que pode ser útil em confrontos pessoais.
Em todo o caso, Sampaio da Nóvoa não deixa de ser um candidato ainda bastante desconhecido para a generalidade das pessoas, o que será sempre o seu calcanhar de Aquiles em função da maior notoriedade de outros candidatos. É-lhe também apontado o facto de ter um discurso mais teórico e académico e menos próximo da vida concreta das pessoas, o que, aliado ao desconhecimento da figura, poderá ser mesmo a sua maior fragilidade. A falta de passado político, ao mesmo tempo que pode ser uma vantagem pela “ficha limpa” que representa, não deixa de ser uma nódoa no currículo aos olhos dos seus adversários.

Marisa Matias

Plenary Session week 41 2015 in Strasbourg Statement by the Vice-President of the Commission/High Representative of the Union for Foreign Affairs and Security Policy - Situation in Syria Statement by the Vice-President of the Commission/High Representative of the Union for Foreign Affairs and Security Policy - Situation in Turkey

É mulher, telegénica e aguerrida no tom. Beneficia da boa maré das mulheres bloquistas, na onda de Catarina Martins e Mariana Mortágua, o que lhe confere um reforço de confiança. Tem experiência política, mas como é sobretudo ao nível do Parlamento Europeu, permite-lhe distanciar-se q.b face às atuais circunstâncias de governação do PS com o apoio do BE. Quanto baste porque o equilíbrio é necessário e a aproximação ao partido do Governo também pode ser usada em seu favor.
É a candidata mais nova do leque inteiro, o que, não sendo uma desvantagem em si mesmo, pode vir a ser uma fragilidade no combate político pela menor bagagem que traz as costas. O facto de ser a candidata do Bloco de Esquerda vai associá-la a todas as decisões e agenda do partido, o que funciona sempre como um argumento para os candidatos independentes ou que se dizem como tal.

Edgar Silva

Apresentação da candidatura de Edgar Silva

Licenciado em Teologia e com toda a experiência do sacerdócio, é um bom orador e isso será certamente a sua maior vantagem no confronto político. Comparando com o anterior candidato presidencial comunista, Francisco Lopes, o “padre Edgar” parte em vantagem no que às qualidades discursivas diz respeito. Desvinculou-se do sacerdócio para entrar para a política, tendo sido desde a década de 90 um dos principais rostos do PCP na Madeira, o que lhe confere, a par das qualidades de orador, a experiência política necessária para os cenários de frente a frente.
Não deixa de ser, contudo, um desconhecido aos olhos dos portugueses, pelo menos de Portugal continental, o que dificultará a sua afirmação e aproximação ao eleitorado. Enquanto candidato lançado pelo PCP, será também sempre associado à agenda do partido tendo de responder como tal.

Henrique Neto

henrique neto,

É talvez o candidato mais independente do leque, no sentido em que parece ser o mais livre de pensamento e mais aberto a criticar – ou elogiar – a atuação do Governo e da oposição com desprendimento. Se Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, apesar de não terem o apoio formal do PS, estão associados ao partido e não podem, nem querem, criticá-lo; e se Marisa Matias e Edgar Silva são os candidatos dos partidos que apoiam o Governo no Parlamento, e como tal também não estão numa posição desprendida face ao Executivo, Henrique Neto aparece neste quadro como o único não envolvido. Foi deputado pelo PS em 1995, tendo sido conduzido para o partido pela mão de Jorge Sampaio, mas todos lhe reconhecem a capacidade crítica face ao partido e à política. A sua experiência de empresário e de self made man também podem jogar a seu favor.
É o candidato mais velho e, numa eleição uninominal, que se admite poder vir a ser para dois mandatos de cinco anos, este ponto é sempre um tópico de discussão. Aconteceu em 2011 com a recandidatura de Cavaco Silva, que na altura tinha 72 anos e que se propunha a chefiar o país por mais cinco. Henrique Neto tem atualmente 79, o que significaria que chegava ao fim do primeiro mandato com 84 anos e, na hipótese de uma recandidatura, ao fim do segundo com 89. Henrique Neto parte para a corrida com uma fraca expressão de votos nas sondagens, podendo ser também esta uma fragilidade.

Paulo Morais

Paulo Morais

A bandeira do combate à corrupção é sua, e numa altura de descrédito das instituições e da política, e sobretudo de promiscuidade entre o poder político e económico, esse é um ponto a seu favor. Paulo Morais tem vários cargos no currículo relacionados com o tema da transparência, sendo perito do Conselho da Europa em missões internacionais sobre boa governação pública, luta anticorrupção e branqueamento de capitais, assim como era, até há meses, vice-presidente da associação Transparência e Integridade.
O seu discurso facilmente visto como próximo da demagogia é, ainda assim, a sua maior fragilidade e será o ponto mais trabalhado pelos seus adversários em situação de confronto político. O seu maior calcanhar de Aquiles pode ser também o maior desconhecimento das regras da política e do funcionamento das instituições do Estado.