O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, partilharam um painel de debate no Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça, poucos dias depois de a Grécia ter, finalmente, acedido a que o Fundo Monetário Internacional (FMI) participe no terceiro resgate ao país. Se Tsipras não tivesse cedido nessa matéria, o alemão diz que no parlamento de Berlim iria rebentar “dinamite”.
A participação do FMI no resgate ficou acordada em julho (no acordo que abriu caminho para o terceiro resgate) mas Alexis Tsipras e o seu governo mostraram nas últimas semanas que o FMI não era “necessário” e que estava a causar “frustração” aos gregos com as suas exigências. Na semana passada, porém, em dia de reunião dos ministros do Eurogrupo, o governo grego cedeu e confirmou que aceitava a participação do Fundo.
Para a Alemanha (e vários outros países), esta participação do FMI era crucial não só pelo facto de ajudar com o envelope financeiro necessário mas, também, para legitimar, em certa medida, a assistência financeira dos fundos europeus ao país. No painel de debate em Davos, Wolfgang Schäuble disse que excluir o FMI deste processo estava fora de questão porque foi isso que foi aprovado pelos vários parlamentos que deram luz verde ao terceiro resgate à Grécia, incluindo o Bundestag (o parlamento alemão).
E foi aí que se ouviu a palavra “dinamite”, da boca do ministro alemão. Schäuble disse que chegar ao Bundestag e dizer aos deputados alemães que, afinal, o FMI não iria participar no resgate à Grécia seria como “entrar numa sala cheia de dinamite com uma vela acesa“. Daí a importância de Alexis Tsipras e o seu governo terem cedido e convidado o FMI a participar.
Tsipras afirmou, numa resposta sorridente a Schäuble, que não queria que o ministro das Finanças da Alemanha rebentasse consigo próprio no parlamento alemão e, portanto, decidiu “retirar o dinamite” antes de o alemão entrar na sala – aceitando, então, a participação do FMI.
Schäuble: “Podiamos ter só dito: é uma questão de implementação, estúpido“
Durante o debate, Tsipras garantiu que o governo irá fazer o possível para cumprir o memorando de entendimento subjacente ao terceiro resgate. Ainda assim, o grego lembrou que o país perdeu “25% do PIB [nos anos da crise] e a taxa de desemprego disparou” – “a Grécia precisa de reformas estruturais significativas mas todos temos de compreender que, ao mesmo tempo que precisamos de um orçamento público equilibrado, precisamos de crescimento”.
A este repto, Schäuble respondeu que a Alemanha também tem os seus próprios problemas, como o envelhecimento da população. “Se queremos tornar a Europa mais forte, temos de implementar as medidas que aceitámos implementar”, afirmou o ministro alemão, lembrando que a posição da Alemanha tem sido construtiva: “Podíamos ter só dito: é uma questão de implementação, estúpido“, numa alusão à célebre expressão “é a economia, estúpido“.