O CDS-PP “deve fazer uma estátua” a Paulo Portas, por este ter encontrado o partido, há 16 anos, “moribundo e em vias de extinção”. Mas num discurso de despedida de que Luís Marques Mendes gostou, houve um momento “menos feliz”: o facto de Paulo Portas ter pedido a demissão de Carlos Costa. Marques Mendes comentou, ainda, a última sondagem que dá os comunistas como “descartáveis”.

“Fez mal porque, acho eu, é uma certa deselegância para com Assunção Cristas”, afirmou Marques Mendes no seu habitual comentário político na SIC, aos domingos. O tema da banca é um “tema que estará na atualidade e é lançado pelo líder que sai e não pelo líder que entra. É um bocadinho fora do vulgar” e, acrescenta o ex-líder do PSD, “parece, um bocadinho, condicionar o sucessor”.

Contudo, isso acabou por dar a Assunção Cristas uma oportunidade para se “demarcar” e preferir falar no regime de nomeação e não em pessoas.

“Demissões são o mais sexy, mas não são o mais importante”, diz Marques Mendes. O “importante é juntar todas as forças para contrariar esta ideia, se for real, do Banco Central Europeu” de querer uma “espanholização da banca nacional”. Paulo Portas identificou “uma causa justa mas tem a solução errada”, diz o ex-líder do PSD.

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Quanto ao futuro de Paulo Portas, Marques Mendes salientou que é notória a “vocação para a política externa” — “falou muito de Angola” no discurso, pelo que o futuro poderá passar pela política externa.

Fernando Medina teve ótima notícia este fim de semana

Marques Mendes acredita que “o congresso correu muito bem a Assunção Cristas”. Isto porque a nova líder do CDS-PP “teve uma atuação de charme e simpatia. Ela faz isso muito bem, com naturalidade e com autenticidade”.

“Cristas escolheu uma equipa dirigente de qualidade e fez um bom discurso, virado para fora, para o país. Falou muito pouco do passado, muito do futuro. Apresentou causas concretas que vai defender em quatro setores e fê-lo numa linguagem que é diferente de Paulo Portas – uma ideia de autenticidade, sem os chavões.”

Além disso, diz Marques Mendes, Cristas “começou a dar um cheque-mate ao PSD, nas autárquicas”. Ao anunciar uma candidatura “forte” a Lisboa — que Marques Mendes acredita que “será dela própria”, “afastou a hipótese de coligação com o PSD” — “Fernando Medina, do PS, teve uma ótima notícia”.

Sondagens mostram que PCP está a tornar-se “descartável”

O ex-líder do PSD comentou, ainda, a sondagem que saiu no final da semana e que deu três pontos de avanço do PS. “Isso deve levar o PSD a pensar, com o congresso à porta, como quer fazer para voltar a ser governo.”

Contudo, a ideia principal que Marques Mendes retirou da sondagem é que o “PCP tornou-se descartável”.

“PS e BE já têm suficiente para fazer governo em conjunto. E esta sondagem mostra aquilo que me parece que irá inevitavelmente acontecer nos próximos anos: um bloco mais ao centro, centro-direita (PSD+CDS) e um bloco que vai passar a existir com o PS e o BE.”

Além disso, a sondagem é um “prémio para António Costa, que tem estado em campanha eleitoral”. “Até foi a Paris e viu Tony Carreira. Qualquer dia vai abastecer a Espanha para ser solidário com as pessoas”, afirmou Marques Mendes, numa referência à “anedota” que foi o ministro Manuel Caldeira Cabral pedir aos portugueses para não abastecerem em Espanha.

Aumento do IVA é “provável” nos próximos meses, diz Marques Mendes

Luís Marques Mendes repetiu, também, a ideia de que estará na calha um aumento dos impostos nos próximos meses — em particular, do IVA.

Depois de uma semana em que “o Comissário [Moscovici] andou aos bonés” com a discussão do Plano B, Marques Mendes faz um ponto de ordem:

“Quase toda a gente em Portugal e Bruxelas acha que as estimativas que estão no Orçamento (em termos de crescimento) são muito otimistas. Pelo que se cria um buraco. Em abril ou maio vai-se ver se há buraco ou não há buraco e qual a dimensão do buraco. Se não houver buraco, ótimo. Se houver buraco, veremos se é de 500, de 700 ou 1000 milhões”.

É aí que pode entrar um aumento do IVA, porque “não passa pela cabeça novo aumento dos impostos sobre os combustíveis” e, também, “não se fala em redução da despesa do Estado. “Esperamos que não aconteça, mas quando se fala de Plano B é disto que estamos a falar”, diz Marques Mendes.

O histórico do PSD adiantou, ainda, que a questão da votação orçamental das ajudas à Grécia e à Turquia são “assunto arrumado” e não irão “causar uma crise”.

“Não vai haver crise, não vai haver tempestade. O governo, com habilidade jurídica e política, resolveu, em princípio, o problema apresentando uma proposta de alteração da sua própria proposta. É mais genérica mas vai dar ao mesmo”, diz Marques Mendes, lembrando que o PSD disse que votaria contra as propostas do Orçamento mas se absteria em propostas de alteração. “Com esta habilidade, o PSD já se abstém, já não vota contra. Assunto arrumado. A habilidade jurídica e política, às vezes, faz milagres.”