José Sócrates considera que, tal como o caso judicial que o envolve, também o que, no Brasil, colocou sob suspeita o antigo presidente brasileiro Lula da Silva (e Dilma Roussef) tem motivações políticas. À edição brasileira do jornal El País, o ex-primeiro-ministro diz mesmo que ” impeachment de Dilma Rouseff é uma vingança política da direita, que não aceita a derrota nas urnas”.

Quando confrontado com a coincidência temporal entre os dois casos – e a boa relação entre Sócrates e Lula -, o ex-PM socialista atira logo: “Até o comparecimento de Lula na apresentação de meu livro agora parece delituoso. Mas é curioso o paralelismo; como em meu caso, houve detenção abusiva e querem julgamentos populares sem possibilidade de defesa; o que ocorre no Brasil é uma tentativa de destituição sem delito, sem fundamento constitucional”. Sócrates chama mesmo ao impeachment de Dilma “um golpe político da direita. porque agora não mobilizam militares; é impedir a candidatura de Lula à presidência de 2018”, “é utilizar a Justiça para condicionar eleições”. O ex-presidente do Brasil está a ser investigado no âmbito de um esquema de corrupção na Petrobras.

Sobre a sua investigação (que está agora a preparar a acusação), Sócrates insiste que “objetivo era impedir” a sua candidatura à Presidência da República e que o Partido Socialista ganhasse as eleições: “Conseguiram os dois”. E quando questionado sobre a hipótese de vir a ser acusado fraude fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção, responde que “está na moda. A acusação de corrupção transformou-se num instrumento jurídico para a destruição política; antes para eliminar um político acusavam-no de atentar contra a segurança do Estado. O golpe de força moderno é a falsa acusação de corrupção”. “Não são necessários fatos nem provas, basta acusar para que tenha o efeito político”, afirma o socialista ao jornal.

Sócrates volta aos ataques à Justiça portuguesa quanto à demora em produzir acusação e a toda a condução do processo, afirmando que os “encarregados de fazer justiça saltaram todas as regras do direito processual”. E ainda fala do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Souss, para dizer que que “o alvoroço diário da sua Presidência” é “uma necessidade de querer sublimar a frustração por ter sido afastado da política durante 20 anos”.

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