“É um idiota de crimes pequenos, um seguidor e não um líder. Tem a inteligência de um cinzeiro vazio”. É assim que Sven Mary, o advogado de Salah Abdeslam, descreve aquele que é o único suspeito vivo dos atentados terroristas de novembro em Paris — e que esta quarta-feira foi extraditado para França, onde será julgado. Numa entrevista concedida ao jornal francês Libération nas vésperas da transferência de Salah da Bélgica para França, o advogado de 43 anos, parecido fisicamente com o ator norte-americano Bruce Willis e habituado a defender criminosos com ligações a células terroristas e à máfia, descreve o seu cliente como um “imbecil”, produto da geração GTA, que “acredita viver dentro de um jogo de consola”.

“[Salah Abdeslam] Tem a inteligência de um cinzeiro vazio, é de um vazio abissal. É o exemplo perfeito da geração GTA [Grand Theft Auto] que acredita que vive dentro de um jogo de consola. Perguntei-lhe se alguma vez tinha lido o Corão, coisa que eu pessoalmente fiz, e ele respondeu-me que tinha lido uma interpretação na internet. Para mentes simples, a internet é perfeita, é o máximo que consegue compreender”, disse o advogado belga àquele jornal, explicando que foi através da internet que o jovem de 26 anos se radicalizou. “Há um ano andava nas discotecas de Amesterdão. A única explicação que encontro é a propaganda na internet, que dá a impressão de que os muçulmanos são vítimas de injustiças”, disse.

Admitindo que, por ter aceitado defender Salah, era mal visto aos olhos da sociedade, Sven Mary deixa claro na entrevista que a sua relação com o cliente nunca foi boa. “Ele não confia, claramente, em mim”, diz, sublinhando que se encontrou com Salah Abdeslam cerca de “sete ou oito vezes” durante a sua estadia no estabelecimento prisional de Bruges, na Bélgica, onde esteve nas primeiras semanas depois de ser detido, a 18 de março.

Habituado a defender grandes criminosos, incluindo suspeitos de terrorismo e de ligações mafiosas, o advogado diz que “toda a gente tem direito à defesa” e que não se preocupa com o seu “índice de popularidade”. Mas admite que, por um momento, hesitou em aceitar o pedido do irmão de Salah, Mohamed, para ser o seu advogado. “Se eu soubesse dos atentados de Bruxelas nunca teria aceitado o caso”, admitiu na entrevista. Salah foi detido a 18 de março, em Bruxelas, e quatro dias depois, a 22, explodiam duas bombas no aeroporto de Bruxelas e outra no metro da cidade.

Apesar da transferência de Salah Abdeslam esta quarta-feira para França, que passará a tomar as rédeas do processo, Sven Mary irá continuar a colaborar com o novo advogado do suspeito. Na entrevista ao Libération, o advogado belga fala sempre no cliente com um sentido depreciativo, chegando mesmo a compará-lo a outro antigo cliente seu, Abdelkader Hakimi, que terá estado envolvido nos atentados de Madrid de 11 de março de 2004, para se notarem as diferenças entre os dois terroristas. Segundo conta, Hakimi foi condenado em 2006 a oito anos de prisão pela ligação aos atentados de Madrid e, depois de ser posto em liberdade, foi para a fronteira síria, onde abriu uma escola de combate. O objetivo pode ser o mesmo, mas, diz o advogado, “tinha outro temperamento, era um autêntico combatente que tinha estado na guerra na Bósnia”.

“Tenho defendido muitos criminosos graves. Mas eles são diferentes destes miúdos de Molenbeek, são gente com quem se pode falar, que tem uma história”, diz ainda.

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