O resultado do referendo no Reino Unido, que deu vitória à saída da União Europeia (UE) por 51,9%, não serve todos os grupos. Os mais jovens, que votaram maioritariamente na permanência, não se reveem no resultado. E mais de dois milhões de pessoas querem votar outra vez e pedem um novo referendo. Em Londres, os descontentes com o Brexit querem discutir a “independência” da capital britânica. O descontentamento é tanto que há até quem já fale em “Bregret”.

A petição, que pede a alteração das regras do referendo, foi lançada em novembro mas desde que foram conhecidos os resultados desta sexta-feira o número de assinaturas disparou consideravelmente. Pelas 16 horas já tinham sido recolhidas 1.683.442 assinaturas — mas só eram precisas 100 mil para chegar ao Parlamento britânico.

A petição original exigia duas condições para que os resultados do referendo ao Brexit fossem implementados. Uma delas era que mais de 75% dos eleitores fossem votar. A percentagem de participação no referendo da UE foi de 72%. Outra mudança implicava que a vitória só fosse reconhecida a quem tivesse mais de 60% dos votos. A saída do Reino Unido da UE reuniu 51,9% dos votos. Se as novas regras para os referendos fossem aprovadas, e tivessem efeitos retroativos, teria de haver um novo referendo.

O descontentamento é evidente entre os britânicos, com muitos a arrependerem-se de terem votado “sim” no referendo de quinta-feira. De acordo com o Independent, foram várias as pessoas que na sexta-feira ligaram para os serviços eleitorais para perguntar se era possível alterar o voto. Ao jornal, muitos admitiram que o voto foi apenas de protesto e que nunca esperaram que o “sim” acabasse por ganhar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mandy Suthi, uma estudante que votou a favor da saída do Reino Unido da UE, admitiu ao Independente que se pudesse voltar atrás, que tinha votado de maneira diferente “simplesmente porque, esta manhã, a realidade caiu-me em cima”. “Quem me dera ter a oportunidade de votar outra vez”, disse, acrescentando que se sente “muito desapontada”.

Um outro votante disse que, se soubesse quais seriam as consequências a curto prazo que, nunca teria votado Brexit. “A demissão de David Cameron apanhou-me de surpresa”, admitiu, referindo que se sente “muito preocupado”. “Estou chocado que votámos ‘sair’, nunca pensei que isso fosse acontecer. Não pensei que o meu voto fosse muito importante porque achei que íamos ficar.”

Londrinos querem independência

Em Londres o descontentamento também é evidente. Cerca de 60% dos votantes de Londres — 2,26 milhões de pessoas — defendeu a permanência, mas não foi esse o resultado obtido a nível nacional. Logo depois de ser conhecida a saída do Reino Unido da UE, foi lançada uma petição para que Sadiq Khan, o presidente da Câmara londrina, declare a cidade como um estado independente.

https://twitter.com/ManLikeUggs/status/746356011934584832

A petição “Declare London independent from the UK and apply to join the EU” (Declarar Londres independente do Reino Unido e candidatar-se à UE), lançada por James O’Malley, já reuniu mais de 147 mil assinaturas (às 17 horas de sábado). São precisas 150 mil assinaturas para entregar a petição ao mayor londrino.

Sadiq Khan já tinha dito, citado pela BBC, que mesmo com o Brexit, Londres continuaria a ser uma cidade de sucesso, mas que “deixar um mercado de 500 milhões pessoas – com os seus benefícios de comércio livre – seria um erro”. Depois de conhecido o resultado, o mayor londrino afirmou que é vital que Londres tenha um papel nas negociações com a UE.

https://twitter.com/LDN_IP/status/746439555075706881

No mesmo site change.org –, a petição lançada por Emma Blint pede ao primeiro-ministro David Cameron que “reverta o efeito do Brexit antes que seja tarde demais”. Já a petição de Tom Gibson apela a que a Comissão Europeia permita aos cidadãos britânicos ter cidadania europeia.

Também no change.org, uma outra petição pede um segundo referendo que inclua os jovens de 16 e 17 anos. “O governo negligenciou o grupo que o referendo da UE mais afeta. Só iremos apoiar e respeitar uma decisão que nos inclua”, pode ler-se no site.

No Facebook, um evento criado por Jessica Rodgers e Daniel Elkan, desafia os defensores da permanência do Reino Unido na UE a juntarem-se dia 28 de junho. A reunião inicial seria em Trafalgar Square, em Londres, mas parecem já existir outros eventos previstos em Oxford e Manchester. 32 milhões de pessoas assinalaram que vão, 59 milhões têm interesse no evento.

Escócia quer novo referendo sobre a independência

Um pouco mais a norte, a Escócia pondera um novo referendo sobre a independência. A permanência no Reino Unido, votada em 2014, foi em parte determinada pela vontade de permanecer na UE. A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon disse, citada pela BBC, que era “democraticamente inaceitável” que a Escócia fosse forçada a sair da UE contra a vontade dos cidadãos – 62% a favor da permanência.

A primeira-ministra escocesa quer começar a negociar com a UE a melhor forma de manter as relações entre a Escócia e a instituições da UE. Nicola Sturgeon deixou também claro que os cidadãos comunitários continuarão a ser bem-vindos no país.

https://twitter.com/LDN_IP/status/746409850477875200

Na Irlanda do Norte, 56% dos votantes escolheram a permanência na UE. O resultado de saída do Reino Unido não corresponde à vontade dos cidadãos deste país e Martin McGuinness, líder do Sinn Fein — o maior partido nacionalista da Irlanda do Norte –, quer uma votação pela unificação das duas Irlandas, noticiou a Reuters.

A República da Irlanda é a economia em maior crescimento da UE, mas também a que tem mais a perder com o Brexit devido às implicações que a saída do Reino Unido pode ter nas relações com a Irlanda do Norte. A imposição de fronteiras rígidas entre as duas Irlandas pode, inclusivamente, ameaçar o processo de paz, referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês, Charlie Flanagan.

Atualizado às 18h15 com número de assinantes das petições