O que lá vai lá vai. PSD e CDS podem até já ter aceitado a ideia de que perderam as eleições mesmo sendo a coligação PàF a força política mais votada. Mas o primeiro pensamento que lhes ocorre quando são instados a fazer um exercício de balanço sobre o estado do país no último ano é a forma como o atual Governo chegou ao poder. “Pode até respeitar as regras de apoio parlamentar, mas é um Governo que não foi desejado pelos portugueses”, diz Luís Montenegro. “As promessas não estão a ser cumpridas e a estabilidade política aparente é uma estabilidade feita à custa da instabilidade económica”, defende Nuno Magalhães. Tudo porque o Governo assenta num modelo económico que, dizem, em apenas sete meses “já provou que não é viável”.

Ao Observador, o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, não tem dúvidas em afirmar que os últimos sete meses desde que, a 26 de novembro, o Governo de António Costa tomou posse, “pareceram três ou quatro anos”, a avaliar pelas “reversões” feitas e pela “mudança de trajetória”. “É muito mais fácil destruir em pouco tempo do que construir em muito tempo”, diz. Nisto, não há dúvidas de que PSD e CDS, ainda que oficialmente separados no registo, falam a uma só voz: há um antes e um depois de “nós” e há um país “pior agora”, com “menos esperança” e mais “exposto ao risco”.

Menos esperança porque, explica Montenegro, são “cada vez mais evidentes os sinais de degradação económica”, e mais risco porque “nos estamos a pôr a jeito”. E António Costa que não pense em justificar os números, de crescimento económico e défice, com os fatores externos como o “brexit” ou “a mão pesada da União Europeia”, sublinha o líder parlamentar social-democrata. “Somos atingidos porque nos pusemos a jeito aumentando a nossa vulnerabilidade e a nossa exposição ao risco”, afirma, recusando a ideia de que antes “era tudo perfeito”. “Não era perfeito mas pelo menos estávamos protegidos. E hoje estamos expostos”, diz.

Também o democrata-cristão Nuno Magalhães diz ao Observador que o importante é tirar Portugal do “radar do problema”. “Aquilo que antes diziam que era ser bom aluno não é ser bom ou mau aluno, é não estar no radar do problema. Porque quando a Europa tem problemas como o brexit ou a situação política em Espanha é bom que Portugal não se ponha a jeito para estar no olho do furacão”, sublinha.

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E é este “pôr a jeito” que tanto PSD como CDS dizem que o Governo está a fazer, por não ter “provas” para apresentar em Bruxelas que justifiquem a teoria. “A voz pode ser muito forte mas depois tem pés de barro, não tem sustentação”, resume o deputado social-democrata.

É por isso que Montenegro e Magalhães falam em “duas vozes” de Costa sobre a Europa, num “exercício fanfarrão” e numa postura de “quem fala muito e faz pouco”. Ou um “Tsipras português vestido noutro partido e com outro discurso, mas a querer vender a mesma ilusão” — comparação de Luís Montenegro. Isto porque, explicam, a esquerda “vendeu a ilusão de que bastava berrar contra a austeridade para sair da crise” mas depois os berros só se ouvem internamente. “Lá fora não se vê nada, nem sabemos qual foi o tom do primeiro-ministro na carta que enviou ao presidente da Comissão [Jean-Claude Juncker]”, nota o deputado do CDS, referindo-se à carta que esta semana Costa terá enviado a Juncker num último esforço para evitar a aplicação de sanções.

À direita sabe-se que, esta quinta-feira, quando os deputados e o Governo se reunirem no Parlamento para discutir durante longas horas o Estado da Nação, o tema das sanções da Comissão Europeia a Portugal vai dominar os discursos. O curioso é que é um tema no qual, por incrível que pareça, todos concordam na base: sanções por incumprimento da meta do défice em 2015 são “injustas, desproporcionadas e infundamentadas”. A diferença, segundo explica Montenegro, é que PSD e CDS acham que o primeiro-ministro não tem “argumentos para fundamentar a ideia de que não merecemos sanções”. “E não merecemos porque cumprimos no ano passado e porque o Governo tem de assegurar que cumprimos no futuro, mas isso ele [António Costa] não diz”.

Consumo vs Investimento. E uma questão de ritmo

Certo é que, para PSD e CDS, o modelo de desenvolvimento económico de António Costa e Mário Centeno, que assentava sobretudo num “choque de consumo”, isto é, na rápida devolução de rendimentos à população para aumentar a confiança e o consumo interno, já provou que não resulta nem vai resultar. E não é uma questão de tempo. “Sete meses depois, a verdade é que o choque de rendimentos que iria estimular a procura e a atividade económica não surtiu efeito – nem vai surtir“, diz o líder parlamentar dos sociais-democratas, defendendo que “já há elementos suficientes para aferir que hoje somos um país que gera desconfiança, muito menos investimento, não cria emprego, que tem uma perspetiva de crescimento económico que é, em 2016, inferior ao que foi em 2015, ou seja, que houve uma clara inversão das tendências que se vinham a afirmar no pós-programa desde 2013 e que iam no sentido da recuperação do emprego, do acentuar dos níveis de crescimento da economia e do controlo orçamental muito significativo”.

Nuno Magalhães defende a mesma ideia. “Há um ano, no último debate do Estado da Nação, via-se o investimento a crescer, as exportações como nunca, os índices de confiança dos consumidores e investidores como não tínhamos há 15 anos, o desemprego era alto mas estava a descer, e tudo isso foi hoje desperdiçado em nome, não do interesse nacional, mas do interesse desta maioria se manter no poder”, diz, sublinhando que o modelo do “choque do consumo” está a revelar-se “um fracasso”. “Onde já vão as previsões de crescimento económico do cenário macroeconómico do professor Centeno?”, atira, referindo-se às projeções iniciais feitas pelo atual ministro das Finanças quando o PS começou a desenhar o seu programa eleitoral. Para o líder parlamentar do CDS, prova disso é o facto de Portugal estar a crescer menos do que a maior parte dos países da União Europeia. “Até Espanha, que está com as dificuldades políticas que está, está a crescer cerca de 3%”, nota.

Para o CDS também não se trata de dar mais tempo ao modelo económico para respirar, até porque as primeiras medidas tomadas pelo atual Governo foram logo no sentido da reposição imediata dos rendimentos. “O tempo não é a justificação para aquilo que é a falência do modelo defendido pelos partidos que agora apoiam o Governo”, afirma.

Então, o que teriam PSD e CDS feito de diferente? Primeiro, a diferença está no ritmo de devolução dos rendimentos – que “não seria imediato”, nota Nuno Magalhães. Depois, “não deixaríamos de continuar a apostar como estávamos a apostar na captação de investimento interno e externo e nas exportações”. Luís Montenegro defende o mesmo. “A diferença não está só no ritmo ou no gradualismo da devolução de rendimentos, está em tudo o que gera confiança, credibilidade, e no que fortalece a atratividade para o investimento”, diz, repetindo o mantra da campanha eleitoral da anterior coligação: “Sem confiança não há investimento, sem investimento não há emprego, sem emprego não geramos contribuições, sem contribuições o Estado não tem receita para pagar as prestações sociais”.

Ou sejam “fica tudo fica em causa”, remata.