O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, diz que os franceses “jamais votarão em Marine Le Pen”. Numa entrevista à Rádio Renascença, Schulz, que esteve em Portugal esta terça-feira para participar no funeral de Mário Soares, admitiu que teme a retórica da líder da Frente Nacional, partido de extrema-direita francês, “que remete para os anos 20 e 30 do século passado”, mas confia que os franceses, “que precisam de tomar a decisão, por exemplo, de romper com o euro”, não irão votar em Le Pen.

Ela tem, para tudo, um bode expiatório. Ora os muçulmanos, ora os alemães, ora os capitalistas… Todos os dias um bode expiatório, mas não tem soluções concretas para nada”, acrescentou ainda Martin Schulz sobre a líder da Frente Nacional.

Sobre o crescimento dos partidos de extrema-direita na Europa, Martin Schulz destacou que é necessário “mobilizar a maioria contra essa minoria”. Isto porque “os partidários da extrema-direita, sobretudo os partidos populistas que apelam a um regresso aos nacionalismos, têm 20% em França, ou 15% na Alemanha. Isso significa que 80 ou 85% dos cidadãos não estão a votar neles”.

Martin Schulz, que deixa a presidência do Parlamento Europeu na próxima semana, afirmou que vai decidir como será o seu futuro depois de o seu partido, o SPD, decidir quem irá apresentar às eleições presidenciais deste ano.

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O que está garantido é que Schulz vai preferir dedicar-se à política alemã, depois de dois anos e meio à frente do Parlamento Europeu. “Sou candidato ao Parlamento alemão em setembro, e irei para o Parlamento alemão”, afirmou Schulz, acrescentando que “na situação difícil em que nos encontramos na Europa, a Alemanha tem uma responsabilidade específica”. Combater por essa responsabilidade, admite, é um dos seus objetivos, “seja em Bruxelas, seja em Berlim”.

Schulz rejeitou ainda a ideia de que foi a Alemanha a impor austeridade na Europa. “A União Europeia não é só a Alemanha. No Eurogrupo a Alemanha tem um voto”, sublinhou. “Não se pode dizer que é uma austeridade alemã, é uma austeridade europeia”, acrescentou, destacando que “a austeridade está errada”. Prefere olhar para as receitas, em vez dos cortes. “A luta contra a fuga aos impostos e a fraude é uma das principais medidas para aumentar as receitas nos orçamentos, para não termos de passar todos os dias a falar de cortes”, disse Martin Schulz.

O atual líder do Parlamento Europeu referiu-se ainda à crise dos refugiados que a UE atravessa, sublinhando que “o problema dos refugiados é um problema europeu”, e não apenas alemão. “Se 24 países da União Europeia disserem que não têm nada a ver com isto, e deixarem o problema para a Itália, a Alemanha e a Grécia, então isso é um problema”, destacou.

Mário Soares é “um marco no desenvolvimento da democratização da Europa”

Martin Schulz aproveitou ainda para recordar Mário Soares, motivo que o trouxe a Portugal. “Soares era uma das personalidades mais difíceis que já conheci”, explicou, sublinhando que era “um homem com convicções muito fortes”. Schulz, que esteve com Soares no Parlamento Europeu, recordou o antigo Presidente da República como “um herói, um defensor da democracia, um dos homens que derrubou as últimas ditaduras da Europa”.