Acordos judiciais que envolvem indemnizações e compensações de vários milhares de milhões de euros, e danos para a imagem da empresa, e de várias das suas marcas, de difícil contabilização, são só duas das consequências mais visíveis do escândalo das emissões que o Grupo Volkswagen protagonizou nos EUA. À medida que se aproxima de um desfecho definitivo o processo que fica para a história como o Dieselgate, uma questão estava por esclarecer: quem denunciou a situação, e admitiu, pela primeira vez, que a casa de Wolfsburg estava a falsear os dados das emissões dos seus motores Diesel?
De recordar que, para a instauração do processo, foi determinante a informação prestada às autoridades federais dos EUA por um elemento do próprio Grupo Volkswagen. Um novo livro, intitulado “Faster, Higher, Farther: The Volkswagen Scandal” (“Mais rápido, Mais Alto, Mais Longe: O Escândalo Volkswagen” numa tradução livre), da autoria de Jack Ewing, jornalista do New York Times, com lançamento previsto para Maio, promete ser o primeiro a lançar luz sobre o assunto.
Em declarações ao Automotive News, que já recebeu uma cópia do livro, Jack Ewing avança com o nome de Stuart Johnson, responsável pelo Departamento de Engenharia e Ambiente da Volkswagen nos EUA. A acrescenta: “Fica-se com a sensação, pela leitura dos documentos, que Johnson sempre se sentiu incomodado com toda a situação”, algo que tanto o advogado do executivo da marca germânica, como a própria Volkswagen se terão escusado a comentar.
No livro, o jornalista cita, ainda, uma entrevista com Alberto Ayala, vice-director executivo do CARB (a autoridade ambiental do estado da Califórnia), que refere o mesmo Stuart Johnson como a primeira pessoa a revelar à instituição a existência do sofwtare que permitia manipular as emissões. Alberto Ayala terá acrescentado que tal revelação aconteceu imediatamente antes de uma reunião chave realizada entre o CARB e a Volkswagen, a 19 de Agosto de 2015, e que as declarações de Johnson violavam expressamente as instruções que lhe haviam sido transmitidas pelos seus superiores nesta matéria.
Esta mesma reunião é mencionada no processo movido a Oliver Schmidt, antecessor de Stuart Johnson no cargo, e que enfrenta 11 acusações criminais relacionadas com o Dieselgate. Já a fonte das autoridades é referida, no processo, apenas como “Testemunha Colaboradora 1” (TC1), como um “empregado da Volkswagen que trabalha no departamento de desenvolvimento de motores”, e ainda como alguém “que acedeu a cooperar com a investigação do governo em troca de um acordo em que o governo não acusará a TC1 nos Estados Unidos”. O que, até ao momento, se veio a confirmar. Segundo a acusação, existe uma segunda testemunha colaboradora, cuja identidade permanece desconhecida e que também acedeu a cooperar em troca de não ser acusada.