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Países árabes cortam relações diplomáticas com Qatar e aumentam a tensão no Golfo

Este artigo tem mais de 5 anos

Arábia Saudita e mais três países acusam o Qatar de apoiar organizações terroristas, como o Estado Islâmico. Em causa, está a aproximação do Qatar ao Irão. Crise pode ter sido causada por "fake news".

A Arábia Saudita (liderada pelo rei Salman, na fotografia) está a liderar o corte de relações diplomáticas com o Qatar, que está agora significativamente isolado do ponto de vista político e geográfico
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A Arábia Saudita (liderada pelo rei Salman, na fotografia) está a liderar o corte de relações diplomáticas com o Qatar, que está agora significativamente isolado do ponto de vista político e geográfico

(FAYEZ NURELDINE/AFP/Getty Images)

A Arábia Saudita (liderada pelo rei Salman, na fotografia) está a liderar o corte de relações diplomáticas com o Qatar, que está agora significativamente isolado do ponto de vista político e geográfico

(FAYEZ NURELDINE/AFP/Getty Images)

Perante acusações de ingerência e de apoio ao terrorismo, Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos anunciaram este domingo o corte de relações diplomáticas, suspensão de ligações aéreas e marítimas com o Qatar. Em causa, está a aproximação do Qatar ao Irão, o maior rival dos sauditas na região.

Num comunicado divulgado na televisão pública da Árabia Saudita, a SPA, o regime de Riade acusa o Qatar de “acolher vários grupos terroristas e sectários que têm o objetivo de desestabilizar a região”. Entre estes grupos, a Arábia Saudita especifica três em particular: a Irmandade Muçulmana, o Estado Islâmico e a al-Qaeda.

Mais à frente, refere ainda o alegado “apoio” do Qatar às “atividades de grupos de terroristas ligados ao Irão na província saudita de Qatif e no reino do Bahrein”. Além disso, a Árabia Saudita acusou o Qatar de “promover a mensagem e os esquemas destes grupos” através “dos seus media”. Tudo indica que esta seja uma referência à cadeia noticiosa Al-Jazeera.

O Egito reagiu, referindo que a política do Qatar “ameaça a segurança nacional e alimenta conflito e divisão entre as sociedades árabes, seguindo um plano deliberado para prejudicar a união e os interesses da nação árabe”. Os Emirados Árabes Unidos acusaram Doha de “manipular compromissos”. O Bahrein fala de uma “violação flagrante de todos os acordos, compromissos e princípios da lei internacional, sem estima por valores, pelo Direito, pelos morais ou pelos princípios da boa vizinhança”.

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De acordo com a Al-Arabyia (canal privado pró-saudita), os cidadãos do Qatar que vivam na Árabia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos ou no Bahrein têm 14 dias para sair daqueles países, onde não poderão voltar a entrar. Os agentes diplomáticos têm 48 horas para sair desde a publicação dos anúncios, feitos na manhã desta segunda-feira.

Desde o anúncio daqueles quatro países, os governos do Iémen e da Líbia (que tem uma influência muito reduzida dentro do próprio país, considerado um Estado falhado) e as Maldivas também anunciaram o corte diplomático com o Qatar.

O Qatar faz parte do Conselho de Cooperação do Golfo, do qual também fazem parte, entre outros, a Arábia Saudita, o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos.

A Turquia já reagiu, na voz do ministro dos Negócios Estrangeiro, Mevlüt Çavuşoğlu, que disse que este era “um desenvolvimento triste” e que se ofereceu para servir de mediador entre aqueles países do Golfo e a o Qatar. “Nós podemos dar todos os tipos de apoio para chegar à normalização”, disse.

Qatar diz que é vítima de “campanha provocatória” baseada em “invenções”

O Qatar reagiu na manhã de segunda-feira, dizendo que as medidas anunciadas “não têm justificação e são baseadas em alegações que não têm nenhum fundamento factual”. “O objetivo é claro, que é impor uma tutela ao Estado [do Qatar]. Isto é, em si, uma violação da sua soberania como Estado”, lê-se no comunicado qatari.

“O Qatar foi exposto a uma campanha provocatória baseada em alegações que não passam de absolutas invenções, o que prova que há intenções premeditadas para causar danos ao Estado”, escreve o ministério dos Negócios Estrangeiro do Qatar.

No mesmo documento, o Governo de Doha disse que os desenvolvimentos desta segunda-feira “não vão afetar a vida normal dos cidadãos e residentes” daquele país.

Consequências a nível local e regional

Esta tomada de posição também vai ter consequências na guerra no Iémen, onde a Arábia Saudita lidera uma coligação militar. Até à data, o Qatar fazia parte dela, mas segundo a Reuters será expulso. No comunicado emitido na televisão pública saudita, o regime de Riade chega a acusar o Qatar de colaborar com o inimigo. “As autoridades de Doha [capital do Qatar] têm apoiado as milícias Huti”, lê-se no comunicado, onde são referidos as forças militares que são apoiadas pelo Irão e que são o alvo da coligação liderada pelos saudita.

Além de consequências regionais, os desenvolvimentos da manhã desta segunda-feira vão certamente ter consequências dentro do Qatar. De acordo com um relatório da Future Directions International, datado de 2015, cerca de 90% da comida consumida no Qatar é importada — uma realidade que agora é posta em causa, devido ao fecho de fronteiras imposto pela Arábia Saudita, o único país limítrofe. De acordo com números de 2012, o Qatar tinha um défice comercial agrícola de cerca de 1,5 mil milhões de dólares.

De acordo com relatos que estão a ser publicados no Twitter, já começou uma corrida aos supermercados em Doha, capital do Qatar.

Com as medidas anunciadas esta segunda-feira, o Qatar fica totalmente isolado do tráfego terrestre e em grande parte do tráfego marítimo e aéreo.

Uma crise criada por fake news?

As tensões, que já existem na região há décadas, tiveram o seu mais recente pico depois de a QNA, a agência noticiosa estatal do Qatar, ter transmitido citações do xeque Tamim bin Hamad Al Thani, Emir e líder daquele país.

De acordo com a QNA, o Emir do Qatar terá dito numa cerimónia de graduação de militares, a 23 de maio, que “não é sábio agir com hostilidade perante o Irão”. Ainda sobre o Irão, Tamim bin Hamad Al Thani terá dito ainda que este é “um grande poder para a estabilização da região”. Depois, já noutro tema, embora tenha referido que as relações do seu país com Israel são “boas”, conferiu ainda assim legitimidade ao Hamas como “representante oficial do povo palestiniano”.

Como reação imediata, a Arábia Saudita, o Egito, o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos suspenderam as emissões de media qataris dentro dos seu países.

Estas citações viriam a ser mais tarde desmentidas pelo Qatar, que disse que a sua agência noticiosa estatal tinha sido alvo de um ataque informático. “Há leis internacionais em vigor contra crimes deste género, em particular os ciberataques. [Os hackers] vão ser processados de acordo com a lei”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Mohammed bin Addulrahman.

Medidas surgem depois de Donald Trump endurecer discurso contra o Irão

Estes desenvolvimentos seguiram-se todos após a visita do presidente norte-americano, Donald Trump, à Arábia Saudita, o maior aliado dos EUA na região além de Israel. Num discurso perante representantes de várias nações árabes — incluindo do Qatar –, Donald Trump disse: “Durante décadas, o Irão deitou achas para a fogueira do conflito e do terror sectário. É um Governo que fala abertamente a favor de homicídios em massa, que jura a destruição de Israel, morte aos americanos e a muitos líderes e nações nesta sala”.

Donald Trump disse ainda que “todas as nações de consciência têm de trabalhar juntas para isolar o Irão”.

No decurso da sua visita oficial na Arábia Saudita, os EUA fecharam um negócio que contempla a venda de 110 mil milhões de dólares (mais de 97,6 mil milhões de euros) em armas a Riade.

O gesto da Arábia Saudita e dos outros países surge como uma consequência da atual política norte-americana perante o Irão, depois da aproximação norte-americana a Teerão, forjada pela administração de Barack Obama juntamente com o Governo de Hassan Rouhani. O resultada mais concreto desse processo foi o acordo nuclear do Irão, que Donald Trump prometeu, repetidas vezes, “rasgar”. Ao mesmo tempo, os EUA de Donald Trump reafirmam a sua parceria regional com a Arábia Saudita, apesar de, durante a sua campanha eleitoral, o Presidente norte-americano ter sido uma voz crítica dos sauditas.

A partir da Austrália, o Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, procurou desvalorizar as consequências da notícia desta segunda-feira. “Eu não espero que haja um impacto significante, ou qualquer impacto, na luta conjunta contra o terrorismo na região ou a nível global”, disse o chefe da diplomacia norte-americana, em Sydney.

Os EUA têm uma base aérea no Qatar, onde estão colocados cerca de 10 mil militares norte-americanos. Ainda não é claro de que forma é que aquela base pode ser afetada pela decisão anunciada pela Arábia Saudita e os seus parceiros na região.

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