“Há 12 anos que digo que quero ter um restaurante”, conta-nos Pedro Braga, sentado no sonho que acaba de realizar. Fica na Baixa do Porto e chamou-lhe Mito, não porque queira que o espaço se torne num, mas como homenagem ao seu grupo de amigos de juventude, que ainda resiste junto após 15 anos de diferentes percursos. As portas do Mito abriram na noite de 12 de julho, sem pompa, para servir aos primeiros clientes os pratos que o chef criou de raiz.

Doce é a pavlova de frutos vermelhos macerados, ou o soufflé frio de chocolate com fudge, marshmallow e gelado de cereja, que tem na carta. Mas a liberdade pode ser ainda mais doce. Liberdade de escolher tudo tal como quer, sem dar satisfação a patrões ou acionistas, de tirar e acrescentar pratos à carta sempre que quiser, de decorar o espaço de forma minimalista, sem ‘frufrus’.

Com o encerramento do Tenra, o chef de 34 anos, que já passou por Londres, pela Quinta da Malhadinha e pelos restaurantes Pedro Lemos e Reitoria, decidiu que, a partir daquele momento, o rumo das coisas ia ser diferente. “Quero que o Mito seja um sítio relaxado, quero tirar a tensão à mesa que eu acho que, de certa forma, se criou com o fine dining. Eu aproximei-me desse registo, mas acho que deixou de me fazer sentido.”

Bife tártaro de alcatra. (foto: © Ricardo Castelo / Observador)

O nome Mito também tem a ver com a ideia que algumas pessoas fazem do que será ir jantar a um restaurante de ‘chef’. “Quando entrarem vão perceber que não temos entradas, pratos principais nem sobremesas.” A carta está dividida simplesmente em “frios”, “quentes”, “carvão” e “doces”. A partir daí, a refeição é composta com quantos pratos se quiser de qualquer uma das secções, sem ordem aconselhada. Para partilhar, ou não. É, literalmente, à vontade do freguês.

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Nos frios está, por exemplo, o tártaro de alcatra, que leva uma gema curada em soja, caldo de cogumelos fumados e lâminas de cogumelos (10€). Há também uma sopa fria de milho, que leva caril, lima, mel, camarão grelhado e com o toque mexicano do pico-de-gallo (6€).

Nos quentes encontramos croquetes de boi velho acompanhados com maionese de chouriço (5,50€), um arroz de tamboril que leva camarão, coentros, cebolete e o picante sriracha (24€ para duas pessoas), lingueirão e dois baos, pãezinhos de origem asiática cozinhados a vapor: um de polvo com kimchi e sésamo e outro de caranguejo casca mole, acompanhado por salada de tomate e maionese de abacate.

Com 34 anos, o chef Pedro Braga provou o luxo. E concluiu que, o que quer, é dar às pessoas boa comida num local descontraído. (foto: © Ricardo Castelo / Observador)

Um dos pratos vegetarianos que salta à vista é o de cenoura assada com grão de bico, gelado de cereja, cominhos e queijo feta (5,50€). Das memórias das carnes maturadas do Tenra temos o costeletão de um quilo, maturado durante 30 a 45 dias (50€). E um “franganito” assado, como se diz no Algarve, onde Pedro estudou. É pequeno, tenrinho e recheado com cogumelos, citrinos, ervas, malagueta e acompanhado com batata e creme de queijo (17€).

Há os clássicos bacalhau assado e polvo grelhado, e um “Tutano“, um osso de carne de vaca cortado a meio, cozinhado a baixa temperatura, ao qual se juntam crosta de camarão e especiarias asiáticas (6€).

De Londres, Pedro Braga trouxe a ideia da rabanada de matcha (chá verde) com gelado de bacon (sim, isso mesmo, gelado de bacon) e xarope de ácer (5€). É um dos doces disponíveis na casa, assim como a pavlova, o soufflé supramencionados, e o cheesecake NY style com nectarina e rum.

A casa abre às 18h30 para quem quiser trincar algo enquanto pratica um dos desportos favoritos de tanta gente, o copo ao fim do dia. A carta de vinhos tem quase 30 referências portuguesas, às quais se juntam cinco vinhos a copo (branco, tinto e rosé, entre 3€ e 4€). Ainda faltam os vinhos do Porto e o espumante Murganheira, o mesmo que serviu no seu casamento.

Há 10 cocktails de autor na carta de bar do Mito, seja para beber ao jantar, seja pra o copo ao fim do dia. (foto: © Ricardo Castelo / Observador)

Entre licores, runs, uísques, aguardentes e até uma vodka biológica, destaque para 10 cocktails de autor feitos pelo barman Dimitri, que até tem um cocktail com o seu nome, o Dimi, com vinho branco, creme cassis, triple sec, açúcar, limão e lima. Todos entre os 4,50€ e os 7,50€. A escolha das bebidas brancas não é secundária e Pedro Braga destaca os gins menos habituais que decidiu ter no Mito, como o Puerto de Indias. Vale a pena pedir-lhe para contar a história de como estes espanhóis criaram sem querer um gin de morango que é um sucesso de vendas.

A abertura para o almoço está para breve, mas ainda sem data definida. Nessa altura haverá uma segunda carta com cinco a oito sugestões, “os chamados ‘specials’ em Londres, para aproveitar oportunidades de mercado e dar uso à criatividade”, explica o chef.

O espaço pertencia anteriormente ao Achas na Fogueira, que acabou por fechar, e conta com 37 lugares sentados, rodeados por uma decoração minimalista. “Aquele amplificador tem mais de 30 anos, era do meu pai e vai dar aqui música, não é uma peça decorativa. Estes tubos que estão nas paredes e no tecto, passam cabos elétricos por dentro, são verdadeiros. Tal como a comida. É esse o grande objetivo deste projeto. Espero que as pessoas o entendam.”

Nome: Mito
Morada: Rua José Falcão, 183, Porto (Baixa)
Telefone: 91 750 9955
Horário: De terça a quinta das 18h30 às 23h, sextas e sábados das 18h30 às 01h. A abertura ao almoço está para breve.
Reservas: Aceita
Preço médio: 25€ – 35€
Site: www.facebook.com/mitorestaurante