A carne chega de Grândola. Os vegetais de Melides. O peixe da Carrasqueira. As ostras do Sado. O requeijão de Alcácer. E as batatas do Carvalhal. Já Bruno Caseiro e Filipa Gonçalves chegam de Londres, onde passaram os últimos cinco anos. Pelo segundo verão consecutivo estão na Comporta — depois de uma primeira experiência, em 2016, no restaurante do hotel Sublime (que o Observador relatou aqui). A diferença? Finda a temporada não voltarão à capital britânica. “A ideia com que viemos foi a de abrir um espaço em Lisboa. Mas há uma hipótese de ficarmos aqui para lá da data prevista”, explica Bruno.
Essa data é 17 de setembro. Ou seja, o Cavalariça é um restaurante pop-up. Temporário, se preferir. As portas do espaço abriram-se para o casal pouco depois do regresso a Londres, no final do verão passado. “Recebemos um email do Christopher Morrell, que detém este espaço e que chegou até nós através de amigos em comum”, recorda Bruno. CJ, como lhe chamam — que entretanto se tornou sócio da dupla neste projeto — lançou-lhes um desafio: fazer algo completamente diferente de tudo o que existe na região. “Ele gostava que a Comporta tivesse um restaurante parecido com o que há em Londres, Paris ou qualquer grande cidade”, define Bruno.
O pop-up começou a ser planeado quase de imediato. A parte de fazer diferente não assustava: Bruno e Filipa conheciam bem a maioria dos restaurantes das redondezas. Desenhar uma ementa de cariz internacional também não: tanto Bruno, chefe de cozinha, como Filipa, que é chefe pasteleira — embora aqui assuma o papel de gerente –, tinham experiência de sobra em Londres, sobretudo com o português Nuno Mendes (Chiltern’s Firehouse e Taberna do Mercado), e, mais recentemente, no restaurante Ours, de Tom Sellers, além de terem passado, em tempos, uns meses com Alex Atala no D.O.M, em São Paulo.
O verdadeiro desafio, neste caso, foi respeitar esse briefing usando os produtos locais. E é isso que torna o Cavalariça um projeto verdadeiramente interessante do ponto de vista gastronómico: “Os nossos únicos fornecedores que não são locais são mesmo de coisas que não conseguimos arranjar aqui, tipo um estabilizador de gelados que tem de vir de Lisboa”, assegura o chef.
A ementa é muito simples e divide-se em quatro secções: entradas — que vão de pequenos snacks a doses consideravelmente maiores –, pratos para partilhar entre 3 a 4 pessoas (só ao jantar), acompanhamentos e sobremesas, criadas por Filipa. Tudo com descrições concisas, sem grandes floreados ou malabarismos. Mesmo quando há muita técnica envolvida — e há, em vários casos –, ela não é enfatizada: trata-se apenas de um meio para chegar ao resultado final, o prato. Bruno justifica a opção: “Quisemos simplificar ao máximo, as pessoas estão de férias, não queremos que este seja um restaurante cerebral nem complicado.”
A dicotomia “produto típico versus prato nada típico” é evidente, por exemplo, numa das entradas, que junta alho francês, requeijão de Alcácer e pinhões (9€). É o prato “quilómetro zero”, como lhe chama Bruno, já que todos os elementos vêm das proximidades. Noutra, o crudo de peixe e sésamo (11€), as influências orientais saltam à vista e ao paladar: a couve portuguesa é tostada no carvão (à semelhança do que os japoneses fazem com a alga nori) antes de ser cortada em juliana e colocada sobre dourada apenas braseada, mergulhada no congee, um caldo asiático de arroz. Qual arroz? Da Comporta, claro. O choco (12€) também é servido frito, mas as semelhanças com a receita típica da região acabam aí: vem na base de uma salada bem recheada de coentros, canónigos, espinafre e amendoins, com um molho de malagueta doce caseiro, amendoim e um ovo a baixa temperatura.
Entre as opções mais substanciais, as tais que são sugeridas para grupos de 3 e 4 pessoas, há frango do campo ao sal (45€) — “um bicho enorme, com três quilos”, avisa Bruno –, costeleta de vaca maturada (78€/kg), polvo inteiro grelhado (49€) ou o peixe do dia (60€/kg). Se o mar estiver de feição, a grelha pode ainda receber uma lagosta inteira (100€/kg).
Os acompanhamentos pedem-se à parte. É nessa secção da carta que se encontram as batatas fritas (6€), merecedoras de um parágrafo próprio. Além de seguirem, na confeção, a técnica das três cozeduras, celebrizada por Heston Blumenthal, são posteriormente finalizadas com toucinho de porco preto curado e fumado no restaurante, que é ralado por cima das ditas. Como é que alguém se lembra disto? Palavra ao chef: “Queria fazer batatas fritas. Mas não queria fazer só batatas fritas. Então pensei: como é que se torna uma coisa que já é boa muito melhor? Com gordura de porco.” Faz sentido.
As chips vão igualmente bem a acompanhar os cocktails da casa, criados por Fábio Nobre, barman que veio de Londres com Bruno e Filipa. Entre as suas criações de assinatura, destaque para o Cavalariça Sour, em que a Amarguinha e o Porto fazem as vezes do Pisco. A partir das 17h30, o bar do restaurante abre as portas para celebrar a Mosquito Hour, assim batizada em honra do famoso inseto, também ele típico desta região. Aos cocktails juntam-se, nessa ocasião, as ostras do Sado. “Decidimos dar este nome porque é a hora em que eles atacam mais”, justifica Filipa. Nada a temer, neste Cavalariça não faltam mosquiteiros. Nem boa cozinha.
Nome: Cavalariça
Morada: Rua do Secador, 9, Comporta
Telefone: 93 045 1879
Horário: Todos os dias, das 13h às 15h e das 19h30 às 23h (a partir das 17h30 servem cocktails e ostras). À segunda feira servem apenas jantares.
E-Mail: restaurante@cavalaricacomporta.com
Site: www.cavalaricacomporta.com
Preço Médio: 30€
Reservas: Aceitam