Os dotes de oratória podem não ser a maior virtude de Angela Merkel mas, na hora de enfrentar os seus principais rivais políticos, a chanceler alemã prova por que razão se mantém na liderança do país há 12 anos. No principal debate televisivo com Martin Schulz, neste domingo à noite, Merkel apresentou-se mais confiante e experiente na defesa dos temas mais sensíveis, contra um opositor que não lhe conseguiu levar a melhor. De acordo com o Der Spiegel, esta terá sido mesmo a sua melhor performance, depois de ter perdido pontos em alguns confrontos – e vários outros meios que seguiram o debate não hesitam em dar a vitória à governante.

A três semanas das eleições na Alemanha, agendadas para o próximo dia 24 de setembro, a líder conservadora da CDU saiu votada como a mais credível por 55% das pessoas que assistiram ao debate, contra 35% que preferiram Schulz, de acordo com o inquérito Tagesschau – um número inédito para a chanceler num debate pré-eleitoral, que se terá saído melhor nos campos da “competência, argumentação e confiança”. Ao fim de 90 minutos de debate, Schulz só ganhou num indicador, com uns esmagadores 85% a considerarem que o líder social-democrata foi o mais agressivo no debate.

Também o barómetro ZDF dá a vitória a Merkel, apesar de o seu favoritismo cair ligeiramente: antes do debate, 60% dos inquiridos garantiram que preferiam manter a chanceler alemã na liderança do governo, depois do debate esse número passou para 53%. Neste indicador, o líder do partido SPD passou de 33% para 39%. Na avaliação de performance, também aqui Merkel levou a melhor.

O debate foi seguido com especial atenção na Europa — estima-se que por cerca de 20 milhões de pessoas — por várias razões. Primeiro, como relembra o Politico num extenso artigo, a Alemanha é a maior economia europeia, o país mais populoso e tem em Berlim o centro de decisão mais influente da União Europeia – uma influência que certamente se tornará ainda maior depois da saída do Reino Unido, a partir de 2019. Isto significa que, quem governar a Alemanha a partir deste ano terá uma palavra decisiva sobre o futuro do euro, as políticas de defesa e as relações transatlânticas e muitos outros assuntos, como Trump ou a adesão da Turquia à comunidade.

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Outro elemento de curiosidade era a performance de Martin Schulz. Para o antigo presidente do Parlamento Europeu, o debate do último domingo seria a sua última grande oportunidade de ganhar terreno ao partido de Merkel, que continua a liderar as sondagens. Mas o tom hostil e alguma dificuldade em argumentar contra a experiência e firmeza da chanceler jogaram contra si.

De acordo com as últimas sondagens de 30 de agosto, a coligação da União Democrata Cristã (CDU) com a União Social Cristã (CSU), da Bavária, lidera com 38% das intenções de voto, contra 24% dos sociais-democratas da SPD – números que, a confirmarem-se, significam o quarto mandato de Angela Merkel. Mas o número de indecisos, que andará na casa dos 40% ou mais, deixa ainda tudo em aberto para as eleições gerais que vão ditar os futuros assentos no Bundestag, o parlamento alemão.