Dois anos depois do escândalo do dieselgate, que abalou o maior fabricante automóvel mundial, a Volkswagen está já a recuperar nas vendas, ainda lentamente, mas com a ambição de ganhar força. Mas apesar do anúncio recente da aposta na mobilidade elétrica, que vai acelerar a partir de 2020, o grupo não deixa cair o combustível que levou a marca a alemã aos primeiros lugares de vendas de carros ligeiros.
O presidente executivo da marca, Herbert Diess, adianta que a empresa vai continuar a investir, “absolutamente”, nos carros a gasóleo e já está a trabalhar na próxima geração de motores a diesel, à medida que substitui os atuais sistemas por equipamentos que, assegura, “são os melhores da indústria em termos de emissões”.
“O diesel, sobretudo para carros maiores e pessoas que fazem grandes distâncias, tem um longo futuro”, sublinhou o gestor numa conversa com jornalistas portugueses, por ocasião do salão automóvel de Frankfurt, onde o T-Roc, o modelo que já está a ser fabricado na Autoeuropa foi um dos principais destaques.
Apesar de se descrever como “um grande crente nos carros elétricos”, Herbert Diess avisa que não se deve eletrificar tudo, porque “nem toda a energia elétrica vem de fontes renováveis”. O caminho a seguir, diz, “é promover o carro elétrico para passageiros, não para longas distâncias, mas para médias distâncias”. Também não defende a mobilidade elétrica no transporte de mercadoras.
“O maior desafio do carro elétrico”, afirma, é conseguir “produzir carros a preços mais baixos e com maior autonomia — 400 a 600 quilómetros — que sejam competitivos com os de um carro a gasóleo. Mas para lá chegar ,ainda há muito que tem de ser feito. E não apenas a nível da indústria automóvel, mas também na infraestrutura para abastecimento aos carros elétricos. Sublinhando que todos os combustíveis têm vantagens e desvantagens, o administrador da Volkswagen reconhece que o carro elétrico se “vai tornar uma verdadeira alternativa nas próximas décadas. Daí o anúncio feito pela marca alemã de que todos os modelos terão uma versão elétrica no mercado até 2030.
“Pensamos que 2020 é o timing correto para iniciar a produção em massa do carro elétrico porque estes modelos têm de ser competitivos no preço com o diesel e o diesel já está mais caro (por causa da maior exigência no controlo das emissões), ao mesmo tempo que as baterias estão a ficar mais baratas. Temos de ter uma oferta competitiva para o cliente.”
A produção em escala dos novos veículos elétricos vai começar na Alemanha e irá estender-se à China e aos Estados Unidos. O gestor sublinha que a política de incentivo público na China é muito mais forte do que em outros países e que este mercado será por isso um alvo prioritário.
Volkswagen vai produzir versões elétricas de todos os seus 300 modelos até 2030
Apesar de ter voltado crescer nas vendas a nível mundial — crescimento de 9% até agosto — o grupo alemão ainda está a perder quota de mercado em casa, ou seja, no mercado alemão. Situação que espera inverter com os novos modelos e uma política comercial agressiva que oferece até 10 mil euros por cada carro antigo a diesel (de qualquer marca) na compra de um modelo novo da Volkswagen. Quanto mais caro o modelo, como são atualmente os híbridos e os elétricos, maior o cheque oferecido por este programa que se aplica apenas ao mercado alemão.
O administrador do grupo Volkswagen revelou ainda que a empresa já corrigiu 60% dos carros a diesel que estavam equipados com o software defeituoso (ou fraudulento) que permitia aos modelos da marca apresentar nos testes emissões mais baixas do que as reais. A percentagem é mais elevada na Alemanha e não foram dados números para o mercado português.