Catarina Martins começou a discussão na Marinha Grande. Jerónimo de Sousa respondeu em Tomar. E a coordenadora do Bloco procurou acalmar o discurso em Gondomar. O bate-boca entre Bloco e CDU, que marcou o primeiro dia de campanha eleitoral para as autárquicas, começou com uma crítica feroz de Catarina Martins às autarquias que ficaram em “silêncio cúmplice” perante os cortes orçamentais quando o Governo “mandou apertar”.
Jerónimo de Sousa não se reviu nos ataques às câmaras, garantiu que as autarquias onde está a CDU “nunca faltaram” aos cidadãos e usou a fábula da raposa e das uvas para criticar o Bloco de Esquerda — sem se referir diretamente ao partido. A terceira parte (e última, para já) da discussão foi na noite de terça-feira, com Catarina Martins a dizer que o Bloco “não critica o PCP” e que Jerónimo de Sousa “tomou as dores” às críticas que fez às autarquias. Aqui está uma cronologia para perceber ao detalhe a troca de acusações:
Catarina Martins (segunda-feira, 18h, Marinha Grande)
Foi na Marinha Grande, bastião comunista durante décadas, que começou a discussão à esquerda, entre Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. Durante um comício de apresentação das candidaturas bloquistas no município, a coordenadora do Bloco de Esquerda atirou a primeira declaração polémica: “Fico absolutamente chocada com o silêncio das autarquias durante anos e anos enquanto as suas populações viam ser degradados os serviços que lhes dão apoio“. Mas nunca disse que estava a falar de câmaras comunistas, até porque a Marinha Grande agora tem um executivo liderado por socialistas.
Criticando a forma “como os poderes autárquicos, um pouco por todo o país, na generalidade dos casos se calaram enquanto as condições de acesso à educação, à saúde, à cultura, às condições ambientais em cada uma das comunidades se foram degradando“, Catarina Martins afirmou que se trata de um “silêncio cúmplice da destruição dos serviços públicos” e garantiu que “é também para mudar este estado de coisas que o BE se apresenta às eleições autárquicas”. E aqui entrou em território de competição com a CDU.
“A ideia de que em cada freguesia ou em cada concelho, se o Governo manda apertar, se aperta ainda mais é uma ideia absolutamente perigosa sobre as condições de vida do nosso país“, disse ainda Catarina Martins, referindo-se ao período dos cortes orçamentais introduzidos pela troika no tempo do governo do PSD e CDS.
Jerónimo de Sousa (terça-feira, 13h, Tomar)
O secretário-geral do PCP não gostou das críticas de Catarina Martins às autarquias e respondeu-lhe no dia seguinte, num almoço-comício em Tomar: “Aos que por ignorância ou verbalismo atiram pedras para o ar, podemos assegurar que os eleitos da CDU nunca faltaram, em maioria ou minoria, à defesa dos interesses dos trabalhadores e das populações“. Enfiou a carapuça, não fosse alguém pensar que as câmaras comunistas tivessem sido subservientes para com a troika, ou o Governo de direita.
Jerónimo não se referiu diretamente ao Bloco (tal como Catarina não se tinha referido diretamente à CDU), mas a mensagem estava lá, e até recorreu à conhecida fábula da raposa e das uvas para se referir à pequena implantação do Bloco de Esquerda nas autarquias. “Eles têm um pouco a síndrome da raposa, que vê um cacho de uvas, salta três vezes e não as apanha. Então, vira-se de costas, de forma desdenhosa, e diz: estão verdes, não prestam’. É a mesma conceção que têm em relação às autarquias”.
“As populações ficam a ganhar porque a CDU é a grande força de esquerda no poder local. Sabem que os eleitos CDU não só asseguram uma gestão diferente e ao serviço das suas aspirações como encontram quem aja, organize e mobilize a luta em defesa dos seus direitos”, rematou Jerónimo de Sousa.
Catarina Martins (terça-feira, 21h30, Gondomar)
A fábula de Jerónimo de Sousa não ficaria sem resposta. No próprio dia, após um comício de apresentação de candidaturas do Bloco em Gondomar, Catarina Martins voltou ao assunto, mostrando-se surpreendida com as palavras de Jerónimo e preferindo um tom conciliador: “Eu critiquei autarcas que se calaram perante as maldades da troika. Jerónimo de Sousa tomou-lhe as dores, não percebo bem porquê e decidiu atacar o Bloco de Esquerda. Nós temos outros adversários e temos também caminhos convergentes para fazer juntos“.
A coordenadora do Bloco preferiu destacar o “trabalho convergente sobre aquilo que é essencial”, não esquecendo as “divergências que são conhecidas”. “O Bloco de Esquerda não ataca o PCP. Temos outros adversários e as pessoas sabem disso“, sublinhou.
“Amanhã, espero eu, vamos estar juntos [BE e PCP] a votar o projeto de lei que pode parar os despedimentos que a Altice quer fazer na PT e é isso que nós valorizamos”, destacou Catarina Martins.