Sabemos descodificar pinturas rupestres. Conseguimos perceber que dinossauros viveram em determinada região através das suas pegadas. Atribuímos significados a movimentos artísticos, a músicas, a livros, a filmes. Há poucos mistérios por resolver. Mas a igreja de Alaiza, na província de Álava, no País Basco, em Espanha, tem um enigma por desvendar desde o século XIV.
Há 35 anos, o pároco daquela igreja descobriu pinturas que deixaram uma comunidade inteira de boca aberta. A notícia rapidamente se espalhou: vários cavaleiros e guerreiros atacavam um castelo, um homem deixa cair o peso do seu corpo para tocar nos sinos de uma igreja onde estão cervos, mulheres a transportar copos e uns seres estranhos que parecem exibir os órgãos genitais, enquanto um centauro assiste a um enterro na esquina em que uma mulher parece dar à luz e outra aparenta estar a ser violada. Confuso? A Igreja também ficou.
As pinturas da igreja de Alaiza são como um livro de banda desenhada”, brinca José López de Ocariz, professor de História na Escola de Estudos Sociais de Paris, para depois acrescentar que são “um livro de banda desenhada libertário pintado no século XIV numa igreja românica do final do século XIII”.
Nada faz sentido nesta história. E é por isso que no próximo dia 10 de novembro, um grupo de especialistas em arte medieval vai tentar desvendar os segredos desta pintura.
De acordo com o El País, alguns historiadores criam ainda mais incerteza ao tentar encontrar algum tipo de associação com o passado ou o futuro. As imagens, que se assemelham mais a figuras pré-românicas do que às do século XIV, têm sido permanentemente ligadas a inúmeros acontecimentos históricos – numa tentativa de justificar e dar algum tipo de significado às pinturas. Mas todas as teorias acabam num beco sem saída.
Mas o mistério da igreja de Alaiza não se fica pelas imagens: debaixo das pinturas, uma inscrição incompleta em latim tem referências ao corpo de Cristo e ao inferno. O que é que estas duas alusões têm a ver com as figuras? Nada. Em tom de brincadeira, o professor López de Ocariz disse ao El País que tudo seria muito mais simples se esta inscrição explicasse o sentido das imagens.
“Isto parece o noticiário de um dia de verão de há 650 anos”, atira o professor.
No dia 10 de novembro, a Igreja, em conjunto com um grupo de teóricos, vai tentar desvendar o mistério da igreja de Alaiza que dura desde o século XIV.