A venda de divisas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) à banca comercial voltou a aumentar na última semana, face à anterior, para 261,1 milhões de euros, mas mais de 80% destinaram-se à importação de alimentos.

A informação consta do relatório semanal do BNA sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, entre 13 e 17 de novembro, e surge após os 203,7 milhões de euros e 80,1 milhões de euros disponibilizados à banca nas duas semanas anteriores.

Segundo o documento, libertado esta segunda-feira e consultado pela Lusa, as divisas vendidas – mantêm-se exclusivamente em euros há mais de um ano e meio -, equivalentes a 291,8 milhões de dólares, cobriram essencialmente as necessidades de importação de alimentos, neste caso no valor de 215,3 milhões de euros.

Já na semana anterior, entre 203,7 milhões de euros disponibilizados em divisas aos bancos comerciais, mais de 158 milhões de euros (75%) tinham sido destinados à importação de alimentos, o que é explicável com a aproximação da época festiva.

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No período entre 13 e 17 de novembro, o BNA disponibilizou 22,4 milhões de euros em divisas através de um leilão de preço, para cobertura de operações do setor petrolífero, 6,4 milhões de euros para o setor da Indústria e 2,4 milhões de euros para o setor dos Transportes, entre outros.

A taxa de câmbio média de referência de venda do mercado cambial primário, apurada pelo banco central no final da última semana, manteve-se praticamente inalterada nos 166,749 kwanzas por cada dólar e nos 186,303 kwanzas por cada euro, sem mexidas significativas há um ano e meio.

No mercado de rua, a única alternativa, embora ilegal, face à falta de divisas aos balcões dos bancos, cada dólar norte-americano custa à volta de 400 kwanzas.

O novo Presidente angolano, João Lourenço, deu posse a 30 de outubro a José de Lima Massano no cargo de governador do BNA, exonerando, a seu pedido, Valter Filipe, que estava em funções desde março de 2016.

Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise financeira e económica, com a forte quebra das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade.

Esta conjuntura levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando nomeadamente as importações.

Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares desde 2016, a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao BNA (euros).

A gestão das divisas foi um dos assuntos que mereceu destaque no anual discurso sobre o estado da Nação, feito pelo Presidente angolano, João Lourenço, na Assembleia Nacional, a 16 de outubro, durante o qual já deixava a antever a mudança no comando do BNA.

Numa altura em que as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas – reservas em moeda estrangeira necessárias para garantir importações – estão em forte queda, devido à crise financeira, económica e cambial que o país atravessa, João Lourenço apontou a necessidade de serem protegidas, mas sem que isso prejudique a recuperação económica.

“Vamos encontrar os melhores mecanismos para que as escassas divisas disponíveis deixem de beneficiar apenas a um grupo reduzido de empresas e passem a beneficiar os grandes importadores de bens de consumo e de matérias-primas e de equipamentos que garantam o fomento da produção nacional”, enfatizou.

“Importa impedir que a venda direta de divisas seja uma forma encapotada de exportação de capitais, sem o correspondente benefício para o país”, acrescentou o Presidente.