Está oficialmente confirmado: a nova gama de veículos eléctricos da Volkswagen irá dar o pontapé de saída no final de 2019. A certeza é tal que até já há timings a cumprir: dentro de 99 semanas, no máximo, irá abandonar a linha de montagem o primeiro elemento da nova família eléctrica da marca germânica. Portanto, um I.D., proposta a que a Volkswagen quer fazer corresponder, no domínio dos eléctricos, o sucesso comercial que o Golf tem granjeado, entre os modelos movidos a motores de combustão. E tanto assim é que a própria marca já fez saber que pretende comercializar o hatchback eléctrico ao preço de um Golf diesel. Mas, como se isso não bastasse, oferecendo o espaço interior de um Passat e uma autonomia de 600 km.

Foi o próprio CEO da Volkswagen, Herbert Diess, quem avançou com estes prazos, num anúncio em que confirmou também aquilo que já se sabia – a assinatura de contratos com fornecedores, de modo a permitir à marca concretizar aquilo que ela própria classifica como “a maior ofensiva de produtos e de tecnologia da história”. Sendo expectável que os acordos assinados prevejam fornecimentos a larga escala, pois só com volume a marca germânica conseguirá praticar os preços acessíveis que promete para a sua nova gama de eléctricos.

Só a Volkswagen pretende introduzir, até 2022, 20 novos modelos assentes na plataforma modular MEB – especificamente concebida para suportar todo o portefólio de novas propostas eléctricas do grupo que, em conjunto, totalizam 32 produtos, repartidos pelas diferentes marcas.

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Mas há mais para ler neste anúncio de Diess. E nem é preciso procurar nas entrelinhas. É o próprio patrão da Volkswagen quem adianta que não só o primeiro I.D. vai sair da fábrica de Zwickau, como esta unidade fabril na região da Saxónia será a que vai concentrar a maioria da produção dos novos eléctricos. Nas palavras de Herbert Diess: será convertida no “maior centro de mobilidade eléctrica de toda a Europa”.

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A confirmar-se o quadro agora traçado pelo responsável máximo do construtor de Wolfsburgo, às restantes fábricas da marca – incluindo à Autoeuropa – restará (apenas) continuar a produzir veículos propulsionados por combustíveis fósseis. O que, de acordo com diferentes previsões, tende a ver a sua procura diminuir, à medida que são adoptadas políticas cada vez mais restritivas do ponto de vista ambiental.

Para as unidades fabris como a portuguesa, especializada em veículos sem qualquer tipo de electrificação, o problema não reside no actual ciclo de produto. Ou seja, o Volkswagen T-Roc, pensado para montar exclusivamente motores a gasolina ou diesel, deverá ser produzido até 2024. As dificuldades começarão a partir daí, especialmente devido ao relacionamento difícil que actualmente existe entre trabalhadores e administração.

Por outro lado, como a plataforma MEB foi desenhada para ser “pau para toda a obra”, ou seja, capaz de servir de base a eléctricos de diferentes dimensões e acomodar diferentes packs, consoante se pretenda maior ou menor autonomia, qualquer unidade fabril que seja preparada para o efeito poderá produzir todos os modelos assentes nessa plataforma. Ora, segundo Diess, o maior centro europeu de mobilidade eléctrica já tem morada: Zwickau.

Ambicionando a liderança da mobilidade eléctrica, a Volkswagen vai investir 6 mil milhões de euros, nos próximos cinco anos, neste domínio. Mas, face aos actuais níveis de confiança, dificilmente a Autoeuropa receberá os enormes investimentos necessários para fabricar em Portugal os novos eléctricos da marca, de forma a permitir à linha de fabrico trabalhar com a nova plataforma MEB. Como se isto não bastasse, é mais complexo deslocar até nós os packs de baterias – substancialmente mais volumosos e pesados, podendo oscilar entre os 350 e os 600 kg – que vão alimentar a família de modelos I.D., do que os actuais motores e caixas, que a Volkswagen desloca de outras fábricas do grupo para o nosso país.

Em contrapartida, é possível imaginar na Autoeuropa a produção de um sucessor do T-Roc, já com alguma electrificação – do tipo Mild Hydrid ou até híbrido plug-in, capaz de fazer 50 a 70 km em modo eléctrico. E, como a fábrica portuguesa não tem grande capacidade de produção, poderia até ser possível deslocar para cá um veículo como o I.D. Buzz, que necessita de uma linha particularmente versátil (e não muito rápida) para montar todos os arranjos interiores, deste os mais irreverentes destinados aos surfistas, aos mais convencionais vocacionados para o car sharing. Qualquer uma destas hipóteses terá ou não maior probabilidade de vir a acontecer, consoante evolua o clima que recentemente se instalou em Palmela.