Abusos sexuais, maus tratos e insultos é assim descrita a vida de sete irmãos que vivem em Sevilha. Ao que parece, a “casa dos horrores” não existe só na Califórnia. Quase ao mesmo tempo em que os treze filhos do casal Turpin foram sequestrados pelos próprios pais, nos Estados Unidos, sete irmãos viviam um “inferno” semelhante em Espanha.
Na casa dos horrores espanhola, que se situa no Polígono Sur, Sevilha, num dos blocos de vivendas sociais que foram construídas há décadas, sete irmãos viveram durante quatro anos, entre 2009 e 2013, o maior pesadelo das suas vidas. O pai das crianças, Antonio M.U., de 36 anos, transformou a vida familiar num autêntico inferno: os maus tratos, insultos e até abusos sexuais faziam parte da rotina dos irmãos, mas também da mãe.
Dentro da casa dos horrores. As explicações psicológicas para o caso dos 13 filhos acorrentados
De acordo com o jornal El Mundo, uma das filhas, quando tinha 13 anos, era tocada pelo pai, que se despia e se colocava na sua cama para tentar violá-la. A menor contou aos serviços sociais espanhóis que às vezes acordava sobressaltada a meio da noite e que encontrava o pai a fumar na sua cama.
“Se não conseguia os seus objetivos sexuais mais vezes era porque ela resistia“: a filha mais velha conta que um dia em que estava com o pai no sofá, este lhe tocou no peito, mas ela respondeu com uma bofetada, evitando assim que a situação avançasse, pelo menos naquele dia.
Os restantes filhos eram alvo de insultos e humilhações constantes, bem como de maus tratos. A sentença diz que o pai obrigava os filhos a ver “como mantinha relações sexuais com a mãe” e, embora não se tenha provado, a acusação acrescenta que o pai os obrigava a ver pornografia com ele.
A mãe não escapava à violência e os filhos eram muitas vezes agredidos por tentarem defendê-la. O jornal espanhol conta que a mulher era forçada a ter sexo “entre gritos e insultos” e que, nessas alturas, as crianças se refugiavam nos quartos para evitarem ouvir o eco do horror. O “Turpin espanhol” não chegou ao extremo de fechar os filhos e a mulher em casa, mas os danos psicológicos causados vão levar tempo a sarar.
Uma das filhas conta que o pai nem sempre foi assim e que as situações de maus tratos começaram depois da morte de um dos filhos. Foi nesta altura que começou a consumir drogas e que a violência passou a fazer parte do dia-a-dia da família: “Tive de me calar a metade das coisas a que assisti”, conta.
Oito anos de prisão: seis pelos abusos sexuais e dois por maus tratos
Antonio M.U. foi condenado recentemente a oito anos de prisão, seis pelos abusos sexuais a que submeteu a filha mais velha e outros dois pelos maus tratos que cometia contra os restantes filhos. Para além da pena que tem de cumprir, não pode comunicar nem aproximar-se dos filhos “durante anos”.
O tribunal diz que Antonio M.U. se aproveitou do grau de parentesco e da sua autoridade para satisfazer os seus “apetites” sexuais e fazer “coisas horríveis”. Tal como aconteceu com os irmãos Turpin, a história resolveu-se quando foi dada atenção ao pedido de ajuda. Foi em novembro de 2013, quando as autoridades da Junta de Andaluzia declararam o abandono dos menores pelos pais e retiraram a custódia das crianças que o pesadelo começou a ter fim à vista.