Tania Varela tem 44 anos. É advogada. Além disso, sobre ela pesam três mandados de detenção por tráfico de droga e branqueamento de capitais. É a única mulher na lista dos 70 mais procurados da Europol. Foi presa esta segunda-feira em Vilanova i la Geltrú, a 30 quilómetros de Barcelona.
A advogada, que tinha sido condenada a sete anos de prisão, estava fugida à justiça desde 2011. A operação que terminou com a sua detenção foi levada a cabo por agentes da Divisão de Investigação Criminal dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã. Tania foi detida pela primeira vez em 2006 depois de uma operação e, mais tarde, condenada por associação com grupos que se dedicavam ao tráfico de droga.
O El País recorda que a primeira vez que Tania Varela apareceu nas notícias foi por uma boa causa: em 2001, com apenas 27 anos, foi nomeada diretora do Centro de Informação da Mulher de Cambados, uma instituição recente que se dedicava a defender judicialmente mulheres vítimas de violência doméstica. Três anos depois, abandonou o cargo e dedicou-se por inteiro ao escritório de advogados onde nunca tinha deixado de trabalhar.
Na mesma altura, em 2004, emergia na Galiza um novo barão da droga com “sangue azul”: David Pérez Lago, filho de Laureano Oubiña, um dos nomes mais conhecidos no narcotráfico espanhol, e Esther Lago, considerada o cérebro de todas as operações do marido. Depois da prisão do pai, David tomou o controlo no negócio da família e trocou o haxixe – que Oubiña traficava – por cocaína.
Tania e David cruzaram-se em 2005, quando ela se tornou assessora jurídica dele. Tania contou em tribunal que, a dada altura, a relação se tornou mais íntima; David negou. Em março de 2006, os investigadores confirmaram aquilo de que já suspeitavam: Tania Varela era cúmplice de David Pérez Lago. Foi vista a encontrar-se com traficantes colombianos para receber uma grande quantia de dinheiro e viajou até ao Porto para negociar a compra de telemóveis por satélite.
Tudo preparativos para o dia 26 de abril de 2006: o dia em que 2.000 quilos de cocaína chegaram à Galiza. Nessa madrugada, um barco esperou em alto-mar que os responsáveis pela “entrega” aparecessem para recolher a carga. Mas uma das lanchas avariou e foi o próprio David Pérez Lago, em conjunto com um dos sócios, que embarcou num outro barco para resgatar a droga, salvar os tripulantes e afundar a embarcação. A Guardia Civil foi avisada, através de uma chamada, de um naufrágio. A polícia seguiu por helicóptero o regresso do navio de David a terra e os agentes esperaram por ele no porto.
Com o grupo detido, Tania Varela tomou as rédeas do negócio e tentou repartir o património da organização, para além de que contactou várias das mulheres dos elementos presos e lhes indicou onde é que os homens guardavam o dinheiro. Acabou por ser encontrada e detida. Saiu em liberdade condicional, envolveu-se com o advogado que a defendia e foi viver com ele para Madrid. David Pérez Lago permaneceu na prisão.
Tania viveu uma vida dita pacata até dezembro de 2008. Alfonso Díaz Moñux, seu advogado e namorado, era há anos perseguido e ameaçado de morte por pessoas ligadas ao grupo preso em 2006: estavam todos na prisão menos Tania Varela. Exigiam-lhe que renunciasse à defesa da mulher, mas nunca o fez. Naquele último mês de 2008, foi assassinado ao estacionar o carro na garagem de casa, com dois tiros na cabeça. No lugar do passageiro seguia Tania Varela.
A advogada propôs-se a colaborar com a justiça, acusou um colombiano, garantiu que também a tentaram matar mas escondeu-se. Meses depois, quando foi presente a juiz, jurou que não se recordava do crime nem da sua primeira declaração. Acabou por ser julgada em 2011, em conjunto com David Pérez Lago, pela operação de tráfico de droga. Foi condenada a sete anos de prisão que deveria ter começado a cumprir em janeiro de 2013. Mas, nessa altura, já tinha fugido sem deixar rasto.
Foi encontrada esta segunda-feira, sete anos depois de ser condenada.