O movimento #MeToo chegou à casa real sueca. Segundo notícia do jornal espanhol ABC, três fontes distintas confirmaram ao diário sueco Svenska Dagbladet que viram o artistas franco-sueco Jean-Claude Arnault a “exceder-se” com a princesa Victoria num encontro na Vila da Academia Sueca em Djurgården, Estocolmo. Os delatores explicam que viram a princesa, visivelmente incomodada, a afastar-se discretamente de Arnault, que lhe terá tocado no rabo.

Estas recentes revelações voltam a levantar dúvidas sobre o que pode acontecer à Academia Sueca. Os postos são vitalícios e não podem ser substituídos, daí a gravidade das demissões e afastamentos que já se concretizaram. O protetor da Academia, o rei Carlos XVI Gustavo, pediu para que se resolvessem estas questões e admitiu que ia considerar a possibilidade de, ultrapassado o escândalo, rever os estatutos da Academia, especialmente aqueles que estão mais ligados ao direito de renunciar. Esta medida terá como objetivo garantir que seja possível haver novas nomeações e, com isso, recuperar a normalidade na Academia. Contudo, o facto desta situação envolver agora a princesa Vitória pode influência nestas intenções.

Os detalhes que agora foram revlados já eram conhecidos no momento em que a secretária permanente da Academia Nobel, Sara Danius, afastou Jean-Claude Arnault — isto aconteceu no seguimento de uma denúncia feita por 18 mulheres, que acusam Arnault de as ter assediado sexualmente. O homem em questão, que está há vários anos ligado à Academia, é marido da académica Katarina Frostenson. Ambos gerem um clube literário chamado Forum, organismo apoiado e financiado pela Academia há vários anos.

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As alegações tornadas públicas por estas mulheres não foram denunciadas à polícia, mas o Ministério Público sueco decidiu abrir uma investigação preliminar que, entretanto, já foi encerrada, depois de 17 dos 18 casos terem sido arquivados por falta de provas e por ter passado muito tempo desde que o alegado assédio aconteceu.

O dramaturgo, entretanto, negou todas as acusações através da sua advogada, afirmando que este caso não passa de uma campanha de ataque pessoal realizada pelo jornal diário Dagens Nyheter, que foi o primeiro a lançar a polémica. Supostamente, o jornal em questão sentia-se prejudicado pela forma como a Academia preferia outros órgãos de comunicação social. A investigação interna da Academia — que em pouco tempo foi encerrada sem nenhuma consequência –, concluiu que Arnault tinha revelado o nome do vencedor do Prémio Nobel da Literatura em sete ocasiões, sendo que nenhuma dessas vezes o nome foi passado ao jornal em questão.

Entretanto, a Academia cortou todos os laços com a Forum, mas houve desacordo em relação às medidas a aplicar a Katarina Frostenson. Alguns dos seus membros defendiam que quem foi afetado pelo escândalo foi o seu marido e não ela. Outros consideraram que o casal agia em conjunto e recolhiam os benefícios dessas ações, daí merecerem ser expulsos.

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As primeiras demissões que nasceram desta ausência de consequências foram as de Klas Östergren, Kjell Espmark (o segundo académico mais veterano) e Peter Englund (ex-secretário permanente). Todos defendiam que Frostenson devia ser afastada da Academia. O ex-secretário Horace Engdahl classificou-os publicamente como sendo “maus perdedores”. Mais tarde foi Sara Danius, a secretária permanente encarregue de anunciar o nome dos vencedores do Nobel da Literatura, que se demitiu. Entretanto, a própria Frostenson anunciou que se ia retirar. O escândalo “afetou gravemente o prestígio do prémio Nobel e isso é um grande problema”, afirmou a mulher de Arnault.

O diretor da Academia, Anders Olsson, confirmou que Frostenson demitiu-se “com a esperança de que a Academia Sueca sobreviva enquanto instituição”. “Creio que todos entendemos a gravidade da situação em que nos encontramos. Vimo-nos obrigados a fazer um compromisso, dar um passo atrás. As pessoas que apoiavam a Frostenson recuaram e ela aceitou abandonar o seu posto” — afirmou Olsson.

O primeiro ministro da Suécia, Stefan Lofven, diz que “este é um problema da Suécia” e que “é importante garantir a confiança e o respeito da Academia”.