Na sequência das muitas acusações de assédio sexual que vieram a público, a Academia Nobel condenou, no final da semana passada, o “comportamento inaceitável na forma de intimidade indesejada” a que ficou associada. O escândalo começou em novembro, quando o jornal Dagens Nyheter divulgou os relatos das 18 mulheres que acusam Jean-Claude Arnault — figura de grande prestígio cultural e próxima dos membros da instituição sueca — de assédio. Na passada sexta-feira, a Academia Nobel garantiu ainda que o comportamento em causa não era “conhecido de uma forma geral” entre os 18 membros do comité.

9 perguntas e respostas sobre assédio sexual (e 6 histórias de vítimas)

Arnault, fotógrafo e dramaturgo francês, é casado com a poeta Katarina Frostenson, que recentemente abandonou a Academia Nobel juntamente com Sara Danius, a primeira secretária permanente daquela instituição — a saída das duas mulheres faz com que o Comité Nobel da Literatura não tenha membros suficientes para eleger o vencedor do Nobel da Literatura deste ano. Nem de propósito, a academia fez saber, também na última sexta-feira, que a controvérsia que dura há meses “danificou seriamente” a reputação do Prémio Nobel da Literatura — desde 1901 que a instituição está encarregue de atribuir este prémio.

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Arnault e Frostenson gerem um clube cultural privado, chamado Forum, que chegou a receber dinheiro da academia, assegura o The New York Times. Este terá sido um dos locais onde o dramaturgo alegadamente maltratou mulheres nos últimos 20 anos — Arnault terá feito o mesmo em propriedades da academia, situadas em Estocolmo e em Paris.

As acusações das mulheres que denunciaram o comportamento alegadamente abusivo de Arnault vão de 1996 a 2017 e surgiram na sequência do movimento #MeToo, que nasceu das reportagens norte-americanas sobre os casos de assédio e de violação colados ao nome de Harvey Weinstein, o produtor caído em desgraça no final do ano passado — a respetiva produtora já declarou falência.

O reputado jornal sueco que levantou o véu que cobria o escândalo dentro da academia escreveu também que Arnault obrigou as vítimas a optarem pelo silêncio, usando como ameaça os contactos que tinha dentro da Academia Nobel. O dramaturgo francês é ainda acusado de ter divulgado informação confidencial relativa às reuniões da academia, situação que o próprio já veio a público negar.

A par das acusações de assédio sexual, foram descobertas provas de que a artista têxtil Anna-Karin Bylund se queixou a um administrador da academia da conduta de Arnault, em 1996, e que nada aconteceu. Sture Allen, o administrador que ainda hoje é membro da instituição sueca, declarou que à data não agiu porque não considerou “importantes” os conteúdos contidos na carta da queixosa.

A polícia sueca já abriu uma investigação, mas avisou que algumas das alegações das 18 mulheres são muito antigas e que, por isso, não poderão ser tidas em conta. Entretanto, a Academia Nobel cortou todos os lados com Arnault, e com o respetivo clube, tendo contratado uma firma de advogados para rever todas as ligações entre o dramaturgo e aquela instituição.