Os laços amarelos afirmaram-se como o símbolo da luta pela independência da Catalunha: estão nas janelas dos separatistas, nas varandas, nas portas e até nos assentos de alguns deputados no parlamento catalão. Mas nas últimas semanas a simbologia tem chegado mais longe. Os catalães independentistas têm colocado cruzes amarelas nas praias da região. A metáfora é dura mas bastante simples. As praias são cemitérios daquilo que, no entender dos separatistas, está realmente morto – a liberdade de expressão.

As cruzes, porém, têm sido motivo de desacatos entre separatistas e unionistas. O El País conta que, na semana passada, as praias de Canet de Mar, Llafranc e Calella de Palafrugell foram palco de agressões e insultos que resultaram em vários feridos ligeiros. Em reação aos incidentes, o representante do Governo de Mariano Rajoy na Catalunha enviou uma carta a todos os autarcas catalães onde pedia “neutralidade” na gestão do espaço público.

Blanca Arbell, autarca de Canet de Mar pela Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), respondeu a Enric Millo e explicou qual vai ser a posição da administração regional. “Se não se fazem coisas criminosas no espaço público ou que incomodem terceiros, não nos metemos”, defendeu, para depois denunciar uma “agressão de um grupo ultra” a três pessoas. De acordo com Arbell, um grupo nacionalista extremista que se organizou para retirar as cruzes das praias catalãs agrediu um homem, uma mulher e um vereador da Candidatura de Unidade Popular (CUP) com os próprios símbolos.

José Casado é um dos membros do Segadors del Maresme, o grupo criado de propósito para retirar as cruzes das praias. Em declarações ao El Mundo, garantiu que quando chegaram à praia os separatistas já lá estavam à espera. Contou ainda que os três independentistas agrediram vários membros do grupo e revelou que está a preparar uma denúncia. Nas imagens que entretanto surgiram na Internet, é possível ver vários indivíduos encapuzados – os Segadors del Maresme – a retirar as cruzes e insultos e tentativas de agressão de ambos os lados.

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[Veja no vídeo como as praias da Catalunha se encheram de cruzes independentistas]

De acordo com a legislação espanhola, a limpeza das praias é uma tarefa municipal; o Governo central só intervém caso se trate de elementos de ocupação permanente. “A instalação de cruzes, desmontáveis e sem permanência, tem de ser tratada da mesma maneira que qualquer outro elemento provisório que qualquer banhista pode instalar na praia, como toalhas, cadeiras, chapéus, etc, e que não suponha risco para os demais”, explicou um porta-voz do Ministério da Agricultura espanhol.

Com o peso total da responsabilidade transferido pelo Governo de Rajoy, a autarca de Castellbell i Vilar foi a primeira a decidir regular a expressão em espaços públicos. “É minha obrigação velar pela convivência”, explicou Montserrat Badia no momento em que anunciou que é agora obrigatório um pedido de autorização oficial para instalar qualquer tipo de expressão num espaço público. A autarca pelo Partido dos Socialistas da Catalunha mostrou-se preocupada com a “rarefação” do ambiente e lamentou as críticas que tem recebido pela iniciativa.