Quase 10 meses passaram desde o seu desaparecimento. Quase quatro desde que Nordahl Lelandais confessou ter matado Maëlys de Araújo e os seus restos mortais foram encontrados. O funeral da menina luso-descendente de nove anos realizou-se este sábado, numa cerimónia aberta ao público. Os pais abriram as portas a todos que quisessem prestar homenagem à filha e deixaram um pedido: trazer uma flor branca. Mais de 800 pessoas quiseram acompanhar o adeus a Maëlys.
Joachim e Jennifer de Araújo pediram também que a imprensa não estivesse presente para “garantir a serenidade da cerimónia”, lê-se num comunicado emitido pela autarquia de Isère, onde a menina será enterrada. A cerimónia, presidida pelo bispo Grenoble Guy de Kerimel, começou na igreja de Tour-du-Pin — uma localidade a cerca de 20 quilómetros de Pont-de-Beauvoisin, onde a menina desapareceu.
No exterior, foi instalado um ecrã gigante para que todas as pessoas que não conseguiram entrar pudessem assistir à missa. A menina vai ser enterrada na comuna de Isère, numa despedida reservada à família.
Sur le parvis, des photos de Maelys défilent sur l'écran géant mis en place spécialement. pic.twitter.com/odMcgduVkp
— France Bleu Isère (@francebleuisere) June 2, 2018
Durante a cerimónia, Jennifer de Araújo não conseguiu esconder naturalmente a comoção. “Maëlys, não sofrerás mais. Descansa em paz, minha menina. Estarás sempre nos nossos corações. Encontramo-nos no paraíso“, afirmou a mãe da menina luso-descendente.
O bispo Grenoble Guy de Kerimel resumiu o sentimento de todos perante o drama que atravessa a família de Maëlys. “Todo o país ficou devastado com o desaparecimento de Maëlys, com o seu sofrimento e com o sofrimento dos seus pais. A dor de não saber e a dor das más notícias. Devemos levar conforto aos seus corações“, afirmou o bispo.
O casamento, os vestígios de ADN e um suspeito. Sete meses à procura de Maeyls
Maëlys desapareceu na madrugada de 26 para 27 de agosto, numa quinta na região de Pont-de-Beauvoisin, em França, a cerca de 85 quilómetros de Lyon. A criança estava numa festa de casamento e foi vista, pela última vez, na sala das crianças. A mãe da menina, prima da noiva, deu por falta da filha quando passavam poucos minutos das 3 horas da manhã.
As autoridades foram chamadas ao local quando, após as primeiras buscas, a criança continuava sem aparecer. Todos os 180 convidados que estavam na festa de casamento foram ouvidos. Também as quase 70 pessoas que estavam noutros salões e bares próximos do local foram interrogadas. As autoridades fizeram o apelo nas redes sociais, nem 24 horas tinham passado do desaparecimento:
‼️#AppelàTémoins lancé par les gendarmes de l'#Isère après la disparition inquiétante de Maëlys, 9 ans, à Pont-de-Beauvoisin #MerciRT pic.twitter.com/qmPAstqTrD
— Gendarmerie nationale (@Gendarmerie) August 28, 2017
Duas pessoas foram detidas nessa noite: um homem de 24 anos que trabalhava nas imediações da quinta e outro de 34 anos, Nordahl Lelandais, que era convidado do noivo e descrito como amigo do pai de Maëlys, embora os pais da menina, Joachim e Jennifer de Araújo, tenham negado conhecê-lo. O primeiro suspeito estava perto da quinta onde se realizou a cerimónia e já tinha falado à polícia, mas as declarações prestadas foram consideradas inconsistentes e acabou por ser detido. Foi libertado dois dias mais tarde.
O segundo suspeito, Nordahl Lelandais, terá garantido no interrogatório inicial à polícia que não saiu do local da festa. Outros convidados disseram à polícia que o tinham visto ausentar-se no momento em que a menina terá desaparecido. Lelandais reconheceu, mais tarde, que mentiu. As autoridades resolveram prolongar o seu prazo de detenção por mais um dia, mas acabaram por libertá-lo no dia seguinte. Lelandais, que já era conhecido da polícia local por “delitos comuns”, entre os quais consumo de drogas, ficou em prisão preventiva — dois dias depois de ter sido libertado — depois de a polícia ter descoberto vestígios de ADN no painel de controlo do carro, um Audi A3, e o próprio suspeito ter admitido que a menina esteve no interior da viatura.
Em janeiro deste ano, os pais da criança disseram à imprensa francesa ter conseguido identificar a filha nas imagens de videovigilância que mostram o carro de Lelandais a abandonar o local do casamento. Maelys seguia no lugar do “pendura” e saiu por volta das 2h45. Recorde-se que a ausência da menina foi notada quando passavam poucos minutos das 3 horas da manhã. No momento em que Lelandais regressou, vinha sozinho.
Lelandais ficou em prisão preventiva desde o seu desaparecimento. Confessou ter matado a menina em fevereiro e colaborou com as autoridades, levando-as ao local do crime para identificar o sítio em que deixou o cadáver. O autor confesso da morte — que também é criador de cães — explicou que Maëlys lhe pediu para ir ver os animais. A caminho, a menina terá ficado assustada e pediu para voltarem para trás, aos gritos. Lelandais contou que, nesse momento, deu “uma bofetada com as costas da mão, violenta, na cara” de Maëlys. Ao ver a menina desmaiada, parou o carro e “constatou que já não respirava”.
Uma análise aos restos mortais de Maëlys permitiu concluir que tinha uma mandíbula fraturada, provocada por fortes agressões que terão sido a causa da sua morte. Permitiu também concluir que a menina luso-descendente não foi violada antes de morrer — algo que o autor confesso da sua morte sempre negou ter acontecido.
Maëlys de Araújo não foi violada. Análise aos restos mortais revela fortes agressões