O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, defendeu esta terça-feira que a utilização da canábis para outros fins sem ser terapêuticos é uma matéria que “carece de ponderação” e de avaliação de experiências em curso noutros países.

Adalberto Campos lembrou o passo que foi dado pela Assembleia da República com a aprovação da regulação da canábis para fins terapêuticos, num “quadro de forte regulação e de supervisão pelas autoridades de saúde pública e pela autoridade nacional de medicamento”.

“Esse passo foi dado, agora há muito trabalho para fazer no plano da regulamentação, no plano legal”, disse o ministro da Saúde aos jornalistas, à margem do III congresso do SICAD – Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, que decorre até quarta-feira em Lisboa.

Mas outro tipo de abordagem, nomeadamente a futura utilização ou a abertura à utilização da canábis para outros fins que não os terapêuticos, “é uma matéria que carece de ponderação e de avaliação de experiências em curso”, disse, considerando que “a pior coisa que pode haver é voluntarismo, é precipitação”.

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“Uma coisa é sermos ousados quando temos por detrás de nós a evidência e o conhecimento científico a apoiar-nos, outra coisa é darmos passos relativamente aos quais as consequências não conhecemos”, sublinhou o ministro. Mas “felizmente neste domínio”, Portugal um papel de pole position em termos mundiais. “Os nossos técnicos são reconhecidos, a nossa experiência é reconhecida e, portanto, seguramente Portugal vai estar, como tem estado até aqui, também num processo de liderança em relação a essas situações novas com as quais nos estamos a confrontar, rematou.

No dia em que se assinala o Dia Internacional contra o Abuso de Drogas e Tráfico Ilícito, Adalberto Campos Fernandes destacou o trabalho realizado nos últimos anos na área da toxicodependência, “uma das áreas que mais orgulha o país, de maior sucesso”, e que “fez de Portugal uma referência no mundo”. “É preciso haver pioneirismo, é preciso haver coragem”, para avançar mesmo quando as soluções encontradas são criticadas e consideradas perigosas.

Sobre a criação de um novo modelo organizacional para a intervenção nesta área, o ministro disse que “os trabalhos de análise e ponderação estão concluídos” e que “dentro de breves dias” haverá trabalho específico com a equipa do SICAD.

“Temos de conjugar duas coisas: fazer com que o SICAD e o seu trabalho prossigam de uma forma ainda mais positiva, mais eficaz, mais competente, que o interesse público seja prosseguido e a capacidade que o país tem de regular esse mesmo interesse público, e que os profissionais ganhem um novo impulso, um novo ciclo de motivação”, adiantou.

Adalberto Campos Fernandes salientou o papel dos profissionais que “nunca deixaram de estar motivados, mesmo em condições difíceis”. “Mesmo aquando das alterações estruturais por altura do programa de assistência externa financeira, fizeram, como diz o povo, das ‘tripas coração, e agarraram-se ao trabalho”, disse, acrescentando que “está na altura” de olhar para “esse esforço e reconstruir um caminho sobretudo de motivação e de ânimos para os desafios novos que há pela frente”.