À porta da Câmara Municipal de Beja, Carlos César parecia um político saudosista. Olha para o lançamento da obra do Alqueva, olha para a dinamização do aeroporto de Beja, olha para o troço da A26 que continua por abrir e chega sempre à mesma conclusão: “Da parte do PS enquanto Governo, pode haver luz e esperança para a resolução de tantos problemas por este país fora.” Sozinhos — que é como quem diz, quase sem representação do executivo —, os deputados socialistas foram ao Alentejo “aprender e apreender”, mas dispensam procuração: “Não precisamos dessa tutela ministerial para conhecer as coisas nem para decidir sobre elas.” Palavras a que o movimento Beja Merece + responde com pedidos de ação. “Os políticos, nestas reuniões, parecem sempre cordiais, mas precisamos de ver obra”, diz Florival Baioa.

O encontro com representantes do movimento Beja Merece + durou cerca de uma hora. Uma das reclamações que o líder parlamentar do PS ouviu com mais insistência da boca dos representantes foi que seja concretizada a eletrificação da ligação entre Casa Branca e Beja. Mas os representantes do movimento cívico também colocaram a tónica nos quilómetros da A26 prontos a percorrer, mas que ainda não tiveram luz verde do executivo.

No final, César surgia com meias promessas. “Estamos em fase de conclusão de quadro financeiro de apoio comunitário que tem dificuldades em ser alterado, mas temos também perspetiva de poder avançar com alguns investimentos”.

E concretizava. “Por exemplo, a eletrificação da linha férrea do Alentejo, que não é [ainda] projeto”, César acredita que “o Governo estará em condições de lançar concurso para o projeto de eletrificação dessa via ainda este ano, isso será importante”. Mas houve mais. “Não tenho dúvidas de que o grupo parlamentar do PS estará envolvido na inclusão desse investimento no plano nacional de investimentos que está a ser preparado para o novo quadro financeiro plurianual”. Houve, ainda, uma nota sobre a A26. Foi no tal momento saudosista do líder parlamentar socialista. “Olho para o troço de autoestrada que está por abrir  — mas que abrirá certamente durante este ano — e lembro-me de que estava parada e de quem a pôs de novo a ser concluída”.

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Se linha de comboio electrificada, só para lá de 2020 – para já, avança apenas o projeto – , no imediato haverá autoestrada, já que isso não deverá demorar mais de cinco meses a avançar. E isto diz muito a Carlos César, sublinha o açoriano. “Tenho a perceção de que, em boa verdade, o Alentejo tem sido colocado num segundo plano, e eu próprio sou de uma região que durante muitos e muitos anos foi colocada fora das questões essenciais do país.”

Ora, contas feitas, há investimento no comboio, inaugurações noutras grandes estruturas da região como é o caso da autoestrada, e tudo isto com vista sobre o Alqueva, a grande obra da região. E ministros para “batizar” tudo isto?

Primeiro, a desvalorização. “Há aqui também problemas na saúde, portanto era [preciso trazer] o ministro da Saúde; uma estrada, era [preciso trazer] o ministro do Planeamento; há problemas na aérea ambiental, era o ministro do Ambiente.” Não veio nenhum, apenas Capoulas Santos. Mas aí há explicação. “Veio, porque é um alentejano de carne e osso.” Pedro Marques também foi eleito por Portalegre, mas essa nota já não mereceu resposta do líder parlamentar do PS.

Depois, a nota de independência: “Viemos para falar com os alentejanos e com as instituições alentejanas” e “não precisamos dessa tutela ministerial para conhecer as coisas nem para decidir sobre elas”.

Movimento aponta “descrença em relação aos políticos”

Florivaldo Baioa ouviu Carlos César. E, no final, em conversa com os jornalistas, apontou ao “maior paradoxo” em matéria de obras públicas — os tais 12 quilómetros da A26 que estão concluídos, mas que continuam virgens de utilizadores — e diz acreditar que a eletrificação ainda seja possível no atual quadro financeiro que termina em 2020, uma vez que os valores “não são elevados”.

A mensagem segue com recados, assim resumidos pelo representante do movimento: “Há um conjunto de situações em que o Governo não tem tomado atenção à nossa região e que traz a população num desespero enorme, porque não vê investimentos fundamentais para a nossa economia”.