Rússia boa, Rússia má, Rússia boa, Rússia má outra vez. As declarações de Donald Trump sobre a influência russa têm sido contraditórias desde que se encontrou com o presidente russo Vladimir Putin, em Helsínquia, na segunda-feira. As últimas declarações do presidente sobre o assunto foram, afinal, um mal-entendido. A assessora de imprensa veio dizer, mais uma vez, que Trump não queria dizer o que disse. A última versão da Casa Branca é que a Administração Trump acredita que a Rússia representa uma ameaça para os EUA, mas foram três dias de contradições desde que o presidente Donald Trump se encontrou com Vladimir Putin.
Concordar na cimeira, discordar logo depois (com semântica)
Na conferência de imprensa conjunta com Vladimir Putin, na segunda-feira, Donald Trump, afastou um envolvimento russo nas eleições norte-americanas. Entre várias frases nesse sentido, houve uma particularmente polémica: “A minha gente diz-me… dize-me que acreditam que foi a Russia. Eu tenho aqui o presidente Putin; Ele simplesmente disse-me que não foi a Rússia. E eu digo: ‘Não vejo qualquer razão para ter sido [a Rússia]’“.
Depois das declarações na cimeira, Trump foi alvo de várias críticas, quer de republicanos quer de democratas que exigiram que o Presidente se retratasse. Na sequência disso, na terça-feira, Trump disse que foi rever a transcrição do que tinha dito na conferência de imprensa conjunta e que sentiu, de facto, necessidade de se corrigir. Em novas declarações aos jornalistas e no Twitter admitiu: “Numa frase fundamental nas minhas declarações, disse a palavra devia em vez não devia. A frase devia ser ‘não vejo motivos para que não tenha sido a Rússia. Uma espécie de dupla negativa. Acho que isto clarifica as coisas.”
Donald Trump corrige afirmação. E admite interferência russa nas eleições de 2016
Responsabilizar Putin à tarde, elogiar o encontro de manhã
Na quarta-feira à tarde, numa entrevista na CBS News, Donald Trump disse mesmo que considerava Vladimir Putin pessoalmente responsável por qualquer interferência russa. Trump disse que assim como se considera ele próprio “responsável” pelo que acontece nos EUA, Putin também é o responsável pelo que acontece na Rússia. “Certamente, como líder de um país, você teria que responsabilizá-lo, sim”, disse o respondeu.
Na mesma entrevista, Donald Trump garantiu que avisou Putin que a interferência não podia voltar a acontecer. “Eu disse-lhe que isto não pode voltar acontecer”, disse o presidente dos EUA. E acrescentou: “Isto não vai voltar a acontecer. E é assim que vai ser.”
Apesar de responsabilizar Trump à tarde, pela manhã o presidente dos EUA tinha criticado os seus “inimigos” que criticaram o seu encontro com o líder russo, dizendo que os seus críticos estavam a sofrer de “Trump Derangement Syndrome”.
So many people at the higher ends of intelligence loved my press conference performance in Helsinki. Putin and I discussed many important subjects at our earlier meeting. We got along well which truly bothered many haters who wanted to see a boxing match. Big results will come!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) July 18, 2018
Some people HATE the fact that I got along well with President Putin of Russia. They would rather go to war than see this. It’s called Trump Derangement Syndrome!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) July 18, 2018
A história da última contradição
Já em conferência de imprensa, também na quarta-feira, Donald Trump pareceu discordar dos serviços de inteligência norte-americanos quando respondeu “não” a uma pergunta sobre se a Rússia poderia influenciar as eleições norte-americanas. Horas depois, a assessora de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, explicava que o “não” do presidente pretendia apenas dizer que não estava disponível para responder a mais perguntas.
Sanders acrescentou ainda que “o presidente e a sua administração estão a trabalhar muito para ter a certeza que que a Rússia não é capaz de se intrometer nas eleições [norte-americanas] como fizeram no passado”.
Afinal, Trump não queria dizer que EUA “não” são alvo da Rússia mas que “não” queria responder
Pouco depois, os jornalistas contrariaram a versão de Sanders. A jornalista da ABC News, Cecilia Vega, perguntou a Donald Trump se a Rússia ainda teria como alvo o controlo das eleições norte-americanas. De seguida, Trump abanou a cabeça e respondeu: “Muito obrigado, não.” E a jornalista insistiu: “Não? Não acredita nisso?” E Trump retorquiu: “Não”. A jornalista ainda insistiu mais uma vez e Trump começou a responder a outro jornalista.
Cecilia Vega publicou até, em forma de diálogo, a troca de palavras com Trump e revelou que o presidente dos EUA estava a olhar diretamente para si quando respondeu “não”.
Getting a lot of questions about my exchange with @realDonaldTrump today.
Yes, he was looking directly at me when he spoke.
Yes, I believe he heard me clearly. He answered two of my questions.
Here’s the full exchange: pic.twitter.com/F3QmDSFzpT— Cecilia Vega (@CeciliaVega) July 18, 2018
Sanders negaria, horas depois, esta interpretação dos “nãos” do presidente. Mas todos os jornalistas na sala a fizeram. Através do Twitter a correspondente da NBC News na Casa Branca contrariava também a versão da assessora de imprensa de Trump, dizendo que durante a conferência de imprensa nunca ouviu um “não” do presidente para que os jornalistas parassem com as perguntas.
Here's the thing about what the @PressSec said about @POTUS "no" response: in the countless time I've been in the Oval or Cabinet Room or wherever trying to shout questions, I've never heard the president say "no' in order to get us to stop.
— Hallie Jackson (@HallieJackson) July 18, 2018
Esta seria, assim, a segunda contradição de Trump desde que se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, em Helsínquia na última segunda-feira.