Esta quinta-feira os olhos dos acionistas do Facebook estão postos em Wall Street. Na quarta-feira, no fecho da NASDAQ, o mercado dedicado às tecnológicas, cada título da empresa de Mark Zuckerberg valia 210 dólares (cerca de 180 euros). Mas após o fecho, a empresa apresentou os resultados do segundo trimestre: receitas de 13,2 mil milhões de dólares, mais 42%  do que o período homólogo do ano passado, e um aumento de 11% no número de utilizadores.

Após a apresentação de resultados, o preço das ações começou a cair. Caiu logo 7% e esteve a perder 23% durante a habitual conferência telefónica com os analistas e a imprensa.

Na abertura da sessão desta quinta-feira , às 9h30 (15h30 de Lisboa), o estrago confirmou-se. As ações começaram a manhã a cerca de 175 dólares (15o euros), face aos 210 a que se transacionavam menos de 24 horas antes.

Em percentagem, a queda só é comparável com março deste ano, após a divulgação do caso Cambridge Analytica.

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A queda representa uma perda de mais de 109 mil milhões de dólares do valor do Facebook em bolsa. Em minutos, Zuckerberg, que tem cerca de 17% da empresa, viu a sua fortuna perder uma fatia de 14,5 mil milhões de dólares (tal como noutros momentos viu-a crescer em igual valor ou superior).

Mas o que levou a este cenário, que de um dia para o outro, fez mossa na fortuna de Mark Zuckerberg? Em cinco pontos, explicamos o que se está a passar.

Apresentação dos resultados trimestrais

Que parte dos resultados do Facebook é que assustou os investidores? As receitas do trimestre ascendem a 13,2 mil milhões de dólares (cerca de 11,3 mil milhões de euros), e é verdade que este valor representa um crescimento de 42%. Mas não é menos verdade que este crescimento das vendas é o menos expressivo em quase dois anos.

Por outro lado, estes números ficaram ligeiramente abaixo das expectativas de receitas e crescimento (que era de 13,3 mil milhões de dólares). O problema agravou-se com um post do fundador do Facebook a explicar os resultados da rede social homónima: “Estamos a investir tanto em segurança que vai impactar significativamente os nossos lucros”.

https://www.facebook.com/zuck/posts/10105127808736981

Não há mais utilizadores para o Facebook

O número de utilizadores ativos do Facebook pode ter crescido, mas nos Estados Unidos da América e na Europa, o crescimento foi residual, como noticiou o Market Watch. Ou seja, nas maiores economias em publicidade para a rede social pode ter alcançado toda a quota possível de mercado. Sem perspetivas de crescimento de utilizadores, o valor deixa de crescer. Veja-se o caso de Portugal onde, segundo o Facebook, a rede social já tem cerca de 6 milhões de portugueses (é um número muito próximo dos utilizadores totais da Internet no país).

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Com os utilizadores mais jovens a passarem a utilizar outras plataformas da empresa, que trazem menos receita, o valor de mercado das ações desce. Principalmente numa altura em que o Facebook, por utilizador, começa a ter cada vez mais encargos para manter a segurança.

Novos gastos com segurança

Este trimestre os nossos sistema identificaram e removeram milhares de contas falsas, páginas e grupos antes das eleições mexicanas”, diz Zuckerberg na publicação que partilhou. Depois do caso Cambridge Analytica ter sido divulgado em março — envolvendo 87 milhões de perfis copiados ilicitamente pela empresa de análise de dados para influenciar o resultado de eleições — o Facebook começou uma extensa campanha para mudar a forma como protege os dados dos utilizadores e a informação que lhes chega.

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“Temos agora 20 mil pessoa a trabalhar na segurança e revisão de conteúdos”, diz Zuckerberg. Como não há almoços grátis, este investimento na segurança custa dinheiro à empresa, criando-lhe novos encargos e reduzindo a receita.

Mais encargos com burocracia

Depois de o novo Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados passar a ser plenamente aplicável em todos os países da União, obrigando as empresas que têm acesso a um grande volume de dados pessoais a terem medidas mais apertadas para a proteção destes, o Facebook tem novos encargos. Como explicou Zuckerberg no Congresso americano, na sequência do caso Cambridge Analytica, a solução para impedir que voltem a acontecer cenários como este passa pela regulação.

Não só o Facebook passou a disponibilizar novas ferramentas (como disponibilizar uma cópia de todos os dados que tem de forma fácil e eficiente) para os utilizadores da União Europeia, como alargou as medidas para utilizadores do resto do mundo. Mais uma vez, isto significa custos.

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Depois de a empresa ter recebido, em julho, uma coima simbólica de cerca de 565 mil euros pelas autoridades britânicas pelo caso Cambridge Analytica, (não foi superior porque, à data dos factos, o RGPD ainda não estava em vigor e é este novo regulamento que permite coimas de até 4% do valor total das receitas) a empresa continua debaixo de fogo. Pelo menos na União Europeia, como se viu por mais uma sanção recorde aplicada à Google por abuso de posição dominante, a abordagem com as tecnológicas pode estar a mudar, fazendo diminuir o seu valor para os investidores (e já há queixas).

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Mas, e agora?

Mesmo com resultados que ficaram aquém das expectativas dos investidores, o presidente-executivo da empresa frisa que o foco continua a ser o crescimento. Para acompanhar a mudança na tendência no consumo das redes sociais, Zuckerberg dá como exemplo uma das mais recentes novidades da empresa, o IGTV, a televisão para o Instagram, a rede social de partilha de fotografia mais popular entre os mais jovens. Para o executivo, é um “tremendo sucesso” com “potencial para fazer dinheiro”, como revelou na conferência telefónica.

A meio da tarde desta quinta-feira, as ações da gigante americana na NASDAQ continuavam a perder 19%. Em março, a queda foi semelhante, mas a empresa recuperou para os níveis das ações antes do polémico caso da Cambridge Analytica no início do mês de junho.