“É imperativa uma demissão”. Este é o título do editorial do jornal grego Kathimerini, que cita o exemplo da demissão da ministra da Administração Interna portuguesa no ano passado, depois de uma tragédia semelhante em Portugal. A publicação pede depois uma “catarse política” no Governo de Alexis Tsiprars, ou seja, que “pelo menos um” ministro assuma a responsabilidade política pelos violentos incêndios que esta segunda-feira à noite consumiram uma vasta área na zona leste do país, fazendo 81 vítimas mortais.

“O exemplo da ministra da Administração Interna portuguesa, Constança Urbano de Sousa, que resignou em novembro passado [foi a 18 de outubro] depois dos desastrosos fogos florestais no seu país, está fresco na nossa memória“, escreve o jornal que pede a demissão de “pelo menos um dos ministros” do Governo grego, considerando que esse gesto “demonstraria que o Governo respeita as vítimas do desastre” (versão em português do texto integral no final deste artigo).

No ano passado, depois de dois grandes incêndios na zona centro do país (o primeiro no final de junho, em Pedrógão Grande, e o segundo em outubro) que fizeram, pelo menos, 116 vítimas mortais, a ministra da Administração Interna deixou o Governo. No entanto, Constança Urbano de Sousa resistiu vários meses, depois de Pedrógão, até apresentar a demissão ao primeiro-ministro, o que só aconteceu depois da segunda vaga de incêndios.

Demissão para “preservar a dignidade pessoal”. A carta da ministra na íntegra

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A ministra demitiu-se a 18 de outubro (três dias após os incêndios na zona centro), depois de uma forte pressão política, nomeadamente do Presidente da República que fez uma declaração ao país que não deixou margem de manobra nem a António Costa nem a Constança Urbano de Sousa, que se demitiu no dia seguinte. Até esse momento, existiram várias declarações da ministra — até dos dias imediatamente anteriores — a rejeitar uma demissão. Constança Urbano de Sousa acabou por justificar a decisão com a manutenção da sua “dignidade pessoal” e, na carta de demissão, acabou por revelar que “logo a seguir à tragédia de Pedrógão” tinha pedido “insistentemente” a Costa que a “libertasse das funções”. “Pediu-me para me manter em funções, sempre com o argumento que não podemos ir pelo caminho mais fácil, mas sim enfrentar as adversidades, bem como para preparar a reforma do modelo de prevenção e combate a incêndios florestais”. Mas essa posição de Costa terminou a 18 de outubro.

O editorial do Kathimerini na íntegra: 

“É imperativa uma demissão

Quando o número de mortos parece vir a exceder os 100, quando a extensão do desastre já se torna impossível de apagar, quando a inadequação da máquina do Estado se revela de uma forma tão trágica, fica claro que alguém tem responsabilidade política. 

O exemplo da ministra da Administração Interna portuguesa, Constança Urbano de Sousa, que resignou em novembro passado depois dos desastrosos fogos florestais no seu país, está fresco na nossa memória.

A demissão de pelo menos um dos ministros gregos demonstraria que o Governo respeita as vítimas do desastre.

‘Uma tragédia indescritível’, como descreveu o primeiro-ministro Alexis Tsipras, exige uma catarse política”.