Nota – Atualizado às 16h58 de 14/08/2018, com correção relativa à profissão de Riccardo Morandi. Era engenheiro civil, e não arquiteto, como inicialmente (e erradamente) referido
A história de uma queda quase anunciada. É assim que pode ser descrito o colapso parcial da ponte Morandi, o viaduto que caiu esta terça-feira em Génova, Itália, e provocou dezenas de mortos e de feridos. A ponte, que é parte da auto-estrada A10, liga os municípios de Sampierdarena e Cornigliano e chegou a ser apelidada de “Brooklyn Bridge” devido às parecenças com a ponte de Nova Iorque. Mas existia uma ainda mais parecida. Além da ponte Morandi, o engenheiro civil italiano Riccardo Morandi desenhou a ponte General Rafael Urdaneta, construída na Venezuela. Eram consideradas pontes “gémeas”. Em 1964, após uma colisão com um petroleiro, a ponte venezuelana colapsou parcialmente e o acidente provocou sete mortos.
Originalmente, a estrutura construída em Génova chama-se viaduto Polcevera, por ficar sobre o riacho Polcevera. Começou a ser chamada ponte Morandi devido ao nome do engenheiro, o italiano Riccardo Morandi. O viaduto começou a ser construído pela Sociedade Italiana de Canalizações em 1963 e as obras só terminaram quatro anos depois, em 1967, ano em que a ponte foi inaugurada na presença do então Presidente da República italiano Giuseppe Saragat.
O viaduto tem um comprimento total de 1,182 metros e chega aos 90 metros de altura. É uma ponte suspensa em que o tabuleiro é suportado por uma série de cabos – cordões de aço cobertos de cimento – ancorados em colunas de apoio. Foi construída com betão armado e o formato das colunas é normalmente definido como um tripé invertido balançado.
A inauguração aconteceu a 4 de setembro de 1967 e as críticas não demoraram a chegar. O Corriere della Sera conta que a ponte Morandi foi motivo de discórdia entre engenheiros e arquitetos desde a construção. “O viaduto apresentou imediatamente vários aspetos problemáticos, além de que o orçamento para as obras foi largamente ultrapassado”, afirmou Antonio Brencich, engenheiro e professor de engenharia civil na Universidade de Génova. Há dois anos, Brencich escreveu um artigo onde pormenoriza principalmente os aspetos e defeitos técnicos da ponte mas revela que, logo nos anos 60, a ponte foi “objeto de manutenção profunda com custos contínuos”.
Com o passar dos anos e a multiplicação das obras de restauração, os especialistas chegaram à conclusão de que seria mais rentável construir um novo viaduto. “Percebeu-se que com os anos os custos de manutenção iam exceder os custos de uma eventual reconstrução da ponte. Tinha chegado a hora de demolir a ponte e reconstruí-la”, escreveu Antonio Brencich. Mas a demolição nunca aconteceu.
Durante as décadas de 80 e 90, o viaduto voltou a sofrer várias operações de recuperação, incluindo a substituição dos cabos de suspensão. As Auto-estradas de Itália tinham iniciado em 2016 uma nova fase de reconstrução com o objetivo de consolidar a laje. “Os trabalhos e o estado do viaduto estavam sob observação e supervisão constante das autoridades competentes de Génova. As causas do colapso vão ser objeto de uma análise profunda assim que for possível aceder ao local em segurança”, afirmou a direção das Auto-estradas de Itália.