O Presidente dos EUA, Donald Trump, reiterou as palavras do seu advogado sobre uma possível entrevista com o procurador Robert Mueller, responsável pela investigação do alegado conluio entre a sua equipa de campanha e a Rússia em 2016, dando a entender que um encontro entre os dois poderia ser uma armadilha.
Numa entrevista em exclusivo à Reuters, Donald Trump refere que Robert Mueller poderia levá-lo ao engano, ao ponto de prestar declarações falsas, depois de ter confrontado outras testemunhas. Uma delas, o ex-diretor do FBI James Comey, com quem Donald Trump tem uma relação difícil, chega a ser referido pelo Presidente dos EUA.
Se eu disser uma coisa e ele [Comey] disser outra, pode ser a minha palavra contra a dele. E ele é muito amigo de Mueller, por isso Mueller pode dizer: ‘Bom, eu acredito em Comey’ e mesmo que eu esteja a dizer a verdade isso faz de mim um mentiroso. Isso não é nada bom”, disse Donald Trump à Reuters.
Este fim-de-semana, o advogado de Donald Trump, o ex-mayor de Nova Iorque, já tinha falado sobre este tema — e nos mesmos contornos. “Não quero que lhe ponham pressa para testemunhar, para depois cair numa armadilha que o leve a prestar um falso depoimento. E é uma parvoíce quando dizem que ele devia testemunhar porque vai dizer a verdade e não se devia preocupar. Porque é a versão que uma pessoa tem da verdade, não é a verdade”, disse Rudy Giuliani.
WATCH: Rudy Giuliani tells @chucktodd that he doesn’t want President Trump to be caught in a perjury trap by speaking with Special Counsel Robert Mueller. #MTP #IfItsSunday
Giuliani: “Truth isn’t truth" pic.twitter.com/SChZbfgAOX
— Meet the Press (@MeetThePress) August 19, 2018
Donald Trump disse que a sua administração é uma “máquina bem oleada, com a exceção desse mundo”, referindo-se à investigação em torno da sua campanha e da interferência russa nas eleições de 2016. Chega mesmo a acrescentar que ele próprio podia fazer “o que quisesse” com a investigação mas que escolheu não fazê-lo.
“Posso entrar e fazer o que eu quiser [na investigação], podia mandar nela se quisesse, mas decidi ficar de fora”, disse. “Eu tenho todo o direito de me envolver, se quiser. Para já, escolhi não me envolver. Vou ficar de fora.”
Recorde-se que Donald Trump tem criticado o procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, apesar de este ter sido um dos seus primeiros apoiantes dentro do Partido Republicano e uma das suas escolhas após a eleições de 2016. Donald Trump tem apontado o dedo a Jeff Sessions, que pediu excusa deste caso por ser também ele suspeito, por não pôr um fim a esta investigação.
“Esta situação é terrível e o procurador-geral Jeff Sessions devia pôr um fim a esta caça às bruxas engendrada agora mesmo, antes que continue a manchar ainda mais o nosso país”, escreveu Donald Trump no Twitter a 1 de agosto.
..This is a terrible situation and Attorney General Jeff Sessions should stop this Rigged Witch Hunt right now, before it continues to stain our country any further. Bob Mueller is totally conflicted, and his 17 Angry Democrats that are doing his dirty work are a disgrace to USA!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) August 1, 2018
Na entrevista à Reuters, outro dos temas abordados foi a aproximação entre os EUA e a Coreia do Norte, com Donald Trump a dizer que “estão a acontecer muitas coisas boas”. “Eu consegui que a Coreia do Norte parasse de fazer testes nucleares, consegui que a Coreia do Norte parasse de testar mísseis. O Japão está animadíssimo”, disse. Ainda assim, deixou o futuro em aberto: “O que vai acontecer? Quem sabe? Vamos ver”.
Sobre Kim Jong-un, com quem se envolveu numa troca de insultos e ameaças que durou até a cimeira histórica de junho ter sido anunciada, Donald Trump referiu que os dois mantêm uma boa relação. “Eu gosto dele e ele gosta de mim”, disse. “Não há mísseis balísticos nos ares, há muito silêncio. Tenho uma relação pessoal boa com o Presidente Kim e penso que é isso que mantém tudo sob controlo”, acrescentou. Sobre um possível encontro no futuro (após a cimeira de Singapura, cada um dos líderes convidou o outro para visitá-lo na respetiva capital), Donald Trump disse que “o mais provável” é que haja uma nova reunião.
O discurso otimista do Presidente dos EUA contrasta com o do seu Secretário de Estado, Mike Pompeo, que tem liderado as negociações dos norte-americanos com a Coreia do Norte. No início de agosto, o chefe da diplomacia de Washington acusou a Coreia do Norte de “agir de uma maneira inconsistente” no que toca à desnuclearização. “Estão a violar uma ou ambas as resoluções, vemos que há um caminho a fazer para atingir o resultado que procuramos”, disse.
Mike Pompeo falava depois de terem sido conhecidas as suspeitas dos serviços de informação norte-americanos que a Coreia do Norte teria, mesmo depois do encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un, expandido um complexo nuclear ou continuado a construir novos mísseis.
EUA criticam “inconsistência” da Coreia do Norte quanto à desnuclearização