O Governo não tem intenção de corresponder ao pedido dos parceiros parlamentares e dos sindicatos e prepara-se para manter o ritmo de atualização do salário mínimo nacional que tinha definido no início da legislatura. Em 2019, a remuneração mínima passará dos 580 para os 600, ficando aquém do que a esquerda tem pedido. A confirmação foi dada esta terça-feira pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

“Vamos acabar a legislatura com um salário mínimo de 600 euros”, disse Pedro Nuno Santos num almoço na Associação 25 de Abril esta terça-feira. Ainda em junho, o secretário de estado do Emprego Miguel Cabrita tinha deixado esta porta entreaberta. A negociação do salário mínimo decorre até ao final do ano na concertação social para que o valor seja atualizado logo a 1 de janeiro e os sindicatos têm pressionado com um valor acima do previsto.

Em junho, o presidente da da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) tinha admitido que “os 600 euros são a meta do governo, mas provavelmente se continuarmos neste desenvolvimento, nesta garantia de manutenção e nas alterações que desejamos produzir ao nível da melhoria dos fatores de produção, então é possível que esse valor até possa vir a ser melhorado”. No entanto, o mesmo António Saraiva veio dizer no mês passado que “lamentavelmente, ao contrário do que seria desejável para o país, e não apenas para nós, as condições têm vindo a degradar-se. A produtividade tem vindo a degradar-se já desde o ano passado. De facto, os sinais não são positivos para que possamos alimentar essa esperança”.

Pedro Nuno Santos admite que “há muita coisa que ainda não corre” como o Governo gostaria, pegando no exemplo das pensões: “Ainda são baixas e continuaremos a aumentá-las, não o que gostaríamos, mas temos conseguido aumentar”. Isto para dizer que a ideia do Executivo “não é dar nada a ninguém mas respeitar quem trabalhou a vida toda”. Argumento semelhante ao que usa para o salário mínimo que acabou por afirmar ficar nos 600 euros no próximo ano.

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Ainda há 15 dias, Catarina Martins defendeu que “o aumento do salário mínimo nacional pode ir bem além dos 600 euros em 2019”, bem como o PCP que entregou até um projeto de resolução no Parlamento para pressionar o Governo a fixar o salário mínimo nacional nos 650 euros já no próximo ano.

No almoço, integrado no ciclo dos “Animados Almoços”, uma parceria da rede social Ânimo (dinamizada pelo ex-assessor do PS e artista plástico António Colaço) e a Associação 25 de abril, o governante apontou a habitação como um problema em que “desde o início foram seguidas as políticas erradas”. “Não tivemos Estado naquele que deve ser o quarto pilar do Estado social: o direito à habitação. Ninguém é livre sem direito à habitação digna”, defendeu logo depois de ter apontado o dedo à esquerda na defesa dos valores de abril.

“Muitos de nós, à esquerda, também aderimos ao individualismo”, disse quando se queixou de “a direita se ter apropriado da palavra liberdade”. “O motor do desenvolvimento tem sido cada vez mais a competição, mas cada vez mais temos de responder com cooperação”, argumentou aquele que no último congresso do PS se posicionou como o rosto da ala esquerda do PS.

Pedro Nuno Santos é também o coordenador da “geringonça” na Assembleia da República, uma expressão de que gosta pouco, uma vez que a “solução não se tem revelado precária”. No debate deixou claro que é neste modelo governativo que se sente bem: “O PS pode um dia governar com a direita, mas não será comigo”. O socialista defendeu que prefere ver o seu partido a trabalhar “com outros partidos com quem partilha uma ideia de sociedade” e garante que “o PS não está refém da direita”.

Quanto a fasquias eleitorais, aproveitou a deixa de Vasco Lourenço (presidente da Associação 25 de Abril) que tinha dito, na introdução ao almoço, que esperava que nas legislativas “o partido mais votado seja o PS. Mas faço votos que o PS não tenha maioria absoluta”, disse também. Na resposta, Pedro Nuno Santos ficou-se pela fasquia mínima, pedindo “o melhor resultado possível” para o PS.  Foi pela indicação do líder, António Costa, que já fixou como máxima nesta matéria que as “maiorias absolutas não se pedem, ou se têm ou não se têm”.