Não é um percurso desportivo perfeito mas pouco falta para isso: ao fim de 13 encontros oficiais, o PSG conquistou a Supertaça com uma goleada frente ao Mónaco (4-0); soma por vitórias os dez jogos feitos na Ligue 1 (e com isso está a um triunfo de igualar o registo do Tottenham em 1960/61, que continua a ser o recorde do melhor início de sempre numa das cinco principais ligas europeias) com 37 golos marcados e seis sofridos; e somou apenas um desaire no arranque da Liga dos Campeões, perdendo no último minuto na deslocação a Liverpool antes da goleada frente ao Estrela Vermelha na segunda ronda da prova. No entanto, sucesso desportivo à parte, nem tudo vai bem no Parques dos Príncipes. Longe disso.
O L’Équipe faz capa esta terça-feira com o braço de ferro entre Antero Henrique, diretor desportivo do PSG, e o treinador que rendeu esta temporada Unai Emery, Thomas Tuchel. Não é propriamente novidade que nem tudo são rosas na estrutura dos campeões franceses mas a situação tem ficado cada vez mais complicada, com cada um dos responsáveis a tentar alargar a sua zona de influência e com o nome de Arsène Wenger a começar a surgir nas cogitações do conjunto francês.
Paris et Lyon en Une de L'Équipe ce mardi 23 octobre 2018.
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O primeiro grande choque entre o português e o alemão terá acontecido no final do mercado de Verão, gorada que ficou a hipótese de haver uma última contratação para o meio-campo defensivo, uma das exigências de Tuchel. Olhando para todas as operações do PSG nessa janela, onde já havia 135 milhões de euros “contratualizados” para fechar de vez a compra do passe do Kylian Mbappé (uma manobra que o clube fez para tentar respeitar as regras do fair-play financeiro), os franceses investiram 37 milhões num central (Thilo Kehrer), cinco milhões no lateral esquerdo ex-Bayern Bernat e conseguiram a “custo zero” – a que se tem sempre de somar prémios de assinatura, que não costumam ser baixos – Gianluigi Buffon e Choupo-Moting. Para equilibrar a balança financeira, Gonçalo Guedes, Javier Pastore, Berchiche, Edouard e Ikoné foram vendidos, ao passo que Lo Celson e Krychowiak acabaram cedidos por empréstimo. O saldo ficou negativo, por 70 milhões de euros.
Antero, um português no PSG: cinco línguas, a agenda XXL e um plano para levar Neymar
No final da única derrota da época até ao momento, com um golo de Firmino aos 90′, Thiago Silva manifestou também esse desagrado pela falta dessa tal unidade de meio-campo. “O que estavam a fazer o Marquinhos, o Rabiot e o Di María naquela zona? Não sei, perguntem ao Antero Henrique”, atirou o central e capitão, num jogo onde Verratti cumpria castigo. Já antes, Uli Hoeness, presidente do Bayern, tinha criticado publicamente o antigo responsável do FC Porto. “Aconselhava o PSG a despedir o seu diretor desportivo porque esse homem não é uma boa carta de apresentação para a equipa. Se o PSG quer ser um clube de top mundial, não pode ter um diretor como este”, disse, referindo-se às negociações (goradas) por Boateng.
Agora, essa espécie de guerra fria estará centrada na ocupação de uma vaga no departamento médico: Tuchel terá tentado levar para o cargo um elemento que trabalho consigo no Borussia Dortmund mas Antero prefere um português de confiança, tentando alargar uma influência que já conta com o team manager (Joaquim Teixeira), diretor de recrutamento (João Luís Afonso) e diretor técnico para a formação (Paulo Noga). Tudo cargos que o alemão também gostaria de ter debaixo da sua alçada.
É aqui que entra o nome de Wenger. Tuchel conheceu o treinador francês este ano e a relação entre ambos tem vindo a ficar mais próxima, ao ponto de haver responsáveis já defendem que, no final da temporada, deveria haver uma reorganização de todo o modelo do futebol do PSG com o antigo técnico do Arsenal a ocupar uma posição logo abaixo dos donos do clube e sem Antero Henrique. No entanto, Nasser Al-Khelaïfi não esquece os dois objetivos alcançados pelo português na última temporada e que muitos consideravam impossível: contratar Neymar e Mbappé. Com outro dado: foi o proprietário do clube que insistiu na contratação de Antero… e de Tuchel. E é por isso que, segundo a publicação, Al-Khelaïfi, Maxwell (diretor adjunto para o futebol) e Jean-Claude Blanc (diretor executivo) surgem como “árbitros” no duelo.
Ao longo do dia, o PSG, que prepara a receção ao Nápoles a contar para a terceira jornada da Liga dos Campeões, não tomou qualquer posição oficial sobre a capa do principal jornal desportivo francês. Ainda assim, existem três aspetos que terão um peso decisivo na resolução do conflito aberto no clube: por um lado, os resultados dos dois jogos com o Nápoles – muito importantes para o futuro da equipa na Champions – e a deslocação a Marselha, para a Ligue 1; por outro, o desempenho que o clube consiga na reabertura de mercado, em janeiro, onde voltará a existir a oportunidade de equilibrar o plantel; por fim, o desempenho financeiro do futebol dos parisienses, nomeadamente o cumprimento do fair-play financeiro exigido pela UEFA.