Assim que o viu, Lindsey percebeu logo que algo de estranho se passava. Estava perto da pista de dança do Borderline Bar & Grill, o restaurante onde Ian David Long entrou com uma arma Glock 21 de calibre 45, começando de imediato a disparar sobre quem lá estava — a maioria jovens universitários. Lindsay conseguiu sobreviver porque se refugiou no sótão.

“Estava perto da pista de dança quando o homem entrou. Percebi imediatamente o que ele ia fazer. Deitei-me no chão e corri para a cozinha”, conta à CNN. “Alguns dos funcionários do bar gritaram-me para apanhar a escada e subir para o sótão. Achei uma boa ideia e foi isso, claramente, que me salvou a vida. O meu namorado levantou-me para me ajudar a entrar e ficámos ali uma hora, até a polícia chegar”, conta.

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Questionada sobre como percebeu as intenções do atirador, a jovem conta que esteve “rodeada de armas” durante a maior parte da sua infância. “Conheci o som imediatamente e, num cenário daqueles, não é algo que esperamos ouvir. Por isso, assim que o primeiro tiro soou, deitei-me logo no chão e depois corri para a cozinha”.

A prova de que o raio pode cair duas vezes no mesmo lugar

Alguns dos jovens que estavam Borderline Bar & Grill já sabiam o que era sobreviver a um tiroteio. Estiveram no concerto de música country, em Las Vegas, a 1 de outubro do ano passado, quando um atirador fez 58 mortos e 500 feridos. Menos de um ano depois, o cenário repetiu-se.

Brendan Kelly foi um desses jovens. Em entrevista à ABC, contou que era habitual deslocar-se aquele bar — fazia-o duas a três vezes por semana. “É muito perto de casa. O Borderline era o nosso espaço seguro, era a nossa casa, pelo menos para os 30 ou 45 de nós que são do Condado de Ventura. Era o lugar para onde íamos durante a semana, três noites seguidas para estarmos uns com os outros”.

Brendan estava no bar há cerca de 45 minutos quando ouviu os primeiros tiros — e exemplifica o som: “Pop, pop”. O jovem, que é militar, percebeu de imediato do que se tratava. “Sei o que aquele som significa, especialmente num espaço fechado. Peguei em todas as pessoas que pude à minha volta e atirei-as para o chão, tentando ver de onde vinha aquele som. Assim que identifiquei onde estava o alvo ou onde estava a ameaça, agarrei pelo menos duas pessoas à minha volta para a saída mais próxima, que era atrás de mim”, disse.

Mas não parou por aí. Assim que começaram a sair mais sobreviventes do bar, alguns feridos, Brendan correu para ajudar e chegou a tirar o cinto para estancar o ferimento no braço de um amigo. “Quis ajudar o melhor que podia. Pensar menos e fazer mais. Naquela altura, não há tempo para emoções, tens de agir porque a vida das pessoas está em risco. Ajudar as pessoas a sair não é algo para que tenha sido treinado, é algo para o qual fui criado pela minha família”, explica.

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Em seguida, veio o telefonema que não queria fazer… novamente. “Saí de perto das pessoas com quem estava e peguei no telefone. Liguei para a minha mãe, ela não atendeu, então liguei para o meu pai e disse-lhe: ‘Olá pai, passa-se qualquer coisa, mas estou a salvo. Ligo-te de volta quando puder'”.

Neste caso, o raio caiu mesmo duas vezes no mesmo lugar. Mas não há espaço para indignação — apenas gratidão. “Deus protegeu-me naquela noite de 1 de outubro e também na noite passada. Podia facilmente ter sido atingido se estivesse junto à porta principal. Tem tudo a ver com o sítio do bar onde estamos”, defende. “Estou muito grato por estar aqui sentado contigo hoje”, remata para o jornalista.