O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, frisou este sábado em Paris que o reforço da defesa da União Europeia (UE) é complementar à NATO, e não se traduz na criação de um exército europeu.

“Portugal entende que é importante um empenho crescente dos europeus em matéria de defesa e segurança, indissociável dos compromissos assumidos com os nossos aliados transatlânticos, nomeadamente os Estados Unidos da América e o Canadá”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, em resposta a uma pergunta sobre a polémica entre os presidentes de França, Emmanuel Macron, e dos Estados Unidos, Donald Trump.

“Ficou claro no debate parlamentar [em Portugal] que não se trata de um exército europeu, trata-se, sim, de um reforço do empenho, e um empenho que é complementar daquele que é traduzido pela Aliança Atlântica dos europeus no cenário europeu e nos cenários vizinhos”, acrescentou, em declarações aos jornalistas portugueses à margem da visita à exposição “Portugal e a Grande Guerra”.

O Presidente frisou que esta é uma “matéria que já foi debatida no Parlamento português” e em que “há uma posição consensualmente aceite e apresentada a nível europeu”.

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Questionado sobre se Portugal e a França têm posições diferentes, Marcelo recusou comentar o que diz o Presidente francês, insistindo: “Eu só estou a dizer qual é que é a posição portuguesa, a posição portuguesa é que não se trata de um exército europeu. Isso ficou claro no debate da Assembleia da República”.

O parlamento aprovou, em dezembro do ano passado, três resoluções, do PS, PSD e CDS, a recomendar a adesão de Portugal à cooperação estruturada permanente de defesa e segurança (PESCO, na sigla original), formalizada por Bruxelas a 11 de dezembro de 2018, e explicitando a recusa de que este mecanismo evolua para a criação de um exército europeu.

A polémica entre Trump e Macron estalou na sexta-feira à noite, depois de o Presidente norte-americano, reagindo a declarações do homólogo francês à rádio Europa 1 defendendo a criação de um “exército europeu”, escrever uma mensagem na rede social Twitter, em que considerava a posição de Macron como “muito insultuosa” e alegava que a Europa queria proteger-se dos Estados Unidos.

Já hoje, Macron afirmou que o “exército europeu” que defende não tem como alvo os Estados Unidos e aludiu a uma “confusão” na interpretação que desencadeou a crítica de Donald Trump.

Marcelo quer “Europa de paz e de esperança”

O Presidente português disse também que “Portugal não depende da presença alheia” para construir a paz, aludindo à ausência do chefe de Estado norte-americano do Fórum da Paz, que integra as comemorações dos 100 anos do Armistício.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas em Paris, onde decorrem as comemorações do centésimo aniversário do Armistício, entre sábado e domingo, cujo programa inclui a realização do Fórum da Paz, que vai reunir vários líderes mundiais na procura de soluções para promover a paz no mundo, mas que não contará com a participação do Presidente dos EUA, Donald Trump.

Questionado sobre a ausência de Trump, o Presidente afirmou que Portugal não depende de outros países para construir a paz.

“Portugal está comprometido na construção da paz e está com muitos dos seus aliados, não é possível estar com todos. Portugal não depende da presença alheia para fazer aquilo que tem de fazer”, disse o chefe de Estado, durante uma visita ao consulado-geral de Portugal em Paris, onde está patente uma exposição sobre a Primeira Guerra Mundial .

O Presidente referiu ainda que Portugal “é uma plataforma entre culturas, construtura de paz, criadora de pontes”, acrescentando que “não é por acaso que o secretário-geral das Nações Unidas é um português”.

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que as celebrações não são apenas “uma romagem de saudade e de homenagem”, mas também “uma vontade de construir uma Europa diferente”.

“Há uma romagem de saudade e de homenagem e ao mesmo tempo uma vontade e construir uma Europa diferente, uma Europa de paz e de esperança”, disse o Presidente.

O Presidente evocou ainda os “muitos” portugueses que morreram em França para defender “uma Europa aberta, uma Europa sem guerra, nem ódios”.

“Os quatro anos [2014-2018] que correspondem ao centenário da Grande Guerra foram intensamente vividos porque aqui foram intensamente vividos aqueles anos, com mais de 50.000 militares portugueses que tiveram um papel fundamental, em situação muito difícil, às vezes dramática, defendendo não apenas a França, a posição de uma aliança em que Portugal se integrava, mas uma Europa aberta, uma Europa sem guerra, nem ódios. Uma guerra que deu origem à paz e muitos [portugueses] aqui ficaram”, afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou também as exposições de Paula Rego, no Museu de l’Orangerie, e a exposição de Rui Chafes e Giacometti, na Fundação Calouste Gulbenkian.