O julgamento de Joaquin “El Chapo” Guzmán, considerado o traficante de droga mais poderoso do mundo desde a morte de Pablo Escobar em 1993, continua no Tribunal Federal de Brooklyn. Desta vez, a vida gravada de ‘El Chapo’ e dos que o rodeavam foi um dos assuntos que dominaram na sala principal do tribunal.

De acordo com o The Guardian, Guzmán utilizou o seu próprio sistema de cibersegurança para espiar as suas “quatro ou cinco mulheres”. O problema: o FBI sabia disto e utilizou o sistema a seu favor através de um agente disfarçado, Charles Stephen Marston, e um homem que recrutou dentro do cartel de Sinaloa, Cristian Rodríguez, que era também o principal técnico de tecnologia do cartel.

Stephen Marston, um agente infiltrado do FBI, contou em tribunal que para entrar no “sofisticado sistema de comunicação” teve de organizar uma falsa reunião entre traficantes num hotel em Manhattan, em 2010, onde Rodríguez aceitou colaborar, sem saber que estaria a ajudar as autoridades, revelando as passwords para o sistema que Guzmán instalou nos telemóveis dos seus parceiros e das suas mulheres. A partir daí, o FBI passou a ter acesso ao que ‘El Chapo’ dizia e fazia, tendo sido intercetadas cerca de 1.500 chamadas telefónicas.

As mensagens agora reveladas mostram que o narcotraficante mandou instalar um sistema de espionagem nos telemóveis de Emma Coronel, a sua mulher, e de Agustina Cabanillas, uma das suas amantes. Numa das mensagens lidas em tribunal, ‘El Chapo’ explica à esposa como deve fazer para fugir às autoridades, revelando os detalhes de uma fuga que ele próprio teve de fazer por uma janela. “Ai amor, isso é horrível”, respondeu Emma Coronel.

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Outra das chamadas que foi intercetada entre o casal quando falava sobre uma das filhas do narcotraficante, Maria Joaquina, de um ano e meio, onde ‘El Chapo’ contava os planos que tinha: “A nossa Kiki é destemida. Vou dar-lhe uma AK-47 para que possa estar comigo“. Já com uma das amantes, Agustina Cabanillas, foram lidas em tribunal mensagens trocadas entre os dois, mas também conversas em que esta dizia a outra pessoa que ‘El Chapo’ era “parvo” e que ela era “mais inteligente do que ele”.

Há também uma conversa com um gerente de um cartel e um agente chamado “Cholo Iván”, onde Guzmán pede para adiar o assassinato de pessoas que o agente sequestrou, de forma a garantir que não executava “pessoas inocentes”. Iván foi também repreendido por bater nos polícias: “Não andes a descarregar nos polícias, eles são os que ajudam. Acalma-te com eles”, disse ‘El Chapo’ na chamada.

‘El Chapo’, considerado o traficante de droga mais poderoso do mundo desde a morte de Pablo Escobar em 1993, é suspeito de ter traficado para os EUA cerca de 200 toneladas de cocaína e outras drogas ao longo de três décadas. O julgamento decorre no Tribunal de Brooklyn, em Nova Iorque, depois de, em 2016, o governo mexicano ter conseguido a extradição do barão da droga para os EUA.

O transporte da droga, os subornos, os luxos milionários e o sexo com menores. O que o “julgamento do século” desvendou sobre El Chapo