2019 não está a ser um bom ano para o Podemos. Embora ainda mal tenha começado e o mês de janeiro ainda não tenha chegado ao fim, a verdade é que 2019 já está a ser um ano de várias provas para o Podemos.
Afastado dos holofotes por estar de licença de paternidade, o líder do Podemos tem visto o seu partido envolto numa nova guerra civil; a mãos com demissões de alguns dos seus líderes mais conhecidos e uma condenação de um militante de topo. Para coroar tudo isto, uma queda contínua nas sondagens.
A partida de Iñigo, antigo amigo (e rival) de Pablo Iglesias
O primeiro golpe foi o culminar de uma longa guerra dentro do Podemos. Iñigo Errejón, ex-porta-voz do partido e homem que desafiou Pablo Iglesias em eleições internas no final de 2017, foi pelas costas de Pablo Iglesias juntar-se às listas de Manuela Carmena em Madrid. Esta ex-juíza foi eleita presidente da câmara de Madrid em 2015 numas listas onde também estava o Podemos — mas este novembro Manuela Carmena disse que não ia contar com o Podemos para as próximas eleições, marcadas para maio.
Porém, Iñigo Errejón acabou por juntar-se-lhe, abrindo uma nova ferida no Podemos. Pablo Iglesias fez um interrupção na sua licença de paternidade para dizer que tinha ficado “tocado e triste” por esta “manobra” e acrescentou que os militantes do Podemos “merecem mais respeito”. Numa gravação apenas de som, contou como ficou a saber da notícia: “Esta manhã, Iñigo Errejón ligou-me para me informar que vai começar um novo projeto político pessoal ao lado de Manuela Carmena, com uma nova marca eleitoral. Poucos minutos depois da chamada, a carta de Manuela e de Iñigo estava em todos os meios de comunicação e nas redes sociais”.
No dia 21 de janeiro, após o prolongar do mal-estar por esta cisão de Iñigo Errejón, o próprio acabou por abdicar do seu assento parlamentar.
Este domingo, em entrevista ao El País, Iñigo Errejón, rejeitou a sua saída dos órgãos do partido — garantiu que vai à reunião do Conselho Cidadão Estatal do Podemos a 2 de fevereiro, sublinhando: “Sou membro fundado do Podemos”. Mas deixou ainda assim críticas ao atual momento daquela força política de esquerda populista.
“Fiz o que o partido que fundei me ensinou. Quando as coisas não estão bem, [é preciso entender que] as pessoas valem mais do que os partidos e há que fazer uma abertura. Foi o que fizemos nas europeias, foi o que fizemos nas municipais e foi o que nos levou às primeiras autarquias do país”, disse.
Mais à frente, sublinhou que “a imensa maioria da cidadania democrática e progressista estava entre o desânimo e a orfandade”. Num plano mais pessoal, referiu que a amizade entre os dois “já não se mantém [nos mesmos termos]” e que agora “as coisas mudaram”.
Acabo de presentar mi dimisión en los órganos de Podemos.
Muchas gracias por todo. pic.twitter.com/nrWmuzHbhj
— Ramón Espinar ???????? (@RamonEspinar) January 25, 2019
O processo causou mal-estar no partido, que acabou por afirmar que vai avançar com a sua própria candidatura à câmara de Madrid, levando a uma possível fragmentação das esquerdas na capital espanhola. Mais fragmentado fica ainda assim o Podemos, que viu o seu secretário-geral em Madrid, Ramón Espinar, demitir-se de todas as funções. “Na situação atual, não há condições para levar o projeto do Podemos em Madrid até onde eu creio que ele deve ir. Nestas circunstâncias, afastar-me é a decisão mais responsável e que, em consciência, creio que devo tomar”, disse aquele ex-dirigente.
Echenique, o secretário que pagava por baixo da mesa ao assistente
Outro caso a atingir o Podemos no pior mês da sua existência foi o de Pablo Echenique, secretário do partido, que foi condenado por ter pagado os serviços de um assistente pessoal por baixo da mesa, deixando dessa forma uma dívida à Segurança Social.
Pablo Echenique, que é deficiente motor e vive numa cadeira de rodas elétrica, já tinha sido condenado em 2017 por este crime, mas na altura recorreu. Agora, a condenação foi confirmda e o secretário do Podemos foi obrigado a pagar uma multa de mil euros.
A infração aconeceu entre setembro de 2011 e junho e 2012 e também entre março de 2015 até abril de 2016. A multa diz respeito apenas ao segundo período, uma vez que o primeiro já prescreveu.
https://twitter.com/pnique/status/1087683724517539843?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1087683724517539843&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.elespanol.com%2Fespana%2Ftribunales%2F20190122%2Fjueza-ratifica-sancion-echenique-contratacion-irregular-asistente%2F370463392_0.html
Tal como já tinha feito em 2017, o político do Podemos recusou qualquer culpa após a sentença. Referindo que tanto na lei estatal da dependência, além da lei regional de Aragão, os assistentes “podem funcionar como trabalhadores independentes ” — o que colocaria nesses trabalhadores a responsabilidade de pagar a Segurança Social —, o político do POdemos disse que “a sentença não tem em conta esta legislação e pode afetar milhares de famílias”. E, por isso, acrescentou que vai novamente recorrer.
A queda nas sondagens
Tudo isto acontece ao mesmo tempo que as sondagens apontam para uma queda de popularidade do Unidos Podemos, coligação que juntou nas eleições de 2015 e 2016 a Esquerda Unida e o Podemos, e onde o partido de Pablo Iglesias atua em predominância.
Nas eleições de junho de 2016, o Unidos Podemos conquistou o melhor resultado da sua curta história, ao chegar aos 21,2% dos votos. Porém, nos últimos tempos, em que o Podemos tem sido essencial na viabilização do governo minoritário do PSOE, de Pedro Sánchez, aquela coligação surge com cada vez piores resultados nas sondagens — e a queda entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019 é notoriamente abrupta.
Na sondagem da GAD3, o Unidos Podemos desceu naquele período de 14,2% para 11,6%. No Invymark, desce de 15,2% para 14,4%. Na Mestroscopia, reduziu de 17,9% para 17,1%.