O homem, devidamente agasalhado, decidiu usar uma pá para limpar a neve em frente da garagem de sua casa e caiu. Foi encontrado congelado no chão da garagem, ainda com a pá na mão, conta o The New York Times. O morador de Milwaukee é uma das 20 pessoas que morreram em seis estados nos EUA devido à vaga de frio histórica que se está a fazer sentir na zona centro-norte do país, o chamado “Midwest”, avança a Reuters.
“Quando o encontrei estava morto no chão, obviamente, devido ao frio”, contou à People um responsável médico do Milwaukee. Ainda estava vivo, mas inconsciente. Contudo, por estar congelado, não sobreviveu. Não se sabe quanto tempo esteve no exterior.
Gerard Belz, de 18 anos, também morreu na rua. Foi encontrado congelado no campus da Universidade de Iowa, perto da residência universitária, inconsciente. No primeiro ano do curso, tinha ficado na universidade a pedido do pai que não queria que ele arriscasse conduzir com as baixas temperaturas, que têm causado, principalmente, acidentes nas estradas norte-americanas. O estudante tinha como objetivo ingressar nos estudos de medicina e é recordado pelo amigos como “um irmão mais novo”.
Aparentemente, nem Gerard nem o homem de Milwaukee seguiram os conselhos das autoridades norte-americanas: não sair de casa, dentro do possível, não respirar fundo no exterior, não andar na rua sobretudo ao anoitecer e durante a madrugada e ter muito cuidado com o terreno que pisam. Um dos maiores perigos nestes dias gelados são as quedas em piso escorregadio. E, claro vestir-se a rigor para as temperaturas negativas que têm batido todos os recordes: -30ª e a sensação térmica chegou aos -50º. Os avisos à população sublinham que estar sem luvas por apenas um ou dois minutos pode levar ao congelamento dos dedos. Num só hospital em Chicago, por exemplo, entraram 25 pessoas congeladas, conta à Global News o médico Stathis Poulakidas. Os casos mais severos fizeram com que se tivesse de amputar os dedos das mãos e dos pés a alguns pacientes.
Em risco estão principalmente os sem-abrigo e desajolados. “Não há maneira de sobreviverem muito tempo com este tempo se não estiverem perto de uma fonte de calor”, afirmou ao mesmo meio um responsável de uma casa mortuária do estado do Ohio. Não admira pois, que muitos sem-abrigo tenham pedido dinheiro para passarem a noite em motéis.
Anónimo solidário aloja 70 sem-abrigo num hotel em Chicago para se protegerem do frio
O cão e o dono que foram salvos de um lago gelado em Chicago
Não só as pessoas que sofrem com o frio. Os animais também e há relatos de salvamentos impressionantes, como a história dos polícias de Chicago que resgataram um cão e o dono do lago Michigan. Pika, o cachorro, foi recentemente adotado. “Tinha levado o meu cão, o Pika, ao parque Lincoln. Visito o parque há muitos anos com todo o tipo de condições meteorológicas e já o fazia com o meu antigo cão, o Bowser. Era a primeira visita do Pika ao parque”, conta o homem. “Ele estava muito entusiasmado e começou a correr em direção à praia e caiu na água”, continua. “Fui a correr atrás dele e saltei”, diz ainda. O que aconteceu a seguir está no vídeo. O homem ficou preso no lago gelado, mesmo só tendo água pela cintura. As mãos não conseguiam agarrar-se a nenhuma superfície porque tudo estava escorregadio. Uma pessoa que passeava junto à margem viu o cão e o dono em pânico e chamou as autoridades. Já a salvo, o morador de Chicago conta que, em sete anos, tinha visto muitas vezes paredes geladas na costa do lago Michigan, mas nada como o que estas temperaturas criaram.
[As imagens do salvamento foram captadas em vídeo e partilhadas no YouTube]
O homem pediu para permanecer anónimo e agradeceu numa carta enviada à Chicago Police: “Obrigado aos polícias de Chicago e às autoridades que nos foram salvar. Vou estar-vos eternamente agradecido”, escreveu . A história teve um final feliz e, no Twitter, a polícia de Chicago partilhou uma imagem do Pika já recuperado.
Chicago Police rescued a man on Sunday who jumped into Lake Michigan to save his 19-lb dog, Pika. Both the man and the dog are doing well. See body camera footage of the rescue by following the link below #ChicagoPolice #CPD https://t.co/W5saE9B5nT pic.twitter.com/Z4RCFgxv3V
— Chicago Police (@Chicago_Police) January 28, 2019
Mas nem todos os casos terminam bem, como aconteceu com uma zebra, no Indiana, que ficou com os pulmões congelados depois de ficar presa numa vedação. O animal estava numa quinta privada perto da cidade de Delphi.
Vários estados dos EUA declararam situação de emergência até ao final de quinta-feira. Escolas fechadas, entregas de correios suspensas, voos cancelados e, até, carris de caminhos de ferro incendiados para garantir que as linhas se mantêm em condições de permitir viagens de comboio.
Além dos alertas para quem anda no exterior, as autoridades estão a avisar os senhorios das casas que estes podem enfrentar multas de 500 dólares por dia caso não assegurem que os sistemas de aquecimento estão a funcionar adequadamente nas casas onde vivem os seus inquilinos. No Milwaukee uma mulher foi encontrada congelada no apartamento devido a uma avaria no termóstato do sistema de aquecimento.
Como conta a CNN, em alguns estados está “mais frio do que no Alasca”, o território americano mais próximo do pólo Norte. Ao todo, mais de 216 milhões de americanos foram afetados por estas temperaturas. Ao longo desta sexta-feira, espera-se que os termómetros comecem a aumentar, trazendo condições mais amenas. “Hoje é o último dia do frio extremo”, afirmaram esta quinta-feira meteorologistas ao mesmo meio.
Destas 20 mortes, a maioria — oito –, foram no Iowa, devido a acidentes rodoviários. A neve na estrada e o gelo levaram a que mais norte-americanos morressem na estrada também nos estados do Illinois, Michigan, Minnesota, Indiana e no Wisconsin.
Segundo o Chicago Tribune, as temperaturas estiveram muito próximas mas não atingiram os mínimos históricos que foram registados em janeiro de 1985. Um meteorologista citado pelo jornal, Matt Friedlein, comentou que apesar de ser possível que as temperaturas voltem a baixar um pouco mais, não é provável que baixem o suficiente para quebrar o recorde.
A principal causa apontada para esta vaga de frio é uma massa de ar gelada que deveria estar acima do Pólo Norte e que se encontra, anormalmente, em latitudes mais baixas, trazendo o clima do Ártico para os Estados Unidos. Os cientistas apelidam-na de “vórtice polar” e, segundo o New York Times, estes eventos climáticos têm-se tornado frequentes nos últimos anos.
Veja na fotogaleria acima as imagens da vaga de frio histórica que está a afetar os EUA, e que ainda deverá continuar mais alguns dias. A expectativa dos meteorologistas é que a partir de domingo as temperaturas possam aproximar-se do que é mais habitual para esta altura do ano, embora com temperaturas mínimas claramente abaixo de zero.
*Em atualização