A Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM) vai dar início, em 2019, à publicação da obra de Mário Soares, que começou a ser organizada no ano passado por um grupo de conhecedores e personalidades próximas do antigo Presidente e primeiro-ministro português. A novidade foi anunciada esta quinta-feira durante a apresentação dos novos lançamentos da editora, na Biblioteca da Imprensa Nacional, no Príncipe Real, em Lisboa.

Duarte Azinheira, diretor editorial, explicou que este se trata de “projeto muito ambicioso e complicado do ponto de vista editorial” porque, ao contrário do que acontece com outros autores, os títulos não estão fixados”. “Há um enorme arquivo e foi necessário ter uma equipa a investigar”, disse. É esta “que está a ajudar a fixar o plano de publicações”, um trabalho que vai continuar a fazer “nos próximos anos”.

A coleção está a coordenada por José Manuel dos Santos e irá começar com As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, trabalho que tem por base a dissertação de licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas que Soares apresentou na Faculdade de Letras de Lisboa. A edição, fac-similada, irá reproduzir o exemplar oferecido a António Sérgio, com todas as anotações que este fez à margem. A este título, o volume número zero porque é “uma espécie de aperitivo”, seguir-se-á o primeiro de Correspondência Cultural, já fruto do trabalho dos investigadores, que irá mostrar como o antigo Presidente se correspondia com “toda a gente”. Até com Herberto Hélder.

Imprensa Nacional aposta na reedição de autores portugueses pouco conhecidos

A publicação das obras completas de autores portugueses será uma das grandes apostas da editora para 2019. A par dos primeiros volumes com textos de Mário Soares, a INCM vai dar início em 2019 à edição de escritores como Manuel Teixeira Gomes, Maria Ondina Braga ou Francisco Teixeira Queirós, cujas obras são difíceis ou impossíveis de encontrar no mercado editorial português.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A coleção de Manuel Teixeira Gomes, já antes iniciada e que agora vai ser retomada, coordenada por Nuno Júdice e José Alberto Quaresma (autor de uma biografia do escritor publicada pela editora em 2016) vai recomeçar com as obras Inventário de Junho. Cartas sem Moral Nenhuma. Agosto Azul, reunidas num só volume que irá incluir também a peça de teatro Sabina Freire, escrita pelo autor e político, que ocupou o cargo de Presidente da República entre 1923 e 1925, em 1905.

Maria Ondina Braga, considerada uma das narradoras portuguesas da contemporaneidade, começará a ser publicada apenas no segundo semestre do ano numa parceria com a Universidade do Minho e a Câmara Municipal de Braga, localidade de onde era originária. O primeiro livro da coleção coordenada por Isabel Cristina Mateus e Cândido Oliveira Martins, um projeto que levará três anos, será Autobiografias Ficcionais: Estátua de Sal; Passagem do Cabo; Vidas Vencidas.

Francisco Teixeira Queirós foi muita coisa. Médico, deputado, vereador republicano, Ministro dos Negócios Estrangeiros, presidente da Academia de Ciências de Lisboa, foi ainda um romancista ímpar, cuja obra, que começou por assinar com o pseudónimo Bento Moreno, foi comparada à de Eça de Queirós, seu contemporâneo, por António José Saraiva e Óscar Lopes. Apesar de muito conhecido no seu tempo, Queirós caiu no esquecimento e os seus livros são hoje muito difíceis de encontrar. Uma realidade que a INCM pretende mudar com a publicação da sua obra completa, a cargo de Manuel Curado, Ana Lúcia Curado e Patrícia Gomes Leal. O primeiro volume, Os Meus Primeiros Contos, foi publicado pela primeira vez em 1876 e faz parte da série Comédia do Campo. Vai estar disponível muito em breve.

É também neste sentido que a INCM continuará a publicar a obra completa de Vitorino Nemésio, em parceria com a editora açoriana Companhia das Ilhas. A coleção, coordenada por Luiz Fagundes Duarte, foi iniciada em 2018 com um primeiro volume de poesia.

Para fevereiro está agendado o lançamento do primeiro número da série de Teatro e Ficção, que deveria ter saído antes do Natal. Este inclui as obras Amor Nunca MaisPaço do Milhafre e O Mistério do Paço do Milhafre, sendo que apenas a primeira é uma peça de teatro. As restantes são contos que Nemésio publicou em 1924. Os ensaios Sob os Signos de AgoraConhecimento de Poesia e Elogio Histórico de Júlio Dantas, que compõem um dos quatro volumes que deverão sair este ano, também durante o primeiro semestre.

Depois de vários anos de trabalho, a INCM irá começar a publicar em 2019 A Paleta e o Mundo, o monumental trabalho de Mário Dionísio editado originalmente nos anos 50, com design de Maria Keil. “Este livro tem milhares de imagens que implicaram negociações com várias entidades”, explicou Duarte Azinheira durante a apresentação do plano editorial da Imprensa, esta quinta-feira, adiantando que quando Dionísio o publicou há várias décadas, não teve essa preocupação. A obra teve uma segunda edição em cinco volumes pela Europa-América, mas sem imagens. A da INCM terá dois tomos.

Também no primeiro semestre, vai ser publicado o terceiro e quarto volumes da coleção Biblioteca José-Augusto França — Amadeo de Souza Cardoso, o “Português à Força”, Almada Negreiros, o “Português sem Mestre” e Lisboa Pombalina e o Iluminismo. A coleção foi iniciada no ano passado e, nos oroximos oito ou nove anos, ganhara dois novos livros anualmente.

Já a Biblioteca Eduardo Prado Coelho passará a incluir o livro Crónicas — Política Cultural, uma reunião de textos publicados maioritariamente no Público, entre 1990 e 2006. A edição é da responsabilidade de Margarida Lages e terá um prefácio de António Mega Ferreira.

Primeira edição crítica da Mensagem publicada em fevereiro

Será também na primeira metade do ano que a INCM irá publicar a primeira edição crítica da Mensagem, de Fernando Pessoa. O livro, que venceu o prémio do Secretariado Nacional de Informação em 1934, foi o único publicado pelo poeta. Esta nova edição, que integra a coleção de edições críticas de Pessoa e que deverá estar à venda a partir da próxima semana, irá também incluir poemas publicados em vida pelo autor e será da responsabilidade de Luiz Fagundes Duarte, que coordena as obras completas de Nemésio.

Na coleção de ensaios Pessoana, vão ser acrescentados três novos livros: Os Anos de Vida de Ricardo Reis (1887-1936), de Nuno Amado, O Espólio de Pessoa, de Simone Celani, e Doença Bibliográfica, de João Dionísio.

Ainda na literatura portuguesa, uma das grandes novidades é Manuel Maria Barbosa du Bocage — Uma biografia, de Daniel Pires. Numa colaboração com outra editora, a Cotovia, serão publicadas as Crónicas do Expresso de Nuno Brederode, organizadas por Maria do Céu Guerra e Maria Emília Brederode dos Santos. Para o ano sairá o volume relativo às crónicas publicadas no Diário de Notícias.

Nova coleção sobre Itália vai ter rimas de Michelangelo e obras de Dante

E porque a INCM também se preocupa com a divulgação dos “grandes valores globais do ocidente”, este ano, vai inaugurar a coleção Itália, feita com o apoio do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa e dirigida por António Mega Ferreira. Dedicada a grandes escritores italianos e a “obras que fazem parte do cânone do oriente”, esta irá arrancar com as rimas de Michelangelo Buonarroti e de Guido Cavalcanti, traduzidas por João Ferrão e A. Filipa Santos, respetivamente, vencedores do prémio de tradução Vasco Graça Moura. Devem estar disponíveis no final de março ou, na das hipóteses, em início de abril.

De seguida será publicada a poesia completa de Giuseppe Ungaretti e, a pensar nas comemorações do sétimo centenário do desaparecimento daquele que é considerado o maior poeta da língua italiana em 2021, um volume com Vita Nuova e Rime de Dante Alighieri.

Uma outra nova coleção da INCM será a de ensaio sobre a religião. Coordenada pelo Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, esta pretende preencher um lugar que está vazio em Portugal e ser espaço de reflexão que contribua para a compreensão de diferentes matrizes civilizacionais. “Cá está a Imprensa a cumprir o seu papel”, apontou Duarte Azinheira, revelando que a coleção era para ser dirigida por José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário do Vaticano, que atualmente não tem possibilidade de se ocupar dela.

A Teologia Ficcional de José  Saramago: Aproximações entre o Romance e a Reflexão Teológica, de Marcio Cappelli, que terá um prefácio da autoria de Pilar del Rio, será o livro inaugural. A este seguir-se-ão A Religião no Espaço Público Português, de Helena Vilaça e Maria João Oliveira, e Livro, Texto e Autoridade. Diversificação Religiosa com a Sociedade Bíblica em Portugal (1804-1940), de Rita Mendonça Leite.

A Imprensa Nacional fez anos e agora vai ter uma biografia

A INCM celebrou o seu 250º aniversário a 24 de dezembro passado. Como nessa data “não dá para comemorar coisíssima nenhuma”, as celebrações irão estender-se por 2019. Uma das iniciativas será a publicação de Indústria, Arte e Letras. 250 da Imprensa Nacional, um volume coordenado pela investigadora da Universidade Nova Inês Queiroz que o diretor editorial da INCM garante que será “surpreendente porque a editora tem uma história que se confunde com a do país”. No entanto, a sua “orientação sempre a do serviço público e este livro vai evidenciar isso”, afirmou Duarte Azinheira.

Mas este não será o único título publicado no âmbito dos 250 anos da editora pública. Este ano, será também inaugurada uma coleção dirigida por Ana Paula Avelar que pretende recuperar antigas edições do século XIX sobre viagens portuguesas, acrescidas de novos conteúdos e em parceria com a Sociedade de Geografia de Lisboa. É este o caso de Viagem de Capelo e Ivens pela África (1884-1885) ou De Angola à Contracosta, de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, que contará com os desenhos dos dois cadernos de viagem de Ivens, que serviram de base às gravuras incluídas na primeira edição de 1886. Relação ou Noticia Particular da Infeliz Viagem da Náo de sua Magestade Fidelissima, Nossa Senhora da Ajuda, e S. Pedro de Alcantara, do Rio de Janeiro para a Cidade de Lisboa neste presente anno …, de Elias Alexandre e Silva, cuja primeira impressão ocorreu em 1778.

E por falar em aniversários, o Teatro São Luiz faz 125 anos e também terá um livro dedicado à sua história (numa parceria entre a INCM e a EGEAC). A Casa de Garrett. Património e Arquitetura do Teatro Nacional D. Maria II será igualmente publicado este ano.